Néctar de Srila Bhaktivinoda Thakur

Algumas dicas nectáreas para os devotos, extraídas do Sri Chaitanya Shikshamritam de Srila Bhaktivinoda Thakur

("Atos Virtuosos"):

Determina-se o fruto de desfrute no próximo mundo através do Karma (atos) que o indivíduo executou, de acordo com as regras em relação ao próximo mundo. Aquele que vive em sociedade e pratica boas ações, assegura o céu após a morte, e aquele que pratica más ações, sofrerá no inferno. O nome para boas ações é Punya (mérito religioso) é para as más, Papa (pecado). Quando juntamos as regras para adquirir Punya e as outras para prevenir pecados, formamos as regras em relação ao próximo mundo. Os Varnashrama-Dharmas (deveres rituais prescritos para as respectivas castas e estágios de vida), que serão discutidos para todas as boas ações, são notados como Shraddha (fé) Tamasa (de Tamah, o Guna mais baixo), Rajasa (de Rajah, o segundo Guna) e Sattvika (de Sattva, o Guna superior) conforme a competência do praticante. Essas fés se conduzem por Pravriti (apego a prazeres), ou Nivriti (desapego ao prazer). Os indivíduos de competência inferior adotam o Shraddha de Pravriti. Os de competência média adotam ambos os Shraddhas, enquanto os de competência superior agem somente com o Shraddha de Nivriti . Sempre que houverem regras para a adoração a muitas deidades, nesses atos, as regras prescrevem que somente pessoas Sattvika adorem a Deus . Não há indicações para desfrute com prazer sensual para os Vaishnavas dentro das castas. Eles devem aceitar somente o Karma (atos) que os ajudem a obter o status espiritual transcendental . Outro nome para Karma é gerenciamento da auto-sobrevivência. O Senhor aconselha no Gita a respeito do Karma para quem conhece a verdade real : "Faça o que é favorável à Bhakti e abandone o que é desfavorável".

Consideraremos brevemente as descrições dos Punyas e Papas que surgem perante nós. É muito difícil classificá-los cientificamente. Alguns sábios os dividiram em físicos, mentais, sociais e espirituais. Outros, em físicos, verbais e mentais. Ainda outros, em físicos, sensuais e internos. Na realidade, vimos que essas classificações não são perfeitas em todos os aspectos. Nós dividimos os Punyas em duas classes, natural e relativa. Justiça, bondade, veracidade, caráter puro, comportamento amistoso, franqueza e cordialidade amável são chamados "Punyas naturais". Esses Punyas estão presentes na natureza intrínseca do Jiva e permanecem para sempre como seus ornamentos. O nome Punya deixa de ter efeito quando se torna rude devido à condição do cativeiro material. Todos os outros Punyas são simplesmente relativos, e crescem pela relação do Jiva com a matéria. Eles não são necessários no estágio de auto-realização devocional. Papa (pecado) nunca é natural, ele penetra no Jiva condicionado no cativeiro. Os Papas que se opõem aos Punyas naturais são contrários à natureza. Inveja, injustiça, falsidade, perturbação mental, crueldade, malícia e corrupção são pecados contrários à natureza. Todos os outros pecados são contrários a seus Punyas relativos. Vamos deliberar sobre Papa e Punya brevemente, por isso, não vamos mostrá-los conforme a naturalidade e relatividade. Nós apenas os enumeramos e deliberamos brevemente. Os leitores poderão classificá-los facilmente, com a breve explicação dada aqui.

Há dez tipos de atos de mérito virtuoso (Punya): 1) beneficência (fazer o bem a outros), 2) servir aos superiores, 3) munificência (caridade), 4) hospitalidade, 5) conduta santificada, 6) celebrações festivas, 7) penitências, 8) proteção aos animais, 9) incremento da população universal e 10) probidade. Há dois tipos de beneficência: 1) alívio ao sofrimento dos outros e 2) melhoria da condição de outros. Deve-se praticar o bem a todos na medida do possível e sem distinções entre conhecidos e estranhos. Todos os pesares que nos afligem, também acontecem aos outros. Quando alguma doença me incomoda, quero que outros me ajudem e me livrem do problema. Da mesma forma, devemos nos preocupar profundamente com o alívio dos sofrimentos de outros, como se fossemos nós mesmos. Interesses pessoais podem obstruir isso, mesmo assim, devemos nos esforçar para remover o sofrimento de outros, e pôr nossos interesses pessoais de lado. Temos que nos esforçar para aliviar todos os pesares dos outros, sejam eles físicos, mentais, sociais ou espirituais. Os problemas físicos são doenças, fome etc.; os mentais são ansiedade, inveja, privação, medo etc.; os sociais são impossibilidade de manter a família, incapacidade de prover a educação dos filhos ou casá-los adequadamente, carência de dinheiro ou de pessoal para cremação dos mortos etc.; e os espirituais são dúvidas, ateísmo, desejos pecaminosos etc.. Também devemos nos esforçar para melhorar a condição de vida de outros, do mesmo modo que é nosso dever aliviar seu sofrimento. Devemos tentar melhorar as condições físicas, mentais, sociais e espirituais dos outros, ao máximo, através de dinheiro, ajuda física, bons conselhos, e também devemos ajudar nossos parentes.

