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"Bhagavad-gita As It Is"

(Original Sem "Correções")

 

 

 

Versão em Português

Visvavandya Dasa

São Paulo - SP - Brasil

(outubro de 2003)

http://nitai.gaura.sites.uol.com.br

http://nitai.gaura.sites.uol.com.br/gita_br.htm

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

 

PRÓLOGO

Srimad Bhagavad-gita Mahatmyam

Um extrato da glorificação ao Bhagavad-gita

A glória do Bhagavad-gita

1. Para começar, presto minhas reverências ao Senhor Supremo Sri Krishna, que aceitou a posição de cocheiro de Arjuna, somente para distribuir a ambrosia do Bhagavad-gita para o beneficio dos três mundos.

2. Quem quiser atravessar o horrível oceano dos sofrimentos materiais pode fazê-lo facilmente por se refugiar no barco do Bhagavad-gita.

3. Por isso, deve-se respeitar o Bhagavad-gita em todo tempo e lugar como o inaugurador da sabedoria religiosa e a imaculada essência de todas as escrituras sagradas.

4. Aquele que ouve atentamente e canta as glórias da mensagem do Bhagavad-gita, ou explica esta mensagem a outros, atinge o destino Supremo.

5. A miséria causada por magia negra e maldições nunca pode entrar em uma casa onde se adora o Bhagavad-gita.

6. Assim, com o conhecimento do Bhagavad-gita, o coração se purifica. Em uma escala de dezoito capítulos, rejeita-se toda doutrina que propõe a satisfação sensual e a liberação impessoal. As qualificações para a ocupação no serviço devocional amoroso se desenvolvem passo a passo.

7. Aquele que no momento da morte se lembra de metade do Bhagavad-gita, um quarto, um capítulo, ou até um só verso, atinge o destino Supremo.

8. Com grande êxtase, o Senhor Supremo Sri Krishna e Sua Companheira Divina, Sri Radhika, estão presentes misericordiosamente em qualquer lugar onde se discute, estuda ou ensina a concepção do Bhagavad-gita.

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

PREFÁCIO

O Bhagavad-gita é um Capítulo do Mahabharata, ou seja, a essência do Mahabharata, e de todo Conhecimento Transcendental. São as Instruções de Krishna para Seu devoto querido Arjuna, bem no início da famosa Batalha de Kurukshetra. Krishna, pelo Seu poder divino, resume toda Verdade Absoluta nos setecentos versos do Bhagavad-gita para o bem de todo o universo.

No começo da Batalha, nesse momento, quando Arjuna viu os homens reunidos em ambos os lados para matança mútua, pelo desejo de Krishna, ele ficou muito comovido e confuso. Então, Krishna falou com ele, Suas famosas Instruções Eternas, para remover sua ansiedade e acabar com suas dúvidas.

Os Ensinamentos Divinos de Krishna para Arjuna nesse momento são o Srimad Bhagavad-gita, onde o Supremo Senhor, Sri Krishna, manifesta Sua misericórdia magnânima para o benefício de todo o Universo. Como Ele mesmo explica no Capítulo Nove:

raja-vidya raja-guhyam
pavitram idam uttamam
pratyaksavagamam dharmyam
su-sukham kartum avyayam

1. O Senhor Supremo disse: Meu querido Arjuna, porque você não Me inveja, Eu transmito a você esta sabedoria que é a mais secreta, e ao conhecê-la se aliviará das misérias da existência material.

2. Este conhecimento é o rei da educação, o mais secreto de todos os segredos. É o conhecimento mais puro, e porque dá a percepção direta do eu mediante a iluminação, é a perfeição da religião. É eterno e se realiza alegremente.

O Bhagavad-gita é reconhecido mundialmente (e universalmente) como um dos Tesouros Supremos da literatura mundial. É a Palavra de Deus ao vivo e em cores. Como explicou nosso amado Srila Bhaktiraksaka Sridhar Deva Goswami Maharaj Paramahamsa Thakur Mahashaya: "O Tesouro Oculto do Doce Absoluto". Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada Paramahamsa Thakur Mahashaya, o irmão querido de Srila Sridhar Maharaj, presenteou o mundo com este Tesouro maravilhoso em 1971 com o seu "Bhagavad-gita As It Is", editado em português no Brasil em 1976 como "O Bhagavad-gita Como Ele É", agora publicado em forma condensada na Internet como "Bhagavad-gita: O Canto do Doce Senhor", também pela graça de Srila Prabhupada. (http://nitai.gaura.sites.uol.com.br/gita_br.htm).

O Bhagavad-gita é os ensinamentos de Krishna sobre o Amor Divino da devoção, que liberam todos os seres do cativeiro material e de toda ilusão, ignorância e sofrimento.

Citamos os quatro versos do Capítulo Dez "A Opulência do Absoluto" que são considerados o resumo do Gita:

Verso 8
aham sarvasya prabhavo
mattah sarvam pravartate
iti matva bhajante mam
budha bhava-samanvitah

8. Eu sou a fonte de todos os mundos materiais e espirituais. Tudo emana de Mim. Os sábios que sabem disto perfeitamente, dedicam-se a Meu serviço devocional e Me adoram com todo seu coração.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Um acadêmico erudito que estudou os Vedas perfeitamente e tem informação de autoridades como o Senhor Chaitanya, e sabe como aplicar esses ensinamentos, pode compreender que Krishna é a origem de tudo tanto no mundo material quanto no mundo espiritual, e porque sabe disso perfeitamente, fica fixo firmemente no serviço devocional ao Supremo Senhor. Ele nunca pode ser desviado por nenhuma quantidade de comentários absurdos ou por tolos. Toda literatura Védica concorda que Krishna é a fonte de Brahma, Shiva e todos os outros semideuses. O Atharva Veda (Gopala-tapani Upanishad 1.24) afirma, yo brahmanam vidadhati purvam yo vai vedams ca gapayati sma krsnah: "No princípio, foi Krishna quem instruiu Brahma sobre o conhecimento Védico e quem disseminou o conhecimento Védico no passado". O Narayana Upanishad (1) afirma ainda mais, atha puruso ha vai narayano 'kamayata prajah srjeyeti: "Então, a Suprema Personalidade Narayana desejou criar os seres vivos". Novamente, é dito, narayanad brahma jayate, narayanad prajapatih prajayate, narayanad indro jayate, narayanad astau vasavo jayante, narayanad ekadasa rudra jayante, narayanad dvadasadityah: "De Narayana, nasce Brahma, e de Narayana, os patriarcas também nascem. De Narayana, nasce Indra, de Narayana, os oito Vasus nascem, de Narayana, os onze Rudras nascem, de Narayana, os doze Adityas nascem".
Os mesmos Vedas afirmam, brahmanyo devaki-putrah: "O filho de Devaki, Krishna, é a Suprema Personalidade de Deus". (Narayana Upanishad 4). Também é dito:

eko vai narayana asin na brahma na isano napo nagni samau neme
dyav-aprthivi na naksatrani na suryah sa ekaki na ramate tasya
dhyanantah sthasya yatra chandogaih kriyamanastakadi-samjnaka
stuti-stomah stomam ucyate.

"No início da criação, havia somente a Suprema Personalidade Narayana. Não havia Brahma, nem Shiva, nem fogo, nem Lua, nem estrelas no céu, nem Sol. Havia somente Krishna, que cria tudo e desfruta tudo". (Maha Upanishad 1).
O Maha Upanishad afirma que o Senhor Shiva nasceu do mais alto, o Supremo Senhor Krishna, e os Vedas dizem que o Supremo Senhor, criador de Brahma e Shiva, que deve ser adorado. Krishna também diz no Moksha-dharma:

prajapatim ca rudram capy
aham eva srjami vai
tau hi mam na vijanito
mama maya-vimohitau

"Os patriarcas, Shiva e os outros são criados por Mim, apesar de não saberem que foram criados por Mim, pois estão iludidos por Minha energia ilusória". O Varaha Purana também afirma:

narayanah paro devas
tasmaj jatas caturmukhah
tasmad rudro 'bhavad devah
sa ca sarva-jnatam gatah

"Narayana é a Suprema Personalidade de Deus, Dele, Brahma nasceu, de quem Shiva nasceu".
O Senhor Krishna é a fonte de todas gerações, e Ele é chamado de a mais eficiente causa de tudo. Ele diz que porque "tudo nasce de Mim, Eu sou a fonte original de tudo. Tudo está sob Mim, ninguém está acima de Mim". Não há nenhum controlador supremo além de Krishna. A pessoa que entende Krishna dessa forma por meio do mestre espiritual autêntico e da literatura Védica, que dedica toda sua energia na Consciência de Krishna, torna-se uma verdadeira pessoa sábia. Só um tolo considera Krishna como um ser humano ordinário. Uma pessoa consciente de Krishna não deve se confundir por tolos, ela deve evitar todos comentários e interpretações não autorizadas do Bhagavad-gita e prosseguir na Consciência de Krishna com determinação e firmeza".

Verso 9
mac-citta mad-gata-prana
bodhayantah parasparam
kathayantas ca mam nityam
tusyanti ca ramanti ca

9. Os pensamentos de Meus devotos puros permanecem em Mim; suas vidas estão rendidas a Mim, e eles obtêm grande satisfação e bem-aventurança pois se iluminam uns aos outros e conversam sobre Mim.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Os devotos puros, cujas características se mencionam aqui, ocupam-se completamente no serviço transcendental carinhoso ao Senhor. Suas mentes não podem se afastar dos pés de lótus de Krishna. Suas práticas são unicamente sobre temas transcendentais. Os sintomas dos devotos puros se descrevem especificamente neste verso. Os devotos do Senhor Supremo se ocupam vinte e quatro horas por dia em glorificar os passatempos do Senhor Supremo. Seus corações e almas estão constantemente absortos em Krishna e se satisfazem em discutir sobre Ele com outros devotos.
Na etapa preliminar do serviço devocional, eles saboreiam o prazer transcendental do serviço em si, e na etapa madura se situam em realidade no amor a Deus. Uma vez situados nessa posição transcendental, podem saborear a perfeição mais elevada que o Senhor exibe em Sua morada. O Senhor Chaitanya compara o serviço devocional transcendental com a germinação de uma semente no coração da entidade vivente.
Há inumeráveis seres vivos que viajam pelos distintos planetas do universo, e entre todos eles, poucos são suficientemente afortunados para conhecer um devoto puro e receber a oportunidade de compreender o serviço devocional. Esse serviço devocional é exatamente como uma semente que se planta no coração de uma entidade vivente, e se ela continua o processo de ouvir e cantar: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, essa semente frutifica, como a semente de uma árvore frutifica quando regada regularmente. A planta espiritual do serviço devocional continua a crescer regularmente até que ultrapassa a cobertura do universo material e entra no brilho brahmajyoti do céu espiritual.
Ali, essa planta também cresce mais e mais até que atinge o planeta mais elevado, que se chama Goloka Vrindavana, o planeta supremo de Krishna. Finalmente, a planta se refugia sob os pés de lótus de Krishna e descansa lá. Gradualmente, tal como uma planta dá frutos e flores, essa planta do serviço devocional também produz frutos, e o processo de regar continua na forma de cantar e ouvir. Essa planta do serviço devocional se descreve por completo no Chaitanya-charitamrita. Nele se explica que quando a planta inteira se refugia sob os pés de lótus do Senhor Supremo, a pessoa se absorve plenamente no amor a Deus; então, não pode viver nem sequer por um momento sem estar em contato com o Senhor Supremo, como um peixe não pode viver fora da água. Em tal estado de relação com o Senhor Supremo, o devoto obtém as qualidades transcendentais de verdade.
O Srimad Bhagavatam também é repleto dessas narrações sobre o relacionamento entre o Supremo Senhor e Seus devotos, portanto, o Srimad Bhagavatam é muito apreciado pelos devotos. Em Sua narração, não há nada sobre atividades materiais, prazer sensual ou liberação. O Srimad Bhagavatam é a única narração onde a natureza transcendental do Supremo Senhor e Seus devotos é plenamente descrita. Por isso, as almas realizadas na Consciência de Krishna têm prazer contínuo em ouvir tais literaturas transcendentais, do mesmo modo como um rapaz e uma moça jovens têm prazer em estarem juntos".

Verso 10
tesam satata-yuktanam
bhajatam priti-purvakam
dadami buddhi-yogam tam
yena mam upayanti te

10. Aos que estão constantemente consagrados a Mim e Me adoram com amor extático, Eu lhes dou a inteligência mediante a qual podem vir a Mim.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"A palavra buddhi-yogam é muito significativa neste verso. Lembramos que no Capítulo Dois, nas instruções para Arjuna, o Senhor disse que falou sobre vários temas e que o instruiria sobre o caminho de buddhi-yoga. Agora, Ele explica buddhi-yoga. Buddhi-yoga em si é ação em Consciência de Krishna, que é a inteligência mais elevada. Buddhi significa inteligência, e yoga significa atividades místicas ou elevação mística. Quando a pessoa tenta voltar ao Lar, de volta ao Supremo, e se dedica plenamente à Consciência de Krishna com serviço devocional, sua ação se chama buddhi-yoga. Em outras palavras, buddhi-yoga é o processo pelo qual a pessoa se livra do enredamento deste mundo material. A meta última do progresso é Krishna. As pessoas não sabem disso, por isso, a companhia dos devotos e do mestre espiritual autêntico é muito importante. A pessoa tem que entender que o objetivo é Krishna, e quando o objetivo é estabelecido, o caminho então é lento mas atravessado progressivamente, e a meta última é alcançada.
Quando a pessoa conhece o objetivo da vida mas está apegada a atividades lucrativas, atua em karma-yoga. Quando sabe que o objetivo é Krishna, mas sente prazer na especulação mental para compreender Krishna, atua em jñana-yoga. E quando conhece o objetivo e procura Krishna plenamente em Consciência de Krishna e serviço devocional, atua em bhakti-yoga, ou buddhi-yoga, que é o yoga completo. Esse yoga completo é o estágio de perfeição mais elevado da vida.
A pessoa pode ter um mestre espiritual autêntico e pode estar apegada a alguma organização espiritual, ainda assim, se não for inteligente o suficiente para progredir, Krishna, dentro dela, dá instruções para que possa finalmente chegar até Ele sem dificuldade. A qualificação é que a pessoa deve sempre se dedicar à Consciência de Krishna e prestar todos tipos de serviço com amor e devoção. Ela deve realizar algum tipo de trabalho para Krishna, e esse trabalho deve ser com amor. Se o devoto for inteligente o bastante, fará progresso no caminho da auto-realização. Se a pessoa é sincera e devotada às atividades do serviço devocional, o Senhor lhe dá a chance de progredir e finalmente alcançá-Lo".

Verso 11
tesam evanukampartham
aham ajnana-jam tamah
nasayamy atma-bhavastho
jnana-dipena bhasvata

11. Devido à Minha intensa compaixão por eles, Eu que moro dentro de seus corações, destruo, com a brilhante lâmpada do conhecimento, a escuridão nascida da ignorância.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Quando Senhor Chaitanya estava em Benares na propagação do cantar de Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, milhares de pessoas O seguiam. Prakashananda, um acadêmico erudito muito influente e sábio de Benares naquela época, criticou o Senhor Chaitanya por ser um sentimentalista. Alguns filósofos criticam os devotos porque acham que a maioria dos devotos está na escuridão da ignorância e são filosoficamente sentimentalistas ingênuos. Na realidade, esse não é o caso. Há acadêmicos eruditos muito e muito sábios que explicaram a filosofia da devoção, mas mesmo se um devoto não aproveitar essa literatura ou a de seu mestre espiritual, se for sincero em seu serviço devocional, recebe ajuda do Senhor em pessoa dentro do seu coração. Por isso, o devoto sincero dedicado à Consciência de Krishna não pode ser sem conhecimento. A única qualificação é que a pessoa realize serviço devocional em Consciência de Krishna plena.
Os filósofos modernos pensam que não se pode ter conhecimento puro sem ajuda do discernimento. Para eles, o Senhor deu esta resposta: Aqueles que se ocupam no serviço devocional puro, ainda que careçam de suficiente educação, ou inclusive, não tenham suficiente conhecimento dos princípios Védicos, são ajudados pelo Deus Supremo, tal como se afirma neste verso.
O Senhor diz para Arjuna que basicamente não é possível compreender a Verdade Suprema, a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus, simplesmente por especulação, pois a Verdade Absoluta é tão grande que não é possível alcançá-La apenas com o esforço mental. A pessoa pode continuar a especular por muitos milhões de anos, mas se não for devota, se não for uma amante da Verdade Suprema, nunca compreenderá Krishna ou a Verdade Absoluta. A Verdade Suprema, Krishna, só fica satisfeita com o serviço devocional, e pode Se revelar no coração do devoto puro pela Sua energia inconcebível. O devoto puro sempre tem Krishna dentro do seu coração, por isso, ele é como o Sol que dissipa toda escuridão da ignorância. Essa é a misericórdia especial dada ao devoto puro por Krishna.
Por causa da contaminação da associação material durante muitos e muitos milhões de vidas, o coração da pessoa está sempre coberto com a poeira do materialismo, mas quando se ocupa no serviço devocional e canta constantemente Hare Krishna, a poeira é limpa rapidamente e a pessoa se eleva à plataforma do conhecimento puro. A meta última Vishnu só pode ser alcançada por esse canto e serviço devocional, não por especulação mental ou argumento. O devoto puro não precisa se preocupar com as necessidades da vida, não deve ficar ansioso porque quando remove a escuridão de seu coração, tudo é provido automaticamente pelo Supremo Senhor, pois Ele fica muito satisfeito com o serviço devocional amoroso do devoto. Essa é a essência dos ensinamentos do Gita. Com o estudo do Bhagavad-gita, a pessoa pode se tornar uma alma plenamente rendida ao Supremo Senhor e se dedicar ao serviço devocional puro. Quando o Senhor toma conta, a pessoa se torna plenamente livre de todos tipos de esforços materialistas".

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"Bhagavad-gita: O Canto do Doce Senhor" é a luz do conhecimento mais confidencial. A Verdade Absoluta ao alcance de todos, pela graça da grande personalidade Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada, um companheiro querido eterno do Senhor que veio a este mundo, pela Vontade do Senhor, com a Missão de transmitir este Conhecimento Supremo ao mundo inteiro.

Vários outros grandes pensadores da humanidade também obtiveram inspiração do Bhagavad-gita, como Mahatma Gandhi, que disse:

"O Bhagavad-gita sempre foi uma fonte de consolo para mim. Em momentos quando não via mais nenhuma perspectiva consoladora no horizonte, abria o Gita e encontrava um verso que me dava novas esperanças".

Ralph Waldo Emerson disse:

"Devo um dia magnífico ao Bhagavad-gita; o primeiro dos livros; é como um império que nos fala; nada pequeno nem depreciativo, muito pelo contrário, majestoso, sereno, consistente, a voz de uma inteligência antiga que em outra época e clima examinou e resolveu as mesmas perguntas que nos movem hoje".

Wilhelm Von Humboldt disse:

"O mais profundo e elevado que o mundo pode nos mostrar. Agradeço a Deus por me permitir viver tanto tempo para que pudesse ler o Bhagavad-gita".

Arthur Schopenhauer, entre outros, disse:

"A leitura mais educativa e elevada que se pode encontrar neste mundo".

Nota do Tradutor:
O Mahabharata confirma que o Senhor Krishna falou o Bhagavad-gita para Arjuna na Batalha de Kuruksetra no ano 3137 antes de Cristo. Kali-yuga começa no ano 3102 a.C. segundo dados astrológicos Védicos.
A primeira edição inglesa do Bhagavad-gita foi em 1785 traduzida por Charles Wilkins em Londres, Inglaterra. Apenas 174 anos após a tradução da Bíblia pelo rei James em 1611. O Bhagavad-gita foi traduzido para o latim em 1823 por Schlegel, em alemão por Von Humbolt (1826), em francês por Lassens (1846), e foi traduzido para o grego em 1848 por Galanos.
Vários pensadores históricos como Albert Einstein, Mahatma Gandhi, Dr. Albert Schweitzer, Herman Hesse, R. W. Emerson, Henry Thoreau, T. S. Eliot, Aldous Huxley, Rudolph Steiner, Nikola, entre muitos outros, leram o Srimad Bhagavad-gita e se inspiraram em sua sabedoria infinita.

Bhaktivedanta Swami Prabhupada presenteou o mundo com esse "Tesouro Oculto do Doce Absoluto" em 1971, ou seja, "Bhagavad-gita As It Is". A Edição definitiva e genuína do Gita em sua plenitude, com seu significado claro iluminado pelo enviado pessoal do Senhor, Seu companheiro querido eterno. A primeira edição brasileira de "O Bhagavad-gita Como Ele É" foi em 1976.

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Srila Prabhupada também explica no Srimad Bhagavatam, Primeiro Canto, Capítulo Quinze:

"Agora, sinto atração pelas instruções que a Suprema Personalidade de Deus (Govinda) me transmitiu porque estão repletas de ensinamentos para o alívio do ardor do coração em todas as circunstâncias de tempo e espaço".

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Aqui, Arjuna se refere às instruções do Bhagavad-gita, que foram transmitidas a ele pelo Senhor no campo de batalha em Kurukshetra. O Senhor deixou os ensinamentos do Bhagavad-gita não somente para o benefício de Arjuna, mas também para todo tempo em todo lugar. O Bhagavad-gita, falado pela Suprema Personalidade de Deus, é a essência de toda sabedoria Védica. Foi muito bem apresentado pelo Senhor em pessoa para todos que têm pouco tempo para atravessarem a vastidão da literatura Védica como os Upanishads, Puranas e Vedanta-sutras. Foi colocado dentro do estudo do grande épico Mahabharata, que foi preparado especialmente para as classes de pessoas menos inteligentes como mulheres, trabalhadores e os descendentes indignos dos brâmanes, kshatriyas e setores elevados dos vaishyas. O problema que surgiu no coração de Arjuna no campo de batalha em Kurukshetra foi solucionado com os ensinamentos do Bhagavad-gita. Novamente, depois da partida do Senhor da visão das pessoas mundanas, quando Arjuna se deparou com a aniquilação de seu poder e proeminência adquiridos, quis lembrar de novo os grandes ensinamentos do Bhagavad-gita apenas para ensinar a todos aflitos que o Bhagavad-gita pode ser consultado em todos momentos críticos, não apenas para o consolo de todas agonias mentais, mas também como escapar dos grandes embaraços que podem complicar a pessoa numa hora crítica.
O Senhor misericordioso deixou Seus grandes ensinamentos do Bhagavad-gita para que a pessoa tenha as instruções do Senhor mesmo sem Ele estar visível para os olhos materiais. Os sentidos materiais não podem ter nenhuma estimativa sobre o Supremo Senhor, mas pelo Seu poder inconcebível, o Senhor pode encarnar pessoalmente para a percepção sensorial dos seres condicionados de forma adequada com a agência da matéria, que também é outra forma da energia manifesta do Senhor. Portanto, o Bhagavad-gita, ou qualquer outra representação sonora autêntica do Senhor, também é uma encarnação do Senhor. Qualquer pessoa pode obter o mesmo benefício do Bhagavad-gita que Arjuna obteve na presença pessoal do Senhor.
O ser humano sincero que deseja se liberar das garras da existência material pode aproveitar a vantagem do Bhagavad-gita com muita facilidade, pois com essa intenção, o Senhor instruiu Arjuna como se Arjuna precisasse disso. O Bhagavad-gita explica os cinco fatores mais importantes do conhecimento, (1) o Supremo Senhor, (2) o ser vivo, (3) natureza, (4) tempo e espaço, (5) o processo da atividade. Desses, o Supremo Senhor e o ser vivo são iguais em qualidade. A diferença entre os dois é analisada como a diferença entre o todo e a parte e parcela. Natureza é a matéria inerte que exibe a interação dos três modos diferentes, e tempo eterno e espaço ilimitado são considerados além da existência da natureza material. Atividades dos seres vivos são diferentes variedades de atitudes que prendem ou liberam o ser vivo dentro ou fora da natureza material. Todos esses assuntos são discutidos concisamente no Bhagavad-gita, e posteriormente, os assuntos são bem elaborados no Srimad Bhagavatam para a melhor compreensão. Desses cinco assuntos, o Supremo Senhor, o ser vivo, natureza e tempo e espaço são eternos, mas o ser vivo, natureza e tempo estão sob a direção do Supremo Senhor, que é absoluto e plenamente independente de qualquer controle. O Supremo Senhor é o supremo controlador. A atividade material do ser vivo é sem início, mas pode ser retificada pela transferência à realidade espiritual. Assim pode cessar suas reações materiais qualitativas. Tanto o Senhor como o ser vivo são cognitivos, e ambos têm o senso de identificação, por serem conscientes como uma força viva. Mas o ser vivo sob o condicionamento da natureza material, chamada mahat-tattva, se identifica de forma errada como diferente do Senhor. Todo o esquema da sabedoria Védica é direcionado para a erradicação desse conceito errado e assim liberar o ser vivo da ilusão da identificação material. Quando essa ilusão é erradicada pelo conhecimento e renúncia, os seres vivos viram atores e desfrutadores responsáveis também. O senso de desfrute com o Senhor é real, mas esse senso no ser vivo é apenas um tipo de desejo ansioso. Essa diferença de consciência é a distinção entre as duas identidades, o Senhor e o ser vivo. De outra forma, não há diferença entre o Senhor e o ser vivo. Portanto, o ser vivo é eternamente uno e diferente simultaneamente. Toda a instrução do Bhagavad-gita se baseia nesse princípio.
O Bhagavad-gita descreve tanto o Senhor como o ser vivo como sanatana, ou eterno, e o reino do Senhor, muito além do céu material, também é descrito como sanatana. O ser vivo é convidado a viver na existência sanatana do Senhor, e o processo que pode ajudar o ser vivo a se aproximar do reino do Senhor, onde se exibe a atividade liberada da alma, é chamado sanatana-dharma. Porém, ninguém pode alcançar a morada eterna do Senhor sem estar livre do conceito errado da identificação material, e o Bhagavad-gita nos dá a iluminação para alcançar esse estágio de perfeição. O processo de se liberar do conceito errado da identificação material se chama, em diferentes estágios, atividade lucrativa, conhecimento empírico e serviço devocional, até a realização transcendental. Tal realização transcendental só é possível com a dedicação de todos esses itens na relação com o Senhor. Os deveres prescritos do ser humano, como indicado nos Vedas, podem purificar gradualmente a mente pecaminosa da alma condicionada e elevá-la ao estágio do conhecimento. O estágio purificado da aquisição de conhecimento se torna a base do serviço devocional ao Senhor. Enquanto a pessoa está ocupada na pesquisa para a solução dos problemas da vida, seu conhecimento se chama jñana, ou conhecimento purificado, mas quando realiza a solução verdadeira da vida, a pessoa fica situada no serviço devocional ao Senhor. O Bhagavad-gita começa com os problemas da vida por diferenciar a alma dos elementos da matéria e provar com toda razão e argumento que a alma é indestrutível em todas circunstâncias, e que a cobertura externa da matéria, o corpo e a mente, muda para outro termo de existência material cheio de misérias. Por isso, o Bhagavad-gita se destina ao extermínio de todos diferentes tipos de miséria, e Arjuna se abrigou em Seu grande conhecimento, que foi dado a ele durante a batalha de Kurukshetra".

 

"Por causa dos passatempos e atividades do Senhor e por causa de Sua ausência, pareceu que Arjuna esqueceu das instruções deixadas pela Suprema Personalidade de Deus. Mas na verdade, não foi esse o caso, e ele se tornou novamente o senhor de seus sentidos".

Iluminação de Srila Prabhupada:
A alma condicionada fica presa em suas atividades lucrativas pela força do tempo eterno. Mas o Supremo Senhor, quando encarna na Terra, não é influenciado por kala, ou o conceito material de passado, presente e futuro. As atividades do Senhor são eternas, e são manifestações de Sua atma-maya, ou potência interna. Todos passatempos ou atividades do Senhor são de natureza espiritual, mas para o leigo, parecem estar no mesmo nível das atividades materiais. Assim, parecia que Arjuna e o Senhor estavam empenhados na batalha de Kurukshetra como o partido oposto também estava empenhado, mas na realidade, o Senhor executou Sua missão da encarnação e associação com Seu amigo eterno Arjuna. Por isso, tais atividades materiais aparentes de Arjuna não o tiraram de sua posição transcendental, pelo contrário, reviveram sua consciência sobre os cantos do Senhor, como Ele cantou pessoalmente. Esse restabelecimento da consciência é assegurado pelo Senhor no Bhagavad-gita (18.65):

Deve-se pensar no Senhor sempre, a mente nunca deve esquecê-Lo. Quem vive dessa forma se torna sem dúvida abençoado com as graças do Senhor por alcançar o abrigo de Seus pés de lótus. Não há nenhuma dúvida quanto a essa verdade absoluta. Porque Arjuna é Seu amigo confidencial, o segredo foi revelado a ele.

Arjuna não queria lutar contra seus parentes, mas lutou pela missão do Senhor. Ele estava sempre ocupado exclusivamente na realização da missão do Senhor, por isso que depois do desaparecimento do Senhor ele permaneceu na mesma posição transcendental, mesmo se pareceu que ele esqueceu todas instruções do Bhagavad-gita. Portanto, deve-se ajustar as atividades da vida no compasso da missão do Senhor, assim é certo que a pessoa voltará para o Lar, de volta ao Supremo. Essa é a perfeição mais elevada da vida".

"Como possuía qualidades espirituais, as dúvidas da dualidade foram erradicadas plenamente. Assim ele se livrou dos três modos da natureza material e se situou na transcendência. Não havia mais chance dele se enredar em nascimento e morte, pois estava livre da forma material".