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("Determinação dos Males"):

A mesquinhez é muito abominável para um devoto. Há três tipos: (1) mesquinhez de comportamento, (2) mesquinhez de riqueza e (3) mesquinhez de trabalho. Comporte-se com os Vaishnavas, levantando-se para vê-los, e tomando cuidado especial com eles. Comporte-se com os Brahmanas com honra formal e dando-lhes recompensas. Comporte-se com aqueles que tem de sustentar, dando-lhes alimentação e vestimentas adequadas. Tome as coisas dos outros através de pagá-las devidamente. Ajude o rei, pagando seus impostos e taxas. Comporte-se mostrando gratidão àqueles que o beneficiaram, e dê alimento aos pobres, remédios aos doentes, agasalhos para os que sofrem com o frio etc.. Quando todas as pessoas no mundo forem objetos do bom comportamento, se o comportamento adequado for praticado, não surgirá a mesquinhez de comportamento. Se não tiver condições de prover nenhum alívio, será suficiente comportar-se com palavras agradáveis. Comporte-se bem dizendo palavras doces a alguém, dando riqueza a outros e ajudando outros com trabalho. A mesquinhez de comportamento é proibida para os devotos.

A dependência é um grande mal. Há quatro tipos: (1) entregar-se à dor e tristeza, (2) entregar-se a um hábito, (3) entregar-se à intoxicação etc., e (4) entregar-se à superstição.

Existem centenas de causas mundanas para o Jiva vivendo no mundo atual ser dominado por tristeza, dor, ira, medo, avareza e paixão, mas os Vaidha-Bhaktas não devem se render a elas, quando surgirem. Elas causam a dispersão mental e impedem o caminho do cultivo da devoção. Eles devem sempre ter muito cuidado com isso. Dormir de dia ou na manhã, mascar nozes-de-bétel desnecessariamente, comer em horas inauspiciosas, ir à latrina em horas inauspiciosas, deitar em camas macias, comer alimentos fortes etc., no mínimo causam doenças. Devemos aceitar somente as coisas e hábitos essenciais às necessidades básicas da vida, e não devemos nos entregar ao hábito de usar coisas supérfluas. O uso de substâncias intoxicantes causa muito dano, e se entregar a esse hábito torna a devoção impura. Para não falar de bebidas alcoólicas, haxixe, ópio, "charas" e outras preparações do ópio, mesmo fumar tabaco é proibido para os Vaishnavas. Render-se a esse hábitos é contrário às regras dos Vaishnava Shastras. O Jiva que fuma tabaco se torna tão viciado que fica propenso a se juntar com más companhias. Entregar-se à superstição é um grande mal. Submissão à superstição gera a parcialidade. Se existir parcialidade não haverá consideração pela verdade. Usar os sinais Vaishnavas é tido como uma parte de Vaidhi-Bhakti. O cultivo corpóreo a Deus é feito por meio disso. Pensar que o sinal principal de um Vaishnava é superstição, gera a parcialidade na comunidade. Alguns guiados pela parcialidade desconsiderarão Vaishnavas santos que não estão usando esses sinais. De fato, se a associação santa não for obtida na sua própria comunidade, guiados pela superstição, será possível que eles se interessem em obter bons devotos de outras partes? Não será bom se a boa companhia não for obtida. Portanto, entregar-se à superstição é um grande mal. E por outro lado, eles freqüentemente não terão inclinação para alcançar princípios devocionais superiores devido ao confinamento no Varnashrama-Dharma. Às vezes, a malícia que é suicida aparece em seus corações.