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Dúvidas da dualidade começam com o conceito errado do corpo material, aceito como o eu por pessoas menos inteligentes. A parte mais tola de nossa ignorância é nossa identificação deste corpo material com o eu. Tudo em relação ao corpo é aceito de forma ignorante como nossa propriedade. Dúvidas devido ao conceito errado de "eu" e "meu", em outras palavras, "meu corpo", "meus parentes", "minha propriedade", "minha esposa", "meus filhos", "minha riqueza", "meu país", "minha comunidade", e centenas de milhares de contemplações ilusórias similares, causam a confusão da alma condicionada. Quando a pessoa assimila as instruções do Bhagavad-gita, é certo que ficará livre dessa confusão porque o verdadeiro conhecimento é saber que a Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva, Senhor Krishna, é tudo, inclusive o próprio eu. Tudo é uma manifestação de Sua potência como parte e parcela. A potência e o potente não são diferentes, assim o conceito de dualidade é mitigado imediatamente com a obtenção do conhecimento perfeito. Assim que Arjuna aceitou as instruções do Bhagavad-gita, especialista como era, pôde erradicar de imediato o conceito material sobre o Senhor Krishna, seu amigo eterno. Ele pôde realizar que o Senhor ainda estava presente perante ele por meio de Suas instruções, por Sua forma, por Seus passatempos, por Suas qualidades e tudo mais em relação a Ele. Ele pôde realizar que o Senhor Krishna, seu amigo, ainda estava presente perante ele por Sua presença transcendental nas diferentes energias não duais, e não havia necessidade de obter a associação do Senhor por outra troca de corpo sob a influência de tempo e espaço. Com a obtenção do conhecimento absoluto, a pessoa pode estar na companhia do Senhor constantemente, mesmo na vida presente, simplesmente por ouvir, cantar, lembrar e adorar o Supremo Senhor. A pessoa pode vê-Lo, pode sentir Sua presença mesmo na vida presente simplesmente por entender o Senhor adwaya-jñana, ou Senhor Absoluto, pelo processo do serviço devocional, que começa com ouvir sobre Ele. O Senhor Chaitanya afirma que simplesmente por cantar o Santo Nome do Senhor, a pessoa pode lavar de imediato a poeira do espelho da consciência pura, e logo que a poeira é removida, a pessoa se livra imediatamente de todos condicionamentos materiais. Livrar-se dos condicionamentos materiais significa liberar a alma. Portanto, assim que a pessoa se situa no conhecimento absoluto, seu conceito material é removido, ou ela emerge do conceito falso da vida. Assim a função da alma pura se revive na realização espiritual. Essa realização prática do ser vivo se torna possível por ele ficar livre da reação dos três modos da natureza material, a saber, bondade, paixão e ignorância. Pela graça do Senhor, um devoto puro se eleva de imediato ao local do Absoluto, e não há mais chance do devoto se enredar materialmente novamente na vida condicionada. A pessoa não é capaz de sentir a presença do Senhor em todas circunstâncias até que seja dotada com a visão transcendental necessária que só é possível pelo serviço devocional prescrito nas escrituras reveladas. Arjuna alcançou esse estágio muito antes do campo de batalha em Kurukshetra, e quando pareceu que sentiu a falta do Senhor, ele se abrigou de imediato nas instruções do Bhagavad-gita, assim foi colocado novamente em sua posição original. Essa é a posição vishoka, ou o estágio de estar livre de todo pesar e ansiedades".

 

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Srimad Bhagavad-gita
"O Canto do Doce Senhor"

Capítulo Um

Visualização dos Exércitos no

Campo de Batalha em Kurukshetra

1. Dhritarastra disse: Ó Sanjaya! Que fazem meus filhos e os filhos de Pandu, depois de se reunirem no lugar sagrado chamado Kurukshetra, todos com muito desejo de lutar?

2. Sanjaya disse: Ó rei! Depois de observar o exército reunido pelos filhos de Pandu, o rei Duryodhana se aproximou de seu mestre e lhe dirigiu as seguintes palavras:

3. Ó mestre! Aí está o grande exército dos filhos de Pandu, disposto de maneira excelente por seu inteligente discípulo, o filho de Drupada (Dhristadyumna).

4. Aqui neste exército há muitos arqueiros heróicos, iguais na luta a Bhima e Arjuna; há também grandes guerreiros como Juyudhana, Virata e Drupada.

5. Também, há grandes guerreiros heróicos e poderosos como Dhristaketu, Chekitana, Kasiraja, Purujit, Kuntibhoja e Saibya.

6. Estão o magnífico Judhamanyu, o poderosíssimo Uttamauya, o filho de Subhadra e os filhos de Draupadi. Todos esses guerreiros são grandes lutadores em quadriga.

7. Ó melhor dos brahmanas! Para sua informação, vou descrever os capitães que estão especialmente qualificados para dirigir minha força militar.

8. Há personalidades como você mesmo, como Bhisma, Karna, Kripa, Asvatthama, Vikarna e o filho de Somadatta chamado Bhurisrava, que sempre se saem vitoriosos na batalha.

9. Há muitos outros heróis que estão dispostos a dar sua vida por mim. Todos eles estão bem equipados com diversas classes de armas e todos possuem experiência na ciência militar.

10. Nossa força é incomensurável e estamos perfeitamente protegidos pelo avô Bhisma, enquanto que a força dos Pandavas, cuidadosamente protegida por Bhima, é limitada.

11. Agora todos vocês devem dar seu apoio total ao avô Bhisma, e permanecer cada qual em seu respectivo posto estratégico dentro da falange do exército.

12. Então Bhisma, o grande e valente patriarca da dinastia Kuru, o avô dos guerreiros, soprou seu búzio com grande estrépito, como o rugido de um leão, que produziu júbilo em Duryodhana.

13. Depois disso, soaram subitamente todos os búzios, clarins, trombetas, tambores e chifres, e o som combinado foi tumultuoso.

14. No partido oposto, o Senhor Krishna junto com Arjuna, situados em uma grande quadriga puxada por cavalos brancos, soaram seus búzios transcendentais.

15. Assim, o Senhor Krishna soprou Seu búzio chamado Panchajanya, Arjuna soprou o seu, Devadatta, e Bhima, comedor voraz e executor de tarefas hercúleas, soprou seu terrível búzio chamado Paundra.

16-18. O rei Yudhisthira, filho de Kunti, soprou seu búzio, Anantavijaya, e Nakula e Sahadeva sopraram Subhosa e Manipuspaka. Ó rei! O grande arqueiro rei de Kasi, o grande guerreiro Sikhandi, Dhristadyumna, Virata e o invencível Satyaki, Drupada, os filhos de Draupadi e os demais como o filho de Subhadra, de braços poderosos, todos sopraram seus búzios respectivos.

19. O som desses búzios diversos se tornou estrondoso, e vibrou tanto no céu como na terra, assim destroçou os corações dos filhos de Dhritarastra.

Verso 20

atha vyavasthitan drstva
dhartarastran kapi-dhvajah
pravrtte sastra-sampate
dhanur udyamya pandavah
hrsikesam tada vakyam
idam aha mahi-pate

20. "Ó rei, nesse momento, Arjuna, o filho de Pandu, sentado em sua quadriga, que tem o estandarte com Hanuman, pegou seu arco e se preparou para atirar suas flechas, com a mira nos filhos de Dhritarastra. Ó rei, Arjuna falou então as seguintes palavras a Hrishikesha (Krishna):"

Iluminação de Srila Prabhupada:
"A batalha ia começar. Percebemos nos versos anteriores que os filhos de Dhritarastra estavam meio desanimados pela inesperada força militar organizada pelos Pandavas, que tinham a orientação direta do Senhor Krishna no campo de batalha. O emblema de Hanuman na bandeira de Arjuna é outro sinal de vitória porque Hanuman ajudou o Senhor Rama na batalha entre Rama e Ravana, e o Senhor Rama foi vitorioso. Agora, tanto Rama quanto Hanuman estavam presentes na quadriga de Arjuna para ajudá-lo. O Senhor Krishna é o próprio Rama em pessoa, onde quer que o Senhor Rama esteja, Sua eterna consorte Sita, a deusa da fortuna, e Seu servo eterno Hanuman estão sempre presentes. Por isso, Arjuna não precisava temer nenhum inimigo. Acima de tudo, o Senhor dos sentidos (Hrishikesha), Sri Krishna, estava presente em pessoa para guiá-lo. Assim, todos os bons recursos estavam disponíveis para Arjuna lutar na batalha. Nessas condições auspiciosas, arranjadas pelo Senhor em pessoa para Seu devoto eterno, estavam os sinais da vitória garantida".

21-22. Arjuna disse: Ó infalível! Por favor, coloque minha quadriga entre os dois exércitos de maneira que eu possa ver quem está presente aqui, quem deseja brigar e com quem devo lidar nesta grande tentativa de batalha.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui: Ainda que o Senhor Krishna seja a Suprema Personalidade de Deus, em virtude de Sua misericórdia sem causa, estava ocupado no serviço a Seu amigo. Ele nunca falha em dar afeto a Seus devotos, e por isso, aqui Ele é chamado Infalível. Como cocheiro, tinha que executar as ordens de Arjuna, e como não vacilou em fazê-lo, é chamado de Infalível. Ainda que havia aceitado a posição de cocheiro de Seu devoto, Sua posição suprema não se desafia. Em qualquer circunstância, Ele é a Suprema Personalidade de Deus, Hrishikesha, o Senhor dos sentidos. A relação entre o Senhor e Seu servidor é muito doce e transcendental. O servidor sempre está disposto a prestar algum serviço ao Senhor e, da mesma maneira, o Senhor sempre procura uma oportunidade para servir a Seu devoto. Ele Se deleita muito mais quando Seu devoto puro assume a vantajosa posição de ordená-Lo, do que ser Ele quem dá as ordens. Krishna é amo e Senhor, todos estão sob Suas ordens e ninguém está por cima Dele. Mas quando Ele vê que um devoto puro Lhe dá ordens, obtém prazer transcendental, mesmo por ser Ele o infalível Senhor em todas as circunstâncias.

23. Deixe-me ver os que vieram lutar com desejo de satisfazer o malévolo filho de Dhritarastra.

24. Sanjaya disse: Ó descendente de Bharata, assim, a pedido de Arjuna, o Senhor Krishna conduziu a excelente quadriga, e parou no meio dos exércitos de ambas as partes.

25. Diante da presença de Bhisma, Drona e todos os demais chefes do mundo, Krishna (Hrishikesha), o Senhor, disse: Observe, Arjuna (Partha), os Kurus que se encontram aí reunidos!

26. Ali, no meio dos exércitos de ambos partidos, Arjuna pôde ver seus pais, avós, mestres, tios maternos, irmãos, filhos, netos, amigos e igualmente seu sogro e benquerentes como Kritavarma, e outros. Pôde ver também os exércitos que incluíam muitos de seus amigos.

27. Quando o filho de Kunti, Arjuna, viu todas essas diversas classes de amigos e parentes, sentiu-se tomado pela compaixão e falou assim.

28. Arjuna disse: Meu querido Krishna, ao ver diante de mim meus amigos e parentes com vontade de lutar, sinto tremer os membros de meu corpo e minha boca se seca.

29. Meu corpo treme e meus pêlos se arrepiam. Meu arco Gandiva escorrega de minhas mãos e minha pele arde.

30. Sinto-me incapaz de permanecer aqui por mais tempo. Esqueço-me de mim mesmo e minha mente dá voltas. Ó destruidor do demônio Keshi! Prevejo somente o mal.

31. Não vejo como pode resultar bem algum em matar meus próprios parentes nesta batalha; nem posso, meu querido Krishna, desejar nenhuma vitória, nem reino, nem felicidade subseqüente.

32-35. Ó Krishna (Govinda)! De que nos servem os reinos, a felicidade, ou ainda a própria vida, quando todos aqueles que desejamos se encontram agora dispostos neste campo de batalha? Ó Krishna (Madhusudana)! Quando mestres, pais, filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e outros parentes estão dispostos a dar suas vidas e pertences, e estão presentes diante de mim, então, por que hei de desejar matá-los, ainda que eu sobreviva? Ó sustentador de todas as criaturas! Não estou disposto a lutar contra eles, nem sequer em troca dos três mundos, muito menos por esta Terra.

36. Se matarmos tais agressores, o pecado nos vencerá. Portanto, não é correto que matemos os filhos de Dhritarastra e nossos amigos. Ó Krishna, esposo da deusa da fortuna! Que ganharíamos e como poderíamos ser felizes por matar nossos próprios parentes?

37-38. Ó Krishna (Janardana)! Ainda que estes homens dominados pela cobiça, não vejam falta em matar sua própria família, nem em lutar com seus amigos, por que nós, que temos conhecimento do pecado, temos que nos ocupar nestes atos?

39. Com a destruição da dinastia, se destrói a eterna tradição familiar, e assim, o resto da família incorre em práticas irreligiosas.

40. Ó Krishna! Quando a irreligião predomina na família, as mulheres da família se corrompem, e da degradação da mulher se origina a prole não desejada, ó descendente de Vrisni!

41. Quando há um aumento de população não desejada se cria uma situação infernal tanto para a família como para aqueles que destroem a tradição familiar. Em tais famílias corruptas não se oferecem oblações de alimento e água aos antepassados.

42. Devido aos atos malévolos dos destruidores da tradição familiar, destrói-se toda classe de projetos da comunidade e atividades para o bem-estar da família.

43. Ó Krishna, sustentador dos povos! Ouvi através da sucessão discipular, que aqueles que destroem as tradições familiares moram sempre no inferno.

44. Ai de mim! Muito estranho é que estamos preparados para cometer atos tão pecaminosos, impelidos pelo desejo de desfrutar a felicidade régia!

45. Eu consideraria melhor que os filhos de Dhritarastra me matassem desarmado e sem resistir, antes de lutar contra eles.

46. Sanjaya disse: Após falar assim no campo de batalha, Arjuna, com sua mente afligida pela angústia, jogou de lado seu arco e flechas, e se sentou na quadriga.

 

 

Capítulo Dois

Resumo do Conteúdo do Gita

1. Sanjaya disse: Ao ver Arjuna cheio de compaixão, muito entristecido e com seus olhos cheios de água, Madhusudana, Krishna, falou as seguintes palavras.

2. A Pessoa Suprema (Bhagavan) disse: Meu querido Arjuna, de onde vieram essas impurezas? Não são em absoluto dignas de uma pessoa que conhece os valores progressivos da vida. Não conduzem aos planetas superiores, senão à infâmia.

3. Ó Arjuna (filho de Pritha)! Não ceda a essa impotência degradante. Não corresponde a você. Abandone essa fraqueza mesquinha de coração e levante-se. Ó castigador do inimigo!

4. Arjuna disse: Ó destruidor de Madhu (Krishna)! Como posso contra-atacar com flechas na batalha homens como Bhisma e Drona, que são dignos de minha adoração?

5. É melhor viver neste mundo como mendigo, do que viver à custa da vida de grandes almas que são meus mestres. Ainda que sejam cobiçosos, não deixam de ser superiores. Se os mato, nossas conquistas ficarão manchadas com sangue.

6. Nem sabemos que é melhor, se vencê-los ou sermos vencidos por eles. Diante de nós, neste campo de batalha, estão agora os filhos de Dhritarastra. Se os matássemos, não nos importaria viver.

7. Agora estou confuso sobre meu dever e por causa de minha fraqueza perdi toda compostura. Nesta condição, peço a Você que me diga claramente o que é melhor para mim, agora sou Seu discípulo e uma alma rendida a Você. Por favor, instrua-me.

Iluminação: Srila Prabhupada nos ensina: O sistema de atividades materiais em geral constitui uma fonte de perplexidade para todos. É característico a esta natureza que a cada passo haja perplexidade, e por isso é conveniente aproximar-se de um mestre espiritual autêntico que nos proporcione a guia adequada para cumprir o propósito da vida. A literatura védica aconselha a nos aproximar de um mestre espiritual autêntico para assim nos livrar das perplexidades da vida que surgem sem nosso desejo. Elas são como um incêndio florestal que de alguma maneira arde sem que ninguém tenha acendido. De forma similar, a situação do mundo é tal que as perplexidades da vida aparecem por si só, sem que desejemos. Ninguém deseja o incêndio, no entanto, ele se produz e nós ficamos perplexos. A sabedoria Védica aconselha, portanto, que nos aproximemos de um mestre espiritual que esteja na sucessão discipular, a fim de resolver estas perplexidades e compreender a ciência de sua solução. Supõe-se que quem tem um mestre autêntico compreende tudo, assim que, não devemos permanecer nas perplexidades materiais, senão que devemos nos aproximar de um mestre espiritual autêntico.

8. Não encontro forma de separar este pesar que seca meus sentidos. Não poderei exterminá-lo ainda que ganhe um reino sem igual na Terra, com soberania semelhante a dos semideuses no céu.

9. Sanjaya disse: Depois de falar assim, Arjuna, o castigador dos inimigos, disse a Krishna, "Govinda, não lutarei", e emudeceu.

10. Ó descendente de Bharata! Nesse momento, Krishna com um sorriso, no meio dos dois exércitos, falou as seguintes palavras ao desconsolado Arjuna.

11. O bem-aventurado Senhor disse: Ao falar palavras sábias, você se lamenta pelo que não é digno de lamentação. Aqueles que são sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.

Iluminação: Srila Prabhupada explica que o Senhor assumiu de imediato a posição de mestre e repreendeu Seu discípulo, chamando-o indiretamente de tolo. O Senhor disse: "Fala como um erudito, mas ignora que aquele que é sábio, aquele que sabe sobre o corpo e a alma não se lamenta por nenhuma etapa do corpo, esteja vivo ou morto". Como se explicará em capítulos posteriores, será aclarado que sabedoria significa conhecer tanto a matéria como o espírito, e o controlador de ambos. Arjuna argumentava que se devia dar mais importância aos princípios religiosos que à política ou à sociologia, mas ignorava que o conhecimento da matéria, da alma e do Supremo é todavia mais importante que os dogmas religiosos, e ao carecer de tal conhecimento, não devia querer se passar por alguém instruído, já que na realidade não era muito sábio e se lamentava por algo que não era digno de lamentação. O corpo nasce e está destinado a morrer hoje ou amanhã, portanto, não é tão valioso como a alma. Quem sabe disto é sábio de verdade e para ele não há causa de lamentação, seja qual for a condição do corpo material.

12. Não houve jamais um tempo em que Eu não existisse; nem você, nem todos estes reis, nem no futuro nenhum de nós deixará de existir.

13. Assim como neste corpo o ser corporificado passa continuamente da infância para a juventude e logo depois à velhice, de forma similar, quando chega a morte, a alma passa para outro corpo. O ser auto-realizado não se confunde com essa mudança.

14. Ó Arjuna (filho de Kunti)! A aparição temporária de felicidade e aflição, e sua desaparição no devido tempo, são como a aparição e desaparição das estações do inverno e do verão, que surgem da percepção sensorial, e se deve aprender a tolerá-las sem se perturbar. Ó descendente de Bharata!

15. Ó melhor entre os homens (Arjuna)! A pessoa que não se perturba pela dor nem pelo prazer e permanece firme em ambos, certamente é elegível para a liberação.

16. Aqueles que são videntes da verdade concluíram que não há duração do inexistente, nem cessação do existente. Os videntes concluíram isso mediante o estudo da natureza de ambos.

17. Saiba que aquilo que penetra o corpo é indestrutível. Ninguém pode destruir a alma imperecível.

18. Só o corpo material do ser vivo, que é indestrutível, incomensurável e eterno, está sujeito à destruição; portanto, lute, ó descendente de Bharata!

19. Quem pensa que o ser vivo é quem mata ou é morto, não compreende. Aquele que tem conhecimento sabe que o eu não mata nem é morto.

20. Nunca há nascimento nem morte para a alma. Por existir uma vez, nunca deixa de ser jamais. A alma é não nascida, eterna, sempre existente, imortal e primordial. Não se pode matá-la quando se mata o corpo.

21. Ó Arjuna (Partha)! Ao saber que a alma é indestrutível, sem nascimento, eterna e imutável, como pode uma pessoa matar alguém ou fazer que alguém mate?

22. Tal como uma pessoa põe roupas novas quando deixa as velhas, do mesmo jeito, a alma aceita novos corpos materiais, quando abandona os velhos e inúteis.

23. A alma nunca pode ser cortada em pedaços por nenhuma arma, nem pode ser queimada pelo fogo, nem umedecida pela água, nem seca pelo vento.

24. Essa alma individual é irrompível e insolúvel, e não pode ser queimada, nem seca. É eterna, penetrante, imutável, imóvel e eternamente a mesma.

25. Diz-se que a alma é invisível, inconcebível, imutável e inalterável. Ao saber disso, não deve se afligir pelo corpo.

26. E ainda se pensa que a alma nasce perpetuamente e sempre morre, ainda assim, não tem razão para se lamentar, ó Arjuna de braços poderosos.

27. Pois, para o que nasce, a morte é certeza; e para aquele que morreu, o nascimento é certo. Portanto, não deve se lamentar no inevitável desempenho de seu dever.

28. Todos os seres criados são não manifestos em seu começo, manifestos em seu estado intermediário e outra vez, não manifestos quando são aniquilados. Assim pois, qual a necessidade de se lamentar?

29. Alguns consideram a alma como algo assombroso, outros a descrevem como algo assombroso, e outros ouvem falar dela como algo assombroso, enquanto que outros, ainda depois de ouvirem muito sobre ela, não conseguem compreendê-la nem um pouco.

30. Ó Arjuna (Descendente de Bharata)! O que mora no corpo é eterno e nunca pode ser morto. Assim pois, não deve se lamentar por nenhuma criatura.

31. Considere seu dever específico como kshatriya, e saiba que não existe para você uma ocupação melhor que a de lutar com base em princípios religiosos, assim não há necessidade de vacilar.

32. Ó Arjuna (Partha)! Felizes os kshatriyas, que sem procurar, conseguem oportunidade de luta semelhante, que abre para eles todas as portas dos planetas celestiais.

33. Não obstante, se não lutar nesta guerra religiosa, certamente incorrerá em pecado por não cumprimento de seus deveres, e assim perderá sua reputação como guerreiro.

34. As pessoas falarão sempre da sua infâmia, e para quem recebeu honras, a desonra é pior que a morte.

35. Os grandes generais que têm seu nome e sua fama em alta estima pensarão que abandonou o campo de batalha somente por temor, e por isso, considerarão você um covarde.

36. Seus inimigos descreverão você com muitas palavras ásperas e depreciarão sua habilidade. Que poderia ser mais doloroso para você?

37. Ó Arjuna (Filho de Kunti)! Ou morra no campo de batalha e alcance os planetas celestiais, ou conquiste e desfrute o reino terreno. Levante-se pois, e lute com determinação.

38. Lute por lutar, sem levar em conta a felicidade ou o sofrimento, a perda ou o ganho, a vitória ou a derrota, se atuar assim, nunca cometerá pecado.

39. Até agora, falei a você o conhecimento analítico da filosofia sankhya. Agora, escute o conhecimento do yoga pelo qual a pessoa trabalha livre do resultado lucrativo. Ó Arjuna (filho de Pritha)! Quando você atua com tal inteligência, pode se liberar do cativeiro das ações.

40. Neste esforço não há perdas nem diminuição, e um pequeno avanço neste caminho protege a pessoa do mais perigoso tipo de temor.

41. Aqueles que estão neste caminho são determinados em seu propósito e sua meta é uma. Ó Arjuna! A inteligência dos irresolutos tem ramificações ilimitadas.

Iluminação de Srila Prabhupada:
Uma forte fé na Consciência de Krishna que eleva a pessoa à máxima perfeição da vida se chama inteligência vyavasayatmika. O Sri Chaitanya Charitamrita (Madhya 22.62) afirma:

'sraddha'-sabde----visvasa kahe sudrdha niscaya
krsne bhakti kaile sarva-karma krta haya

Fé significa confiança inabalável em algo sublime. Quando a pessoa se dedica aos deveres da Consciência de Krishna, não precisa agir em relação ao mundo material com as obrigações das tradições familiares, humanidade ou nacionalidade. Atividades lucrativas são as obrigações das reações da pessoa em relação a suas ações passadas boas ou más. Quando a pessoa desperta a Consciência de Krishna, não precisa se esforçar por bons resultados em suas atividades. Quando a pessoa se situa em Consciência de Krishna, todas atividades ficam no plano absoluto, porque não estão mais sujeitas às dualidades como bem e mal. A perfeição mais elevada da Consciência de Krishna é a renúncia do conceito material da vida. Esse estado se atinge automaticamente pela Consciência de Krishna progressiva. A determinação resoluta da pessoa em Consciência de Krishna se baseia no conhecimento, vasudevah sarvam iti sa mahatma su-durlabhah, com o qual a pessoa passa a saber perfeitamente que Vasudeva, ou Krishna, é a raiz de todas causas materiais. Assim como a água na raiz de uma árvore é automaticamente distribuída para as folhas e galhos, em Consciência de Krishna, a pessoa pode prestar o maior serviço a todos, a saber, família, sociedade, país, humanidade, etc.. Se Krishna ficar satisfeito com as ações da pessoa, então todos ficarão satisfeitos.
Porém, o serviço em Consciência de Krishna é melhor praticado sob a guia adequada do mestre espiritual que é um representante autêntico de Krishna, que conhece a natureza do aluno e pode guiá-lo para agir em Consciência de Krishna. Dessa forma, para ser bem versado em Consciência de Krishna, a pessoa tem que agir firmemente e obedecer ao representante de Krishna, e tem que aceitar a instrução do mestre espiritual autêntico como a missão de sua vida. Srila Visvanatha Chakravarti Thakura nos instrui em suas famosas preces ao mestre espiritual como se segue:

yasya prasadad bhagavat-prasado
yasyaprasadan na gatih kuto 'pi
dhyayan stuvams tasya yasas tri-sandhyam
vande guroh sri-caranaravindam

"Pela satisfação do mestre espiritual, a Suprema Personalidade de Deus fica satisfeita. E sem satisfazer o mestre espiritual, não há nenhuma chance de ser promovido ao plano da Consciência de Krishna. Por isso tenho que meditar nele e rogar por sua misericórdia pelo menos três vezes ao dia, e prestar respeitosas reverências a ele, meu mestre espiritual".
Entretanto, todo o processo depende do conhecimento perfeito da alma além do conceito do corpo, não teoricamente mas na prática, quando não há mais chance para o prazer sensual manifesto em atividades lucrativas. A pessoa que não estava fixa com firmeza na mente fica distraída com vários tipos de atividades lucrativas.

42-43. As pessoas de escasso conhecimento se apegam muito às palavras floreadas dos Vedas, que recomendam diversas atividades lucrativas para elevação aos planetas celestiais, um próximo bom nascimento, poder, e assim por diante. Como têm desejo de satisfazer os sentidos e de ter uma vida opulenta, elas dizem que não há nada mais que isto.

44. Na mente daqueles que têm demasiado apego ao prazer dos sentidos e à opulência material, e que estão confusos por tais coisas, a determinação resoluta para o serviço devocional ao Senhor Supremo não se apresenta.

45. Os Vedas tratam principalmente sobre o tema das três modalidades da natureza material, eleve-se sobre essas modalidades, ó Arjuna! Seja transcendental a todas elas. Libere-se de todas as dualidades e de todas as ansiedades por segurança e ganho, e se fixe no eu.

46. Todo sucesso conseguido pelo pequeno poço pode cumprir-se de imediato pelas grandes correntes de água. De forma similar, todos os propósitos dos Vedas podem ser cumpridos por aquele que conhece o objetivo que há por trás deles.

47. Você tem o direito de cumprir seu dever prescrito, mas não aos frutos da ação. Nunca se considere a causa dos resultados de suas atitudes, nem jamais se apegue ao não cumprimento de seu dever.

48. Seja firme no yoga, ó Arjuna! Execute seu dever e abandone todo apego por êxito ou fracasso. Semelhante estabilidade mental se chama yoga.

49. Ó Arjuna (Dhananjaya)! Desfaça-se de toda atividade lucrativa por meio do serviço devocional e se renda por completo a esta consciência. Aqueles que desejam gozar do fruto de seu trabalho são avaros.

50. Uma pessoa dedicada ao serviço devocional se desfaz tanto das boas ações como das más, ainda nesta vida, por isso, ó Arjuna, esforce-se pelo yoga, que é a arte de todo trabalho.

51. Os sábios, dedicados ao serviço devocional, se refugiam no Senhor, e pela renúncia aos frutos da ação no mundo material, liberam-se do ciclo de nascimentos e mortes, dessa maneira, eles podem alcançar esse estado que está além de todas as misérias.

52. Quando sua inteligência sair do espesso bosque da ilusão, vai se tornar indiferente a tudo o que se tenha ouvido e a tudo que está por se ouvir.

53. Quando sua inteligência não se confundir mais pela linguagem floreada dos Vedas e permanecer fixa no transe da auto-realização, então alcançou a consciência divina.

54. Arjuna disse: Quais são os sintomas daquele cuja consciência está assim absorta na transcendência? Como fala e qual é sua linguagem? Como se senta e como caminha?

55. O bem-aventurado Senhor disse: Ó Arjuna (Partha)! Diz-se que uma pessoa está em consciência transcendental pura quando renuncia a toda classe de desejo pela satisfação dos sentidos, os quais surgem do funcionamento mental, e quando sua mente encontra satisfação unicamente no eu.

56. Aquele que não se perturba apesar das três misérias, nem se exalta quando há felicidade, e que está livre de todo apego, temor e ira, é chamado sábio com mente estável.

57. Aquele que não tem apego, que não se alegra quando obtém o bem, nem se entristece quando obtém o mal, encontra-se firmemente situado no conhecimento perfeito.

58. Aquele que é capaz de retrair seus sentidos dos objetos dos sentidos, tal como a tartaruga retrai suas extremidades dentro da carapaça, deve ser considerado como estabelecido no conhecimento verdadeiro.

59. Ainda que o ser corporificado se esforce por renunciar ao prazer dos sentidos mediante regras severas, todavia permanece com o mesmo desejo sensual, mas ao experimentar o Supremo, que é um gosto superior, sim, pode dar as costas ao mundo material.

60. Ó Arjuna! Os sentidos são tão fortes e impetuosos que arrastam pela força inclusive a mente de uma pessoa de discernimento que se esforça por controlá-los.

61. Aquele que restringe seus sentidos e fixa sua consciência em Mim, é conhecido como uma pessoa de inteligência estável.

62. Ao contemplar os objetos dos sentidos uma pessoa desenvolve apego por eles, desse apego nasce a luxúria, e da luxúria surge a ira.

63. Da ira surge a ilusão e da ilusão a confusão da memória. Quando a memória se confunde, se perde a inteligência, e quando a inteligência se perde, a pessoa cai de novo no charco material.

64. Quem pode controlar seus sentidos mediante a prática dos princípios regulados da liberdade, pode obter a misericórdia plena do Senhor e se libera assim de todo apego e aversão.

65. Ao alcançar a misericórdia do Senhor todas as misérias da existência material se destroem. Em tal estado bem-aventurado, a inteligência do praticante transcendental logo se estabiliza.

66. Quem não está situado na consciência transcendental não pode ter nem uma mente controlada nem uma inteligência estável, sem o que não há possibilidade de paz e, como pode haver alguma felicidade sem paz?

67. Assim como um forte vento arrasta um bote sobre a água, tão só um dos sentidos em que a mente se concentre, pode arrastar a inteligência da pessoa.

68. Portanto, ó Arjuna de braços poderosos! Aquele cujos sentidos estão restringidos de seus objetos, é certamente de inteligência estável.

69. Quando para todos os seres é noite, é o momento de despertar para o auto-controlado e o momento de despertar para todos os seres, é noite para o sábio introspectivo.

Iluminação: Srila Prabhupada explica que há dois tipos de pessoas inteligentes. Uma tem inteligência para atividades materiais de satisfação sensual, e a outra é introspectiva e ciente sobre o cultivo da auto-realização. Atividades do sábio introspectivo, a pessoa consciente, são "noite" para pessoas absortas na matéria. Pessoas materialistas dormem nessa noite por causa de sua ignorância sobre auto-realização. O sábio introspectivo permanece alerta na "noite" das pessoas materialistas. A pessoa sábia sente prazer transcendental com o avanço gradual da cultura espiritual, enquanto a materialista, dormente para auto-realização, sonha com uma variedade de prazeres sensuais, às vezes fica feliz e outras, infeliz, em sua condição sonolenta. A pessoa introspectiva é sempre indiferente à felicidade ou tristeza materiais. Ela continua suas atividades de auto-realização sem se perturbar com reações materiais.