É estritamente proibido desprezar outros deuses. Há quatro tipos de deuses: encarnações especiais de Deus, e alguns Jivas dotados com poder e autoridade por Deus. É absolutamente necessário não desprezar as Encarnações. Não há necessidade de argumentar a esse respeito. Jivas inumeráveis estão adorando esses deuses, que receberam o poder e autoridade para governar e proteger o mundo, pela misericórdia de Deus, e são considerados deuses por natureza. Os Vaishnavas não devem desprezá-los por malícia. Adore-os adequadamente e ore pelo benefício da devoção a Sri Krishna. Não devemos desprezar nem mesmo nenhum Jiva. Também devemos honrar as imagens adoradas nos diferentes países, pois essas réplicas são um meio de elevação da devoção dos seus adoradores respectivos. Se você desprezá-las, aumentará sua vaidade, o senso de humildade diminuirá, e seu coração não estará adequado para o cultivo da devoção.

Nunca cause ansiedade a outros Jivas. Matar Jivas para alimentação é um trabalho de crueldade para com o Jiva. Existem muitos trabalhos que causam crueldade aos Jivas, como fazer agitações sobre maus trabalhos de outros, fazer escândalos sobre outros, desavenças, dizer palavras duras, dar falso testemunho, manipular os interesses de outros para seu próprio benefício etc.. Inveja, roubo, desperdício do dinheiro de outros, ferir outros, tentação pela esposa de outro etc., essas são as causas da ansiedade dos Jivas.

Agora, é preciso considerar um pouco sobre as causas da ansiedade dos Jivas. Bondade com todas as criaturas é uma faculdade natural daqueles que recorreram exclusivamente à devoção. A bondade não tem existência separada da devoção. A mesma faculdade conhecida como devoção e amor, quando oferecida a Deus, se torna amizade, bondade ou indiferença, quando aplicada aos Jivas. Esse é um tipo de sentimento incluído na virtude natural dos Jivas. A bondade incluída na virtude eterna do Jiva assume vários nomes, no estágio de liberação é amizade somente, e no cativeiro é amizade, bondade ou indiferença a diferentes objetos. Considerando os Jivas mundanos, a bondade é restrita a seu próprio corpo no estágio inicial, se florescer um pouco, ela se direciona à família, e se florescer um pouco mais ainda, vai para a comunidade, se florescer mais, irá para todos os parentes de seu país, se florescer mais ainda, irá para todos os seres humanos do país, quando desabrocha completamente, ela se transforma num sentimento intenso em relação a todos os Jivas. O que chamamos de patriotismo na língua inglesa [ou portuguesa no caso] é um tipo de sentimento de apego pelos seres humanos do mesmo país. O que chamamos de filantropia também é um sentimento de afeição por todos os seres humanos. Entretanto, os Vaishnavas não devem se confinar na estreiteza desses sentimentos. Eles devem abandonar a propensão de causar ansiedade a qualquer criatura, e abraçar a bondade que é um sentimento embebido do coração, aplicado a todos os Jivas.

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Falar mal dos outros foi descrito como uma ofensa na ciência moral. Se julgarmos o peso comparativo da ofensa, falar mal de pessoas santas é considerado como a ofensa principal nos Bhakti-Shastras que lidam com a Verdade Última. Aqueles que blasfemam pessoas santas nunca promoverão sua devoção, devido à falta de pessoas santas. Da mesma forma como a Lua diminui na quinzena minguante, dia após dia, a faculdade da devoção no coração do Vaishnava diminui, devido a blasfêmia a pessoas santas. Mesmo se o Varnashrama-Dharma for efetuado muito bem, a faculdade da devoção ficará escondida, por falta de pessoas santas, e por cometer a ofensa de blasfemar pessoas santas. Notamos em muitos casos, que pessoas dedicadas ao Varnashrama-Dharma caem de seus Ashramas por terem ofendido ou blasfemado Vaishnavas, e se tornam ateus, e por último alcançam o estágio animal, desprovidos de moral. Portanto, a blasfêmia a pessoas santas deve ser sempre evitada.

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Os aspirantes à devoção devem observar cuidadosamente seus estados pessoais. Eles devem considerar como eram ontem, como estão hoje, e qual progresso fizeram. Observando durante vários dias, se notarem que não houve nenhum progresso segundo o método de evolução acima, deve-se entender que há algum mal oculto ou ofensa que impede o caminho. Deve-se detectar essa ofensa e tentar evitá-la, e a companhia dos devotos vai poder evitá-la. Com o cultivo e suplica constantes a Krishna eles vão se proteger para que essa ofensa não reapareça. Aqueles que não observam esses estágios evolucionários, vão atrasar o seu desenvolvimento por causa do obstáculo não notado. Portanto, ó devotos! Tomem um cuidado especial com isto.