70. Uma pessoa que não se perturba pelo incessante fluir dos desejos, como o oceano que recebe os rios sempre mas permanece em equilíbrio, é a única que pode alcançar a paz, e não aquela que se esforça por satisfazer tais desejos.

71. Somente pode alcançar a paz verdadeira, a pessoa que renunciou a todos os desejos pela satisfação dos sentidos, que vive livre de desejos, que renunciou a todo senso de propriedade e que está desprovida do falso ego.

72. Este é o caminho da vida espiritual e divina, depois de alcançá-la, a pessoa não se confunde mais. Ao se situar assim, a pessoa pode entrar no reino de Deus, mesmo na hora da morte.

 

 

Capítulo Três

Karma-yoga

1. Arjuna disse: Ó Krishna! (Ó Janardana! Ó Keshava)! Por que me impele a participar nesta guerra horrível se considera que a inteligência é melhor que o trabalho lucrativo?

2. Minha inteligência está confusa por Suas instruções ambíguas. Assim por favor, diga-me de forma definitiva, o que é melhor para mim.

3. O bem-aventurado Senhor disse: Ó impecável Arjuna! Já expliquei que há duas classes de pessoas que compreendem o eu. Algumas se inclinam a compreendê-lo mediante a especulação filosófica empírica, e outros se inclinam a conhecê-lo mediante o trabalho devocional.

4. A pessoa não pode se liberar da reação simplesmente por se abster do trabalho, nem pode alcançar a perfeição unicamente pela renúncia.

5. Todas pessoas estão irremediavelmente forçadas a atuar conforme os impulsos nascidos das modalidades da natureza material; portanto, ninguém pode se abster de fazer algo, nem sequer por um momento.

6. Aquele que restringe os sentidos e os órgãos da ação, mas cuja mente mora nos objetos dos sentidos, certamente engana a si mesmo e é chamado farsante.

7. Por outro lado, aquele que controla os sentidos com a mente e ocupa sem apego seus órgãos ativos em trabalhos devocionais, é muito superior.

8. Execute seu dever prescrito, pois a ação é melhor que a inação. Sem o trabalho, a pessoa nem sequer pode manter seu corpo físico.

9. O trabalho deve ser executado como um sacrifício a Deus (Vishnu), de outro modo, o trabalho ata a pessoa a este mundo material. Portanto, ó Arjuna (filho de Kunti), execute seus deveres prescritos para a satisfação Dele, e dessa forma, sempre permanecerá desapegado e livre do cativeiro.

10. No princípio da criação, o Senhor de todas as criaturas manifestou gerações de homens e semideuses junto com sacrifícios para Vishnu, e os abençoou ao dizer: "Sejam felizes com este sacrifício, porque sua realização proporcionará a vocês todas as coisas desejáveis".

Iluminação: Srila Prabhupada nos ensina: Esta criação material, feita pelo Senhor das criaturas (Vishnu), é uma oportunidade que se oferece aos seres vivos para regressar ao lar, regressar a Deus. Todos os seres vivos dentro da criação material estão condicionados pela natureza material, devido ao esquecimento de sua relação com Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Os princípios védicos são para nos ajudar a compreender essa relação eterna, tal como se estabelece no Bhagavad-gita: "Eu sou o que deve de ser conhecido em todo conteúdo dos Vedas".

11. Os semideuses satisfeitos com os sacrifícios, também os satisfarão. Dessa forma, com a nutrição recíproca, reinará a máxima prosperidade para todos.

12. Os semideuses que estão a cargo das diversas necessidades da vida, ao estarem satisfeitos com a execução do sacrifício, abastecem os seres vivos com tudo o que necessitam. Mas aquele que aproveita esses dons sem oferecê-los de volta aos semideuses, certamente é um ladrão.

13. Os devotos do Senhor se liberam de toda classe de pecados porque comem alimentos que se oferece primeiro em sacrifício. Os demais, que preparam alimentos para o seu próprio prazer dos sentidos, na verdade comem somente pecados.

14. Todos os corpos vivos subsistem de grãos alimentícios, que se produzem das chuvas. As chuvas se produzem pela execução de sacrifício, e o sacrifício nasce dos deveres prescritos.

15. Nos Vedas se prescrevem atividades reguladas, e os Vedas se manifestam diretamente da Suprema Personalidade de Deus. Em conseqüência, a transcendência toda-penetrante se situa eternamente nos atos de sacrifício.

16. Meu querido Arjuna, a pessoa que não segue o sistema de sacrifício prescrito nos Vedas, leva na verdade uma vida de pecado, porque aquele que se deleita unicamente nos sentidos, vive em vão.

17. No entanto, não há dever para aquele que se deleita no eu, que está iluminado no eu, que se regozija e que, plenamente saciado, se satisfaz unicamente no eu.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: O Supremo é, para os devotos, a Personalidade de Deus, e para os impersonalistas é a liberação. Portanto, uma pessoa que atua para Krishna, ou seja, em consciência de Krishna, sob uma guia adequada e sem apego ao resultado do trabalho, certamente progride até a meta suprema da vida. Arjuna recebeu a ordem de lutar na batalha de Kurukshetra pelo interesse de Krishna, pois Krishna queria que ele lutasse. Ser uma pessoa boa ou uma pessoa não violenta é um apego pessoal, mas atuar pelo Supremo é atuar sem apego ao resultado. Essa é a ação perfeita do grau mais elevado que recomenda Sri Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Os rituais védicos, tais como os sacrifícios prescritos, são levados a cabo para purificar as atividades ímpias realizadas com o fim da satisfação pessoal. Mas a atividade em consciência de Krishna é transcendental às reações do trabalho bom ou mau. Uma pessoa em consciência de Krishna não tem apego pelo resultado, senão que atua unicamente para Krishna. Ela se ocupa em todo tipo de atividades, mas está completamente desapegada.

18. A pessoa auto-realizada não tem nenhum propósito para satisfazer enquanto desempenha seus deveres prescritos, nem tem algum motivo para deixar de executar tal trabalho, nem tem necessidade de depender de nenhum outro ser vivo.

19. Portanto, a pessoa deve atuar como uma questão de dever, sem se apegar aos frutos das atividades, porque se trabalhar sem apego, a pessoa alcança o Supremo.

20. Inclusive reis como Janaka e outros alcançaram a etapa da perfeição mediante a execução dos deveres prescritos. Portanto, deve executar seu trabalho unicamente para educar as pessoas em geral.

21. As pessoas comuns seguem os passos de um grande homem, qualquer que seja a ação que este execute, e quaisquer que sejam as normas que ele estabeleça mediante seus atos exemplares, serão seguidas por todo mundo.

22. Ó Arjuna! Não há trabalho prescrito para Mim dentro dos três sistemas planetários. Nem necessito nada, nem tenho que obter nada; ainda assim, Eu Me ocupo no trabalho.

23. Pois se Eu não Me ocupasse no trabalho, ó Arjuna (Partha), certamente todas pessoas seguiriam Meus passos.

24. Se Eu deixasse de trabalhar, então todos estes mundos iriam à ruína. Eu também seria a causa de população não desejada e, por conseguinte, destruiria a paz de todos os seres conscientes.

25. Assim como os ignorantes executam seus deveres com apego aos resultados, de forma similar, os sábios devem atuar também, mas sem apego, a fim de conduzir as pessoas pelo caminho correto.

26. Os sábios não devem perturbar a mente dos ignorantes que estão apegados à ação lucrativa. Não se deve incitá-los a se abster do trabalho, senão a trabalhar com espírito de devoção.

27. Por estar sob a influência dos três modos da natureza material, o ser vivo confuso se crê o executor das atividades, que na realidade são levadas a cabo pela natureza.

28. Ó Arjuna de braços poderosos! Aquele que conhece a Verdade Absoluta não se ocupa nem nos sentidos, nem na satisfação desses, pois conhece bem a diferença entre o trabalho devocional e o trabalho pelos resultados lucrativos.

29. Os ignorantes, iludidos pelos modos da natureza material, se ocupam totalmente em atividades materiais e se apegam. Mas os sábios não devem perturbá-los, ainda que esses compromissos sejam inferiores devido à falta de conhecimento da parte dos executores.

30. Portanto, ó Arjuna, entregue-Me todas suas ações, com sua mente absorta em Mim, sem desejo de ganho, livre de egoísmo e letargia, lute.

31. Aqueles que executam seus deveres de acordo com Minhas ordens e que seguem estes ensinamentos fielmente, sem inveja, se liberam do cativeiro das ações lucrativas.

32. Mas aqueles que devido à inveja fazem caso omisso destes ensinamentos e não os praticam regularmente, devem ser considerados desprovidos de todo conhecimento, enganados e condenados à ignorância e ao cativeiro.

33. Mesmo a pessoa com conhecimento atua de acordo com sua própria natureza pois cada qual segue sua natureza de acordo as três modalidades adquiridas. Que pode se alcançar com a repressão?

34. Os seres corporificados sentem atração e repulsão pelos objetos dos sentidos, mas não se deve cair sob o controle dos sentidos e dos objetos dos sentidos, pois eles são obstáculos no caminho da auto-realização.

35. É muito melhor executar os próprios deveres prescritos, ainda que seja de forma defeituosa, do que executar o dever de outro. É preferível a destruição enquanto se executa os deveres próprios, que se ocupar nos deveres alheios, já que é perigoso seguir o caminho de outro.

36. Arjuna disse: Ó Krishna (descendente de Vrisni)! O que faz a pessoa cometer atos pecaminosos, ainda que involuntariamente, como se fosse obrigada pela força?

37. O bem-aventurado Senhor disse: É unicamente a luxúria, Arjuna, que nasce do contato com as modalidades materiais da paixão. Esta luxúria logo se transforma em ira, devora tudo e constitui o inimigo pecaminoso deste mundo.

38. Assim como a fumaça encobre o fogo, ou como o pó encobre um espelho, ou como o ventre encobre o embrião, de forma similar, o ser vivo é encoberto por diferentes graus desta luxúria.

39. Assim a consciência pura do ser vivo está coberta por seu inimigo eterno, na forma da luxúria, que nunca se satisfaz e arde como o fogo.

40. Os sentidos, a mente e a inteligência são os lugares onde se situa a luxúria, que cobre o verdadeiro conhecimento do ser vivo e o confunde.

41. Portanto, ó Arjuna, o melhor dos Bharatas! Refreie desde o princípio esse grande símbolo do pecado (a luxúria) mediante a regulação dos sentidos, e mate esse destruidor do conhecimento e da auto-realização.

42. Os sentidos de trabalho são superiores à matéria inerte, a mente é superior aos sentidos, a inteligência é ainda mais elevada que a mente; e ela (a alma), é superior inclusive à inteligência.

43. Dessa maneira, sabendo-se transcendental aos sentidos, à mente e à inteligência materiais, a pessoa deve controlar o eu inferior por meio do eu superior, e assim, mediante a força espiritual, conquistar esse insaciável inimigo conhecido como luxúria.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui: Este Terceiro Capítulo do Bhagavad-gita dirige conclusivamente à consciência de Krishna, ao se conhecer a si mesmo como servente eterno da Suprema Personalidade de Deus, sem considerar o vazio impessoal como o fim último. Na existência material, a pessoa certamente está sob a influência da luxúria e o desejo de dominar os recursos da natureza material. Os desejos de assenhorear-se e de satisfazer os sentidos são os piores inimigos do ser condicionado; mas graças ao poder da consciência de Krishna, a pessoa pode controlar os sentidos materiais, a mente e a inteligência. Não se pode abandonar repentinamente o trabalho e os deveres prescritos, mas com desenvolvimento gradual da consciência de Krishna, a pessoa pode se situar em uma posição transcendental sem estar influenciada pela mente nem pelos sentidos materiais; e pode desenvolver uma inteligência firme e encaminhada para a própria identidade pura. Essa é a conclusão do presente capítulo. Na etapa imatura desta existência, nem as especulações filosóficas, nem as tentativas artificiais para controlar os sentidos mediante a suposta prática das posturas de yoga, poderão ajudar uma pessoa na vida espiritual. Tal pessoa deve treinar a consciência de Krishna com o uso de uma inteligência superior.

 

"Assim como neste corpo o ser vivo passa continuamente da infância para a juventude e depois à velhice, de forma similar, quando chega a morte, a alma passa para outro corpo. O ser auto-realizado não se confunde com essa mudança". (Bg. 2.13)

 

 

Capítulo Quatro

O Conhecimento Transcendental

1. O bem-aventurado Senhor disse: Eu instruí o deus do Sol, Vivasvan, sobre esta ciência imperecível do yoga, e Vivasvan ensinou Manu, o pai da humanidade, e Manu por sua vez ensinou Iksvaku.

2. Esta ciência suprema foi recebida assim, pela cadeia de sucessão discipular, e os reis santos puderam aprendê-la dessa forma. Mas no decurso do tempo, a sucessão se quebrou, por isso a ciência parece estar perdida agora.

3. Falo esta ciência antiqüíssima da relação com o Supremo a você hoje pois é Meu devoto bem como Meu amigo; portanto, você pode compreender o mistério transcendental desta ciência.

4. Arjuna disse: Vivasvan, o deus do Sol, é muito mais velho do que Você. Como posso entender que foi Você quem o instruiu sobre esta grande ciência no princípio?

5. O bem-aventurado Senhor disse: Você e Eu passamos por muitos nascimentos. Eu posso lembrar de todos, mas você não pode, ó Arjuna!

6. Mesmo que Eu não tenha nascimento e Meu corpo transcendental nunca se deteriore, e mesmo que Eu seja o Senhor de todos seres conscientes, ainda assim, Eu apareço em cada milênio na Minha forma original transcendental.

7. Sempre que acontece um declínio da prática religiosa, e onde quer que seja, ó Arjuna (descendente de Bharata), e um aumento predominante da irreligião, nesse momento, Eu descendo pessoalmente.

8. Eu venho pessoalmente milênio após milênio a fim de redimir os piedosos e aniquilar os malvados, assim como para restabelecer os princípios da religião.

9. Ó Arjuna! Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu advento e atividades nunca volta a nascer neste mundo material após deixar este corpo, mas alcança Minha morada eterna.

10. Muitas pessoas no passado que se livraram do apego, do temor e da ira, por estarem completamente absortas em Mim, e abrigadas em Mim, purificaram-se por meio do conhecimento sobre Mim, e assim, todas elas alcançaram o amor transcendental por Mim.

11. Na medida em que se rendem a Mim, Eu recompenso a todas pessoas. Ó Arjuna (filho de Pritha)! Cada qual segue Meu caminho em todos os aspectos.

12. As pessoas neste mundo desejam o êxito nas atividades lucrativas, por isso adoram os semideuses. As pessoas com certeza obtêm prontamente os resultados do trabalho lucrativo neste mundo.

13. As quatro divisões da sociedade humana foram criadas por Mim conforme os três modos da natureza material e o trabalho atribuído a eles. Apesar de ser Eu quem cria este sistema de trabalho, você deve saber que Eu não trabalho, pois sou imutável.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica: O Senhor é o criador de tudo. Tudo nasce Dele, Ele sustenta tudo, e depois da aniquilação tudo repousa Nele. Portanto, Ele é o criador das quatro divisões da ordem social, as quais começam com a classe das pessoas inteligentes, chamadas tecnicamente de brahmanas, pois estão situadas no modo da bondade. Depois vem a classe administrativa, chamada tecnicamente de kshatriya, com as pessoas situadas no modo da paixão. Os comerciantes e produtores chamados vaishyas estão situados numa mistura de paixão com ignorância; e os shudras, a classe operária, estão situados no modo da ignorância da natureza material. Apesar de haver criado as quatro divisões da sociedade humana, o Senhor Krishna não pertence a nenhuma divisão, porque Ele não é um ser vivo condicionado, os quais pertencem a uma seção conforme a sociedade humana. A sociedade humana é semelhante a qualquer outra sociedade animal, mas para elevar as pessoas do estado animal, o Senhor cria as divisões mencionadas acima para que haja o desenvolvimento sistemático da Consciência de Krishna.

14. Não há trabalho que Me afete, nem desejo os frutos da ação. Aquele que compreende esta verdade a Meu respeito, também não se enreda nas reações dos frutos do trabalho.

15. Todos os seres liberados atuaram anteriormente com esta compreensão e assim alcançaram a liberação. Portanto, igual aos antigos, você deve realizar seu dever com esta consciência divina.

16. Mesmo os inteligentes se confundem em determinar o que é a ação e o que é a inação. Vou explicar agora o que é a ação com a qual você se liberta de todos pecados.

17. As complexidades da ação são muito difíceis de se entender. Portanto, deve-se saber corretamente o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação.

18. Aquele que vê inação na ação e ação na inação é uma pessoa inteligente e está na posição transcendental mesmo que se ocupe em todos tipos de atividades.

19. Considera-se que alguém tem conhecimento pleno quando cada um de seus atos está desprovido do desejo de satisfação sensual. Os sábios dizem que é um trabalhador cuja ação lucrativa se queima no fogo do conhecimento perfeito.

20. Com o abandono de todo apego pelos resultados de suas atividades, sempre satisfeita e independente, ela não executa nenhuma ação lucrativa mesmo que se ocupe em todo tipo de atividade.

21. Tal pessoa de boa compreensão atua com a mente e inteligência perfeitamente controladas, abandona todo senso de propriedade sobre seus bens e atua unicamente pelas necessidades básicas da vida. Com esse trabalho, nunca é afetada pelas reações pecaminosas.

22. Aquele que está satisfeito com a ganância que surge por si só, que está livre da dualidade e não inveja, e é perseverante tanto no êxito como no fracasso, mesmo que execute ações, nunca se enreda.

23. O trabalho da pessoa que está desapegada dos modos da natureza material, e que está plenamente situada em conhecimento transcendental, funde-se totalmente na transcendência.

24. A pessoa que está plenamente absorta na Consciência de Krishna, seguramente alcançará o reino transcendental devido à sua contribuição total às atividades espirituais, nas quais, a consumação é absoluta, e aquele que se oferece é da mesma natureza espiritual.

25. Alguns yogis adoram perfeitamente os semideuses com oferendas de vários sacrifícios, e outros oferecem sacrifícios no fogo do Brahman Supremo.

26. Alguns deles sacrificam o processo de ouvir junto com os sentidos no fogo da mente controlada, e outros sacrificam os objetos dos sentidos, como o som, no fogo do sacrifício.

27. Aqueles que se interessam pela auto-realização por meio do controle da mente de dos sentidos, oferecem as funções de seus sentidos, o mesmo que a força vital (respiração), como oblações ao fogo da mente controlada.

28. Há outros que se iluminam com o sacrifício de seus bens materiais em severas austeridades, fazem votos severos e praticam o yoga óctuplo do misticismo, e outros estudam os Vedas para o progresso no conhecimento transcendental.

29. E ainda há outros que se inclinam ao processo de controlar a respiração para permanência em transe; eles praticam a detenção do movimento do ar vital que sai no ar vital que entra, e do ar vital que entra no ar vital que sai, e assim, no final permanecem em transe ao suspender toda respiração. Alguns deles, param o processo de alimentação, oferecem a respiração que sai a ela mesma, como um sacrifício.

30. Todos esses praticantes que conhecem o significado do sacrifício se limpam da reação pecaminosa e com a prova do néctar dos restos desse sacrifício, vão à suprema atmosfera eterna.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: Com a explicação dos diferentes tipos de sacrifício (o sacrifício dos bens pessoais, o estudo dos Vedas ou doutrinas filosóficas e a realização do sistema de yoga), percebe-se que a meta comum de todos é o controle dos sentidos. A satisfação dos sentidos é a causa básica da existência material; portanto, a menos e até que a pessoa se situe numa plataforma aparte da satisfação sensual, não há oportunidade de se elevar à plataforma eterna de conhecimento pleno, bem-aventurança plena e vida plena. Esta plataforma se encontra na atmosfera eterna, ou seja, a atmosfera de Brahman. Todos os sacrifícios mencionados ajudam na limpeza das reações pecaminosas da existência material. Com esse progresso na vida, a pessoa não somente se torna feliz e opulenta nesta vida, como também entra no reino eterno de Deus por último, ou com a fusão no Brahman impessoal ou com a companhia de Krishna, a Suprema Personalidade de Deus.

31. Ó Arjuna (o melhor da dinastia Kuru)! Sem sacrifício, ninguém pode viver feliz neste planeta ou nesta vida; que dizer então da seguinte?

32. Os Vedas aprovam todos esses diferentes tipos de sacrifícios e todos eles nascem de diferentes tipos de trabalho. Conhecê-los como são, vai libertar você.

33. Ó Arjuna (castigador do inimigo)! O sacrifício do conhecimento é melhor que o sacrifício dos bens materiais. Ó Arjuna (filho de Pritha)! Além do mais, o sacrifício do trabalho culmina no conhecimento transcendental.

34. Trate de aprender a verdade por se aproximar de um mestre espiritual. Inquira com submissão e preste serviço a ele. O ser auto-realizado pode dar o conhecimento a você pois ele vê a verdade.

Iluminação: Há muitas técnicas diferentes para a auto-realização. Srila Prabhupada nos instrui: O caminho da iluminação espiritual é difícil sem dúvida. Portanto, o Senhor nos aconselha a nos aproximarmos de um mestre espiritual autêntico na linha de sucessão discipular do próprio Senhor. Ninguém pode ser um mestre espiritual autêntico sem seguir esse princípio da sucessão discipular. O Senhor é o mestre espiritual original, e a pessoa que está na sucessão discipular pode comunicar a mensagem do Senhor, tal como ela é, a seu discípulo. Ninguém pode se iluminar com a invenção de seu próprio processo, como é a moda dos farsantes desorientados. O Bhagavatam diz: "O Senhor enuncia diretamente o caminho da religião". Portanto, a especulação mental ou os argumentos áridos não podem ajudar o progresso na vida espiritual. Para receber o conhecimento, a pessoa tem que se aproximar do mestre espiritual autêntico. Deve-se aceitar esse mestre espiritual com rendição plena e com a atitude de servo insignificante, a pessoa tem que servir ao mestre espiritual sem prestígio falso. A satisfação do mestre espiritual auto-realizado é o segredo do avanço na vida espiritual. As perguntas e a submissão constituem a combinação perfeita para a compreensão espiritual. A menos que haja submissão e serviço, as perguntas ao mestre espiritual erudito não serão efetivas. A pessoa deve ser capaz de passar na prova do mestre espiritual, e quando vê o desejo genuíno do discípulo, ele o abençoa automaticamente com a compreensão espiritual genuína. Este verso condena tanto a adesão cega quanto as perguntas absurdas. A pessoa não deve somente ouvir com submissão do mestre espiritual, mas também deve obter uma compreensão clara da parte dele, com submissão, serviço e perguntas. Um mestre espiritual autêntico é muito bondoso com o discípulo por natureza. Portanto, quando o estudante é submisso e está sempre pronto a prestar serviço, a reciprocidade do conhecimento e das perguntas se torna perfeita.

35. E assim, quando você aprender a verdade, saberá que todos os seres viventes são somente parte de Mim, que estão em Mim, e que são Meus.

36. Mesmo quando se considerar o maior pecador de todos os pecadores, quando se situar na nave do conhecimento transcendental, será capaz de cruzar o oceano das misérias.

37. Ó Arjuna! Tal como o fogo ardente converte a lenha em cinzas, o fogo do conhecimento reduz a cinzas todas as reações das atividades materiais.

38. Não há nada tão sublime e puro neste mundo como o conhecimento transcendental. Tal conhecimento é o fruto maduro de todo o misticismo, e aquele que o alcança desfruta no devido tempo daquilo que está dentro de si mesmo.

39. A pessoa fiel que está absorta no conhecimento transcendental e que subjuga seus sentidos, alcança rápido a suprema paz espiritual.

40. Mas as pessoas ignorantes e infiéis, que duvidam das escrituras reveladas, não alcançam a consciência de Deus. Para o ser que duvida, não há felicidade nem nesta vida nem na próxima.

41. Portanto, aquele que renunciou aos frutos de sua ação, cujas dúvidas foram destruídas pelo conhecimento transcendental e que está situado firmemente no eu, não se prende às ações, ó conquistador de riquezas!

42. Portanto, as dúvidas que surgiram em seu coração devido à ignorância devem ser cortadas com a arma do conhecimento. Com a arma do yoga, ó Arjuna (descendente de Bharata), levante-se e lute!

 

Arjuna disse: Ó Krishna! (Ó Janardana! Ó Keshava)! Por que me impele a participar nesta guerra horrível se considera que a inteligência é melhor que o trabalho lucrativo?
Minha inteligência está confusa por Suas instruções ambíguas. Assim por favor, diga-me de forma definitiva, o que é melhor para mim (Bg. 3.1-2).

 

 

Capítulo Cinco

Karma-yoga:

Ação em Consciência de Krishna

1. Arjuna disse: Ó Krishna! Primeiro Você me pede para renunciar ao trabalho e depois me recomenda de novo o trabalho com devoção. Tenha a bondade agora de me dizer de forma definitiva, qual dos dois é o mais benéfico?

2. O bem-aventurado Senhor disse: Tanto a renúncia aos frutos do trabalho quanto o trabalho com devoção são bons para a liberação. Mas entre os dois, o trabalho com serviço devocional é melhor que a renúncia ao trabalho.

3. Aquele que não odeia nem deseja os frutos de suas atividades é conhecido como sempre renunciante. Tal pessoa, liberada de todas dualidades, supera facilmente o cativeiro material e fica completamente liberada, ó Arjuna, de braços poderosos!

4. Só os ignorantes falam que karma-yoga e serviço devocional são diferentes do estudo analítico do mundo material (sankhya). Os verdadeiros eruditos dizem que a pessoa que se dedica bem a um desses caminhos, alcança os resultados de ambos.

5. Quem sabe que a posição alcançada pela renúncia também se pode alcançar pelo trabalho em serviço devocional, e que, portanto, vê que o caminho da devoção e o da renúncia são o mesmo, vê as coisas como elas são.

6. A menos que a pessoa se dedique ao serviço devocional do Senhor, a simples renúncia das atividades não pode fazê-la feliz. Os sábios, purificados pelos trabalhos devocionais, alcançam o Supremo sem demora.

7. Aquele que trabalha com devoção, que é um ser puro e que controla sua mente e sentidos, é querido por todos e todos são queridos por ele. Mesmo que trabalhe constantemente, essa pessoa nunca se enreda.

8-9. A pessoa em consciência divina, mesmo que se ocupe em ver, ouvir, tocar, cheirar, comer, mover-se, dormir e respirar, sempre sabe interiormente que ela não faz nada em absoluto. Pois quando fala, evacua, recebe, abre ou fecha os olhos, sempre sabe que só os sentidos materiais que se ocupam em seus objetos, e que ela está à parte deles.

10. Aquele que executa seu dever sem apego, e entrega os resultados ao Deus Supremo, não se afeta pela ação pecaminosa, tal como a pétala da flor de lótus que nunca é tocada pela água.

11. Os yogis, que abandonaram o apego, atuam com o corpo, a mente, a inteligência e inclusive os sentidos com o único propósito de se purificarem.

12. A alma firmemente consagrada alcança a paz pura porque Me oferece o resultado de todas suas atividades; enquanto a pessoa que não está em união com o Divino e que cobiça os frutos de seu trabalho, enreda-se.

13. Quando o ser vivente corporificado controla sua natureza e renuncia mentalmente a todas ações, reside felizmente na cidade das nove portas (o corpo material), sem trabalhar nem causar que se execute trabalho.

14. O ser corporificado, amo da cidade de seu corpo, não cria atividades nem induz pessoas a atuarem, nem cria os frutos da ação. Tudo isso é causado pelos modos da natureza material.

15. O Espírito Supremo também não assume as atividades pecaminosas ou piedosas de ninguém. Entretanto, os seres corporificados estão confusos por causa da ignorância que encobre seu verdadeiro conhecimento.

16. Porém, quando alguém se ilumina com o conhecimento que destrói a ignorância, seu conhecimento revela tudo a ele, assim como o Sol ilumina tudo durante o dia.

Iluminação: Srila Prabhupada nos ensina: Aqueles que se esqueceram de Krishna, com certeza estão confusos, mas aqueles que são conscientes de Krishna não ficam confusos de jeito nenhum.

17. Quando a inteligência, a mente, a fé e o refúgio estão todos fixos no Supremo, a pessoa se limpa por completo de todos receios por meio do conhecimento da verdade e segue assim sem desvio no caminho da liberação.

18. O sábio humilde, devido a seu conhecimento verdadeiro, vê com igualdade um brahmana venerável e sábio, uma vaca, um elefante, um cão e um comedor de cães (chandala), ou pária.

19. Aqueles cujas mentes se estabeleceram na igualdade e no equilíbrio, já conquistaram as condições do nascimento e da morte. São impecáveis como o Brahman, e assim, estão situados no Brahman.

20. Deve-se entender que a pessoa que não se regozija ao obter prazer nem se lamenta ao obter desagrado, é inteligente com destaque, nunca se confunde, e conhece a ciência de Deus, pois está situada na transcendência.

21. Essa pessoa liberada não se atrai ao prazer sensual material nem aos objetos externos, mas está sempre em transe na satisfação do prazer interno. Assim, a pessoa auto-realizada desfruta a felicidade ilimitada pois se concentra no Supremo.

22. A pessoa inteligente não participa das fontes da miséria, as quais acontecem com o contato dos sentidos materiais. Ó filho de Kunti! Esses prazeres têm um princípio e um fim, por isso a pessoa sábia não se deleita com eles.

23. A pessoa capaz de tolerar os impulsos dos sentidos materiais e dominar a força do desejo e da ira, antes de deixar o corpo atual, é um yogi e é feliz neste mundo.

24. Aquele cuja felicidade é interna, que é ativo internamente, que se satisfaz em seu próprio interior, é na realidade o místico perfeito. Ele está liberado no Supremo e no final alcança o Supremo.

25. Aquele que está além da dualidade e da dúvida, cuja mente está ocupada dentro de si mesmo, que sempre se preocupa em procurar o bem estar de todos os seres conscientes e que está livre de todo pecado, alcança a liberação no Supremo.

26. Aqueles que estão livres da ira e de todos desejos materiais, que são auto-realizados, autodisciplinados e que constantemente se esforçam pela perfeição, têm a liberação no Supremo assegurada num futuro muito próximo.

27-28. Excluir todos os objetos externos dos sentidos, manter os olhos e a visão concentrados entre as sobrancelhas, suspender a respiração que entra e sai das fossas nasais, assim controlar a mente, os sentidos e a inteligência, o praticante da transcendência se liberta do desejo, do temor e da ira. Quem está sempre nesse estado, está liberado com toda certeza.