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Processo de Nama-Bhajan

A consciência sobre a característica da verdade transcendental constitui Swarupa-Siddhi. É o conhecimento sobre a verdadeira relação. Quando surge o conhecimento sobre relação, obtém-se Abhidheya na forma do cultivo de Prema e Prayojana, i.e. necessidade de Prema. O Chit-Dhama de Krishna, Chit-Lila de Krishna estão todos inclusos em Prema Tattva, que é a verdade da necessidade. No Prasna Upanishad, decide-se sobre Bhajan do Nome de Deus. O Nome Divino é afirmado como eternamente verdadeiro. O Nome de Krishna é aceito como Sua Manifestação neste mundo. Apesar de Nama consistir de uma combinação de letras, ainda assim é uma Manifestação especial de Krishna. Segundo o fato de que não há distinção entre Nama e Swarupa, Sri Krishna descendeu de Goloka-Vrindavana assumindo a forma de Nama. Assim o Nome de Krishna é a primeira informação com Ele. O Jiva deve portanto aceitar Seu Nama, se desejar obter Krishna. Sri Gopal-Guru Goswami, um dos discípulos mais queridos de Sri Swarupa Damodara Goswami, citou o Agni Purana em seu Harinamamrita-nirnaya, que diz, se alguém pronunciar "Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare" mesmo sem querer, não há dúvida de que vai obter seu objetivo desejado. O Brahmanda Purana diz, se alguém recitar "Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare", vai se livrar de todos os pecados. O maior pregador de Harinama e coletor de Seus dados relevantes é Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu. As palavras Hare Krishna que saem de Seus lábios inundaram o mundo com o vasto oceano de Prema. Sriman Mahaprabhu instruiu as pessoas para adotarem o rosário de Nama:

Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare

que consiste de dezesseis palavras e trinta e duas letras [em Devanagari]. Tudo isto está descrito no Sri Chaitanya Charitamrita e Sri Chaitanya Bhagavata. Sri Gopal-Guru Goswami explicou o significado desses Nomes da seguinte forma:

"Por meio da pronúncia de Hari, remove-se todos os pecados das pessoas de mentalidade pecaminosa. Quando se toca no fogo sem saber, vai se queimar. Quando se pronuncia Harinama, exibe-se a verdade de Deus como "Chit-Ghana-Ananda", i.e. personificação da bem-aventurança sensível eterna e extingue-se "Avidya" que é a raiz do mal. Por isso, chama-se Harinama, ou é Harinama porque expulsa os três tipos de sofrimento de todos os seres sensíveis e insensíveis, ou porque cativa a mente de todo o mundo por meio do ouvir e cantar de Suas boas qualidades transcendentais inerentes, ou porque rouba a mente das pessoas e de todos os Avataras pois sua doçura transcende à doçura e beleza de uma infinidade de cupidos do amor. "Hare" é caso indicativo do termo Hari, ou segundo o Brahmasamhita, Aquela que pode roubar a mente de Hari por causa de Seu amor e afeição inigualáveis se chama "Hara", e se aplica somente à Srimati Radhika, filha do rei Vrishabhanu, e no caso vocativo Ela é "Hare".

Segundo o Agama Shastra, o significado de Krishna é Quem atrai ou Quem cativa. Krishna é derivado da raiz "Krish", i.e. atrair, e com a aplicação do sufixo "Na", indica bem-aventurança suprema. Portanto, Ele é o Grande Atraente, Ele é o Brahman Supremo e a personificação da bem-aventurança eterna. Krishna no caso indicativo é Krishna. Shiva diz no Agama: "Ó deusa! Todos os pecados são retirados com a pronúncia de "Ra", e "Ma" é uma porta fechada que previne a entrada do pecado novamente". Este é o significado de "Rama". Os Puranas também afirmam: "O significado de "Rama" é Aquele que é o Deus do Lila amoroso conjugal e que está sempre ocupado em diversões amorosas com Sua companheira eterna Sri Radha". Portanto, "Rama" indica somente Krishna e ninguém mais. Mostraremos a implicação de cada Nome no curso da discussão sobre Nama-Bhajan.

Os devotos que estão no estágio ascendente de Prema cantam e memorizam séries de "Hare Krishna Nama" fazendo a contagem em contas. Durante a hora do cantar e memorizar, eles cultivam constantemente o Swarupa transcendental, pois sabem o significado do Nama. No curso do cultivo constante, todo o mal é removido bem depressa e o coração se torna puro. Por meio do recitar do semblante de Harinama e da ponderação constante sobre o Seu significado, o Nama transcendental vai aparecer naturalmente no coração puro deles.

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