29. Os sábios que Me conhecem como o beneficiário último de todos os sacrifícios e austeridades, o Senhor Supremo de todos os planetas e semideuses, e o benfeitor e benquerente de todos os seres viventes, obtêm o alívio das angústias causadas pelas misérias materiais.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica: Todos os seres condicionados que se encontram dentro das garras da energia ilusória, anseiam obter a paz no mundo material. Mas não conhecem a fórmula para a paz, a qual se explica nesta parte do Bhagavad-gita. A melhor fórmula da paz é simplesmente isso: O Senhor Krishna é o beneficiário de todas as atividades humanas. As pessoas devem oferecer tudo no serviço transcendental ao Senhor, porque Ele é o proprietário de todos os planetas e de seus respectivos semideuses. Ninguém é maior que Ele. Ele é o maior entre os maiores semideuses, tais como o Senhor Shiva e Brahma. Os Vedas descrevem isto. Sob o feitiço da ilusão, os seres viventes tratam de ser os senhores de tudo que contemplam, mas na realidade a energia material do Senhor os domina. O Senhor é o amo da natureza material e os seres condicionados estão sob as severas regras da natureza material. A menos que se compreendam estes fatos claros, não é possível alcançar a paz no mundo, seja individual ou coletiva. Este é o sentido da consciência de Krishna: o Senhor Krishna é o predominante supremo, e todas os seres viventes, inclusive a os grandes semideuses, são Seus subordinados. Só se pode alcançar a paz perfeita em completa consciência de Krishna.

 

 

Capítulo Seis

Sankhya-yoga

1. O bem-aventurado Senhor disse: Aquele que está desapegado dos frutos de seu trabalho e que trabalha de acordo com sua obrigação está na ordem renunciada da vida, e é o verdadeiro místico; não aquele que não acende nenhum fogo nem executa nenhum trabalho.

Iluminação: Srila Prabhupada ensina: Neste Capítulo o Senhor explica o processo do sistema óctuplo de yoga como um meio de controlar a mente e os sentidos. Sem dúvida, isso é muito difícil de ser praticado pelas pessoas em geral, especialmente na era do ferro. Mesmo que se recomenda o sistema óctuplo de yoga neste Capítulo, o Senhor enfatiza que o processo de karma-yoga, ou seja, atuar em consciência de Krishna, é melhor. Todos atuam neste mundo para manter sua família e seus pertences, mas ninguém trabalha sem algum interesse próprio, sem nenhuma satisfação pessoal, ou seja, concentrada em uma pessoa ou estendida a outras. A chave da perfeição é atuar com consciência de Krishna e não com o objetivo de aproveitar os frutos do trabalho. Atuar com consciência de Krishna é o dever de todo ser vivente, já que todos são constitucionalmente partes ou porções do Supremo.

2. O que se denomina renúncia é o mesmo que yoga, ou restabelecer o elo com o Supremo, pois ninguém pode se converter num yogi se não renuncia ao desejo de satisfação sensual.

3. Para aquele que é um neófito no sistema óctuplo de yoga, diz-se que o trabalho é o meio; e para quem já alcançou o yoga, a cessação de todas as atividades materiais é considerada o meio.

4. Diz-se que uma pessoa alcançou o yoga quando, renunciou a todos os desejos materiais, ela não age para satisfação sensual nem se ocupa em atividades lucrativas.

5. Uma pessoa deve se elevar com sua própria mente, e não se degradar. A mente é o amigo do ser condicionado, e seu inimigo também.

6. Para aquele que conquistou a mente, ela é o melhor amigo; mas para a pessoa que fracassou em fazê-lo, sua própria mente será seu pior inimigo.

7. Aquele que conquistou a mente já alcançou a Superalma, pois obteve a tranqüilidade. Para tal pessoa, felicidade e tristeza, calor e frio, honra e desonra são todos o mesmo.

8. Diz-se que uma pessoa está estabelecida em auto-realização e é chamada yogi (ou místico) quando está plenamente satisfeita em virtude do conhecimento e da realização adquiridos. Tal pessoa está situada em transcendência e é autocontrolada. Ela vê tudo, sejam seixos, pedras ou ouro, igualmente.

9. Diz-se que uma pessoa é ainda mais avançada quando considera todos, o benquerente honesto, amigos e inimigos, o invejoso, o piedoso, o pecador e aqueles que são indiferentes e imparciais, com uma mente equânime.

10. Um praticante da transcendência deve sempre tentar concentrar sua mente no Eu Supremo; deve viver sozinho em um lugar isolado e sempre controlar cuidadosamente a sua mente. Ele deve estar livre de desejos e sentimentos de posse.

11-12. Para praticar yoga, a pessoa deve ir a um lugar isolado, colocar grama kusha no chão e então cobri-la com uma pele de veado e um tecido macio. O assento não deve ser nem muito alto nem muito baixo e deve estar situado num lugar sagrado. O yogi deve então se sentar muito firmemente e praticar yoga, com o controle da mente e dos sentidos, com a purificação do coração e com a mente fixa em um ponto.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui: Um "lugar sagrado" se refere aos lugares de peregrinação. Na Índia todos os yogis, os transcendentalistas ou os devotos, deixam o lar e residem em lugares sagrados como Prayag, Mathura, Vrindavana, Hrishikesha e Haridwar, onde fluem rios sagrados como Yamuna e Ganges, com o propósito de praticar yoga em reclusão. Mas isso não é possível muitas vezes, especialmente para os ocidentais. As ditas sociedades de yoga nas cidades grandes talvez consigam obter o ganho material, mas não são nem um pouco adequadas para a prática do verdadeiro yoga. Quem não é autocontrolado e que tem mente perturbada, não pode praticar a meditação. Portanto, o Brihad-Naradiya-Purana diz que em Kali-yuga (a era atual), onde as pessoas em geral têm vida curta, são lentas no avanço espiritual e sempre perturbadas por várias ansiedades, o melhor meio para a iluminação espiritual é cantar o santo nome do Senhor. "O único meio para a salvação nesta era de briga e hipocrisia é o santo nome do Senhor. Não há outra maneira, não há outra maneira, não há outra maneira".

13-14. A pessoa deve manter seu corpo, pescoço e cabeça eretos numa linha reta e olhar fixamente para a ponta do nariz. Desse modo, com uma mente dominada, não agitada, desprovida de medo, completamente livre da vida sexual, a pessoa deve meditar em Mim dentro do coração e fazer de Mim a meta última da vida.

15. Assim, com a prática do controle do corpo, mente e atividades, o místico praticante da transcendência alcança o reino de Deus (ou a morada de Krishna) pela cessação da existência material.

16. Não há possibilidade de uma pessoa se tornar um yogi, ó Arjuna, se ela come em demasia ou se come muito pouco, se dorme em demasia ou não dorme o suficiente.

17. Aquele que é moderado em seus hábitos de alimentação, descanso, trabalho e recreação pode mitigar todas as dores materiais com a prática do sistema de yoga.

18. Quando o yogi, pela prática de yoga, disciplina suas atividades mentais e se situa na transcendência, desprovido de todos os desejos materiais, diz-se que ele alcançou o yoga.

19. Assim como uma vela não tremula num lugar sem vento, também o transcendentalista, cuja mente está controlada, permanece sempre fixo em sua meditação no Eu transcendental.

20-23. O estágio de perfeição se denomina transe, ou samadhi, quando a mente de uma pessoa se restringe completamente das atividades mentais materiais através da prática de yoga. Esse estágio se caracteriza pela habilidade da pessoa em ver o Eu com a mente pura, de saborear e ter prazer no Eu. Nesse estado de gosto, a pessoa se situa em felicidade transcendental ilimitada e desfruta de si mesma através dos sentidos transcendentais. Assim estabelecida, a pessoa nunca se desvia da verdade, e por ter conseguido isso ela acha que não há ganho maior. Por estar situada nessa posição, ela nunca se agita, mesmo em meio à maior dificuldade. Esta é na realidade a verdadeira liberação de todas as misérias decorrentes do contato material.

24. Uma pessoa deve se ocupar na prática de yoga com fé e determinação indesviáveis. Deve abandonar, sem exceção, todos os desejos materiais nascidos do ego falso e desse modo controlar com a mente todos os sentidos em todos os lados.

25. Gradualmente, passo a passo e com plena convicção, a pessoa deve se situar em transe por meio da inteligência, e desse modo deve fixar a mente unicamente no Eu e não pensar em mais nada.

26. Onde quer que e sempre que a mente divague devido à sua natureza flutuante e instável, a pessoa certamente deve pará-la e trazê-la de volta sob o controle do Eu.

27. O yogi cuja mente está fixa em Mim obtém a felicidade mais elevada de verdade. Em virtude de sua identidade com Brahman, ele se libera; sua mente está tranqüila, suas paixões aquietadas e ele está livre de pecado.

28. Fixo no Eu, livre de toda a contaminação material, o yogi alcança o estágio mais elevado de perfeição com felicidade em contato com a Consciência Suprema.

29. Um yogi verdadeiro Me observa em todos os seres, e também vê todos os seres em Mim. Na verdade, a pessoa auto-realizada Me vê em toda parte.

30. Para aquele que Me vê em toda parte e vê tudo em Mim, Eu nunca estou perdido, nem ele nunca está perdido para Mim.

31. O yogi que sabe que Eu e a Superalma dentro de todas as criaturas somos um, adora-Me e permanece sempre em Mim em todas as circunstâncias.

32. Ó Arjuna, aquele que, através da comparação com seu próprio eu, vê a igualdade verdadeira em todos os seres, tanto na felicidade quanto no sofrimento deles, é um yogi perfeito.

33. Arjuna disse: Ó Madhusudana, o sistema de yoga que Você resumiu parece impraticável e insuportável para mim, pois a mente é inquieta e instável.

34. Pois a mente, ó Krishna, é inquieta, turbulenta, obstinada e muito forte, e subjugá-la é mais difícil que controlar o vento, assim me parece.

35. O bem-aventurado Senhor disse: Ó filho de Kunti, de braços poderosos, é indubitavelmente muito difícil conter a mente inquieta, mas isso é possível pela prática constante e pelo desapego.

36. Para aquele cuja mente está desenfreada, a auto-realização é um trabalho difícil. Mas aquele cuja mente está controlada e que se esforça pelo meio correto, tem o êxito assegurado. Esta é Minha opinião.

37. Arjuna disse: Qual é o destino da pessoa de fé que não persevera, que no começo adota o processo da auto-realização mas depois desiste devido à sua mentalidade mundana e, dessa maneira, não alcança a perfeição do misticismo.

38. Ó Krishna de braços poderosos, essa pessoa que se desvia do caminho da transcendência não perece como um fragmento de nuvem, sem nenhuma posição em nenhuma esfera?

39. Esta é minha dúvida, ó Krishna, e eu peço que a dissipe completamente. Não há ninguém que possa destruir esta dúvida, exceto Você.

40. O bem-aventurado Senhor disse: Ó Filho de Pritha, um transcendentalista ocupado em atividades auspiciosas não se encontra com a destruição nem neste mundo nem no mundo transcendental; uma pessoa que faz o bem, Meu amigo, nunca é dominada pelo mal.

41. O yogi fracassado, depois de muitos e muitos anos de gozo nos planetas dos seres vivos piedosos, nasce numa família de pessoas virtuosas, ou numa família de rica aristocracia.

42. Ou então ele nasce numa família de transcendentalistas que seguramente têm grande sabedoria. Em verdade, um nascimento assim é raro neste mundo,

43. Ao obter tal nascimento, ele revive novamente a consciência divina de sua vida anterior, e tenta progredir mais para alcançar o êxito completo, ó filho de Kuru.

44. Em virtude da consciência divina de sua vida anterior, ele se torna automaticamente atraído pelos princípios iôguicos, mesmo sem buscá-los. Tal transcendentalista inquisitivo, esforçando-se pelo yoga, está sempre acima dos princípios ritualísticos das escrituras.

45. Mas quando o yogi se ocupa com esforço sincero em progredir ainda mais, e se limpa de todas as contaminações, então no final, depois de muitos e muitos nascimentos de prática, ele alcança a meta suprema.

46. Um yogi é superior ao asceta, superior ao empirista e superior ao trabalhador lucrativo. Portanto, ó Arjuna, seja um yogi em todas as circunstâncias.

47. E de todos os yogis, aquele que sempre se refugia em Mim com grande fé, e Me adora com serviço transcendental amoroso, é o que está mais intimamente unido Comigo em yoga e é o mais elevado de todos.

 

 

 

Capítulo Sete

O Conhecimento do Absoluto

1. Agora ouça, ó filho de Pritha (Arjuna), como através da prática de yoga com completa consciência em Mim, com a mente apegada a Mim, você poderá Me conhecer por completo, sem dúvida alguma.

Iluminação: Srila Prabhupada nos ensina que neste Capítulo Sete do Bhagavad-gita, descreve-se a natureza da consciência de Krishna de forma completa. Krishna é pleno de todas as opulências, e aqui se descreve a forma em que Ele as manifesta. Além do mais, este capítulo descreve as quatro classes de pessoas afortunadas que se apegam a Krishna e as quatro classes de pessoas desafortunadas que nunca aceitam Krishna.

2. Agora declararei por completo a você este conhecimento tanto fenomenal quanto abstrato, que quando se conhece, não resta mais nada a se conhecer.

3. Dentre muitos milhares de pessoas, talvez uma se esforce pela perfeição, e daquelas que alcançaram a perfeição, dificilmente uma Me conhece de verdade.

4. Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e ego falso, todas essas oito em conjunto compreendem Minhas energias materiais separadas.

5. Além desta natureza inferior, ó Arjuna de braços poderosos, há uma energia superior Minha, que são os seres vivos que lutam com a natureza material e sustêm o universo.

6. De tudo que é material e de tudo que é espiritual neste mundo, saiba por certo que Eu sou a origem e a dissolução.

7. Ó conquistador de riquezas (Arjuna), não há verdade superior a Mim. Tudo repousa em Mim, assim como as pérolas enfiadas num cordão.

8. Ó filho de Kunti (Arjuna), Eu sou o sabor da água, a luz do Sol e da Lua, a sílaba om nos mantras védicos; Eu sou o som no éter e a habilidade na pessoa.

9. Eu sou a fragrância original da terra, e Eu sou o calor do fogo. Eu sou a vida de tudo o que vive, e Eu sou as penitências de todos os ascetas.

10. Ó filho de Pritha, saiba que Eu sou a semente original de todas as existências, a inteligência dos inteligentes, e o poder de todas as pessoas poderosas.

11. Eu sou a força dos fortes, desprovida de paixão e desejo. Eu sou a vida sexual que não é contrária aos princípios religiosos, ó senhor dos Bharatas (Arjuna).

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui que a força da pessoa poderosa deve ser aplicada para a proteção dos mais fracos, não para a agressão. Similarmente, conforme os princípios religiosos (dharma), a vida sexual deve ser no matrimônio para a procriação de bons filhos, e nada mais. Os pais têm a responsabilidade de tornar seus filhos conscientes de Krishna.

12. Todos os estados de existência, sejam eles de bondade, paixão ou ignorância, manifestam-se através de Minha energia. Em um sentido, Eu sou tudo, mas Eu sou independente. Eu não estou sob os modos desta natureza material.

13. Iludido pelos três modos (bondade, paixão e ignorância), o mundo inteiro não Me conhece que estou além dos modos e sou inesgotável.

14. Esta Minha energia divina, que consiste dos três modos da natureza material, é difícil de superar. Mas aqueles que se rendem a Mim podem superá-la facilmente.

15. As pessoas descrentes que são grosseiramente tolas, as mais baixas da humanidade, cujo conhecimento é roubado pela ilusão e que participam da natureza ateísta dos demônios, não se rendem a Mim.

16. Ó melhor entre os Bharatas (Arjuna), quatro tipos de pessoas piedosas prestam serviço devocional a Mim: o aflito, o que deseja riquezas, o curioso e aquele que busca conhecimento do Absoluto.

Iluminação: Srila Prabhupada explica que em contraste com os descrentes, essas pessoas são as que aderem aos princípios reguladores das escrituras e se chamam sukritinah, ou seja, aquelas que obedecem às regras e regulamentos das escrituras, da moral e das leis sociais, e que estão mais ou menos consagradas ao Supremo Senhor. Entre essas, há quatro tipos de pessoas, aquelas que ficam em aflição às vezes, aquelas que precisam de dinheiro, as que são inquisitivas e as que procuram o conhecimento da Verdade Absoluta às vezes. Essas pessoas se aproximam do Senhor em diferentes condições para prestar serviço devocional. Mas essas não são devotos puros porque têm alguma aspiração a satisfazer em troca do serviço devocional. O serviço devocional puro é sem qualquer aspiração e desejo por ganho material. O Bhakti-rasamrita-sindhu descreve a devoção pura assim: "Deve-se prestar serviço devocional amoroso ao Supremo Senhor Krishna de forma favorável e sem desejo por ganho ou benefício material, nem por meio de atividades lucrativas nem com especulação filosófica. Isso se chama devoção pura".
Quatro esses quatro tipos de pessoas se aproximam do Supremo Senhor para prestar serviço devocional, e se purificam por completo por causa da companhia com um devoto puro, também passam a ser devotos puros.

17. Destes, o sábio que está em conhecimento pleno, unido a Mim através do serviço devocional puro, é o melhor. Pois Eu sou muito querido para ele, e ele é querido para Mim.

18. Todos esses devotos são sem dúvida almas magnânimas, mas aquele que está situado em conhecimento de Mim, considero que em verdade mora em Mim. Ocupado em Meu serviço transcendental, ele Me alcança.

19. Depois de muitos nascimentos e mortes, aquele que está realmente em conhecimento se rende a Mim, pois sabe que Eu sou a causa de todas as causas e de tudo o que existe. Tal grande alma é muito rara.

20. As pessoas cujas mentes estão distorcidas por desejos materiais, rendem-se aos semideuses e seguem as regras e regulamentos particulares de adoração conforme com suas próprias naturezas.

21. Eu estou no coração de todo mundo como a Superalma. Quando uma pessoa deseja adorar os semideuses, Eu torno firme sua fé para que ela possa consagrar-se a alguma deidade em particular.

22. Dotada com essa fé, a pessoa procura favores de um semideus particular e obtém seus desejos. Mas na realidade esses benefícios são outorgados unicamente por Mim.

23. Pessoas de pouca inteligência adoram os semideuses, e seus frutos são limitados e temporários. Aqueles que adoram os semideuses vão para os planetas dos semideuses, mas Meus devotos alcançam Meu planeta supremo no fim.

24. Pessoas sem inteligência, que não Me conhecem, pensam que Eu assumi esta forma e personalidade. Devido a seu pouco conhecimento, elas não conhecem Minha natureza superior, que é imutável e suprema.

25. Eu nunca Me manifesto para os tolos e não inteligentes. Para eles, Eu estou coberto por Minha potência criativa eterna (yoga-maya); e assim o mundo iludido não Me conhece, a Mim que sou não nascido e inesgotável.

26. Ó Arjuna, como a Suprema Personalidade de Deus, Eu sei de tudo que aconteceu no passado, de tudo que acontece no presente, e de todas as coisas que estão ainda por vir. Eu também conheço todas os seres vivos; mas a Mim ninguém conhece.

27. Ó descendente de Bharata (Arjuna), ó conquistador do inimigo, todos os seres vivos nascem na ilusão, dominados pelas dualidades de desejo e ódio.

28. Pessoas que agiram piedosamente em vidas anteriores e nesta vida, cujas ações pecaminosas estão completamente erradicadas e que estão livres da dualidade da ilusão, ocupam-se em Meu serviço com determinação.

29. As pessoas inteligentes que se esforçam pela liberação da velhice e da morte, refugiam-se em Mim em serviço devocional. Elas são realmente Brahman porque sabem tudo inteiramente sobre as atividades transcendentais e lucrativas.

30. Aqueles que Me conhecem como o Senhor Supremo, como o princípio governante da manifestação material, que Me conhecem como o que sustenta todos os semideuses e como o que sustém todos os sacrifícios, podem, com a mente firme, compreender-Me e conhecer-Me mesmo no momento da morte.

 

 

Capítulo Oito

O Caminho ao Supremo

1. Arjuna pergunta: Ó meu Senhor, ó Pessoa Suprema, o que é Brahman? O que é o eu? O que são atividades lucrativas? O que é esta manifestação material? E o que são os semideuses? Por favor, explique-me isso.

2. Ó Madhusudana, como esse Senhor dos sacrifícios vive no corpo, e em que parte vive Ele? E como podem aqueles que se ocupam em serviço devocional conhecer Você no momento da morte?

3. O Senhor Supremo disse: O ser vivo transcendental, indestrutível, chama-se Brahman, e sua natureza eterna chama-se o eu. A ação pertencente ao desenvolvimento destes corpos materiais se chama karma, ou trabalho lucrativo.

4. A natureza física é conhecida como interminavelmente mutável. O universo é a forma cósmica do Senhor Supremo, e Eu sou esse Senhor representado como a Superalma, que mora no coração de todo ser corporificado.

5. E quem quer que, no momento da morte, deixa seu corpo, e se lembra exclusivamente de Mim, alcança Minha natureza de imediato. Quanto a isto não há dúvida.

6. O estado de existência que a pessoa se lembra quando deixa seu corpo, esse estado ela vai alcançar sem falha.

7. Portanto, Arjuna, você deve pensar sempre em Mim na forma de Krishna e ao mesmo tempo levar a cabo seu dever prescrito de lutar. E dedicar suas atividades a Mim, e fixar sua mente e inteligência em Mim, assim você Me alcançará sem dúvida.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui sobre isso: Esta instrução a Arjuna é muito importante para todas pessoas ocupadas em atividades materiais. O Senhor não diz que se deve abandonar os deveres ou ocupações prescritas. A pessoa pode continuá-los e pensar em Krishna ao mesmo tempo por cantar Hare Krishna. Isso nos liberará da contaminação material, e ocupará a mente e a inteligência em Krishna. Mediante o canto puro dos nomes de Krishna, a pessoa irá sem dúvida a Krishnaloka, o planeta supremo.

8. Aquele que medita na Suprema Personalidade de Deus, com sua mente constantemente ocupada em se lembrar de Mim, sem se desviar do caminho, ó Partha (Arjuna), é seguro que Me alcança.

9. Deve-se meditar na Pessoa Suprema como Aquele que conhece tudo, como Aquele que é o mais velho, que é o controlador, que é o menor do menor, que é o mantenedor de tudo, que está além de toda concepção material, que é inconcebível, e que é sempre uma pessoa. Ele é brilhante como o Sol e, por ser transcendental, está além da natureza material.

10. Aquele que, no momento da morte, fixar seu ar vital entre as sobrancelhas e em completa devoção ocupar-se em se lembrar do Senhor Supremo, certamente alcançará a Suprema Personalidade de Deus.

11. As pessoas versadas nos Vedas, que pronunciam o omkara e que são grandes sábios na ordem renunciada, entram no Brahman. A pessoa que deseja tal perfeição, pratica o celibato. Agora explicarei a você esse processo através do qual se pode alcançar a salvação.

12. A situação iôguica é a de desapego de todas as ocupações sensuais. Com o fechamento de todas as portas dos sentidos e a fixação da mente no coração e o ar vital na parte superior da cabeça, a pessoa se estabelece em yoga.

13. Depois de se situar nesta prática de yoga e de vibrar a sílaba sagrada om, a combinação suprema de letras, se a pessoa pensar na Suprema Personalidade de Deus e abandonar seu corpo, certamente atingirá os planetas espirituais.

14. Eu sou fácil de ser obtido por aquele que se lembra de Mim sem se desviar, ó filho de Pritha, por causa de sua constante ocupação no serviço devocional.

15. Depois de Me alcançar, as grandes almas, que são yogis em devoção, nunca retornam a este mundo temporário, que é cheio de misérias, porque elas alcançaram a mais elevada perfeição.

Iluminação: Srila Prabhupada diz sobre isso: Aquele que alcança a perfeição mais elevada e chega no planeta supremo, Krishnaloka ou Goloka Vrindavana, naturalmente não deseja regressar a este mundo material temporário, cheio de misérias, como nascimento, velhice, doença e morte. A literatura védica descreve que o planeta supremo está além de nossa visão material, e é considerado a meta mais elevada. Os mahatmas (grandes almas) recebem as mensagens transcendentais dos devotos iluminados, e assim desenvolvem gradualmente serviço devocional em Consciência de Krishna, e ficam tão atraídos ao serviço devocional que não desejam mais a elevação a nenhum dos planetas materiais, nem sequer a nenhum planeta espiritual. Eles só querem a companhia de Krishna e nada mais. Tais grandes almas estão em consciência de Krishna e alcançam a perfeição mais elevada da vida.

16. Do planeta mais elevado no mundo material até o mais baixo, todos são lugares de miséria onde acontecem repetidos nascimentos e mortes. Mas aquele que alcança Minha morada, ó filho de Kunti, nunca volta a nascer.

17. Pelos cálculos humanos, a duração de um dia de Brahma é de mil eras juntas. E tal é também a duração de sua noite.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui: A duração do universo material é limitada. Manifesta-se em ciclos de kalpas. Um kalpa é um dia de Brahma, o qual consiste de mil ciclos de quatro yugas ou eras: Satya, Treta, Dwapara e Kali. O ciclo de Satya se caracteriza pela virtude, sabedoria e religiosidade, e está livre praticamente da ignorância e do vício, esse yuga dura 1.728.000 anos. Em Treta-yuga se introduz o vício, e esse yuga dura 1.296.000 anos. Em Dwapara-yuga há um declínio ainda maior da virtude e da religiosidade, o vício incrementa, e esse yuga dura 864.000 anos. E finalmente em Kali-yuga (o yuga que vivemos durante os últimos 5.000 anos), há uma abundância de disputa, ignorância, irreligião e vício; a verdadeira virtude é praticamente inexistente e esta yuga dura 432.000 anos. Em Kali-yuga os vícios incrementam tanto que no final do yuga aparece o próprio Supremo Senhor na forma de Kalki-avatara, que aniquila os demônios, salva Seus devotos e dá origem a outro Satya-yuga. Aí o processo começa de novo. Esses quatro yugas, vezes mil, constituem um dia de Brahma, o criador que recebe poder, e sua noite dura o mesmo tempo. Brahma vive cem desses "anos" e depois morre. Nos cálculos humanos, esses "cem anos" somam 311.040.000.000.000 anos terrestres. A vida de Brahma parece fantástica e interminável de acordo com esses cálculos, mas do ponto de vista da eternidade, é tão curta como um relâmpago. Há inumeráveis Brahmas no oceano causal que surgem e desaparecem como as bolhas do oceano Atlântico. Brahma e sua criação são todos parte do universo, e o Senhor Krishna está acima de tudo isto.

18. Quando o dia de Brahma se manifesta, esta multidão de seres vivos vem a existir, e com a chegada da noite de Brahma eles são todos aniquilados.

19. Repetidamente surge o dia, e essa hoste de seres fica ativa; e novamente cai a noite, ó Partha, e eles são irremediavelmente dissolvidos.

20. Porém existe uma outra natureza, que é eterna e transcendental a esta matéria manifesta e não manifesta. Ela é suprema e nunca é aniquilada. Quando tudo neste mundo é aniquilado, essa parte permanece como é.

21. Essa morada suprema se chama não manifesta e infalível, e é o destino supremo. Quando uma pessoa vai para lá, nunca mais retorna. Essa é Minha morada suprema.

22. A Suprema Personalidade de Deus, que é maior do que tudo, é alcançável através da devoção pura. Embora Ele esteja presente em Sua morada, Ele é todo-poderoso, e tudo está situado dentro Dele.

23. Ó melhor dos Bharatas, agora explicarei a você sobre os momentos diferentes nos quais, ao abandonar este mundo, a pessoa retorna ou não retorna.

24. Aqueles que conhecem o Brahman Supremo se vão do mundo durante a influência do deus do fogo, na luz, num momento auspicioso, durante a quinzena da lua, e durante os seis meses quando o sol viaja pelo norte.

25. O místico que se vai deste mundo durante a fumaça, a noite, a quinzena sem lua, ou durante os seis meses quando o sol passa pelo sul, ou que alcança o planeta lua, volta novamente.

26. Segundo os Vedas, há duas maneiras de deixar este mundo, uma na luz e outra na escuridão. Quando a pessoa sai na luz, ela não volta; mas quando sai na escuridão, ela volta.

27. Ó Arjuna, os devotos que conhecem estes dois caminhos nunca se confundem. Portanto, mantenha-se sempre fixo na devoção.

Iluminação: Srila Prabhupada nos diz: Aqui, Krishna aconselha Arjuna para não se perturbar com os diferentes caminhos que a alma pode tomar quando deixa o mundo material. Um devoto do Senhor Supremo não deve se preocupar, seja se for por arranjo ou por acidente, o devoto tem que se estabelecer firmemente na consciência de Krishna e cantar Hare Krishna. Ele deve saber que é muito difícil se preocupar em qualquer um desses caminhos. A melhor forma de ficar absorto na consciência de Krishna é estar sempre em conexão com Seu serviço devocional, é o que assegurará certo e direto, seu caminho ao reino espiritual.

28. Uma pessoa que aceita o caminho do serviço devocional não fica desprovida dos resultados que se obtêm através do estudo dos Vedas, da execução de sacrifícios austeros, da doação de caridade ou da ocupação em atividades filosóficas e lucrativas. No final ela alcança a morada suprema.

 

 

Capítulo Nove

O Conhecimento mais Confidencial

1. O Senhor Supremo disse: Meu querido Arjuna, porque você não Me inveja, Eu transmito a você esta sabedoria que é a mais secreta, e ao conhecê-la se aliviará das misérias da existência material.

2. Este conhecimento é o rei da educação, o mais secreto de todos os segredos. É o conhecimento mais puro, e porque dá a percepção direta do eu mediante a iluminação, é a perfeição da religião. É eterno e se realiza alegremente.

3. Aqueles que não são fiéis ao serviço devocional não podem Me atingir, Ó Arjuna (conquistador dos inimigos), senão que retornam ao nascimento e à morte neste mundo material.

4. Em Minha forma não manifesta, Eu penetro todo este universo. Todos os seres estão em Mim, mas Eu não estou neles.

5. E ainda assim, tudo o que é criado não descansa em Mim. Veja a Minha opulência mística! Ainda que Eu sou o que mantém a todas as entidades viventes, e ainda que Eu estou em todas partes, ainda assim, Meu Eu é a fonte original da criação.

6. Assim como o poderoso vento que sopra em toda parte permanece sempre no espaço etéreo, saiba que dessa mesma maneira todos os seres descansam em Mim.

7. Ó Arjuna (filho de Kunti)! Ao final do milênio, toda a manifestação material entra em Minha natureza, e ao começar outro milênio, mediante Minha potência, Eu a crio de novo.

8. Ao entrar na natureza material, a qual é Minha energia, uma e outra vez, Eu crio a ordem cósmica inteira junto com todas as espécies de vida; e automaticamente, por Minha vontade, todos os seres viventes se põem sob o controle da natureza material.

9. Ó Arjuna (Dhananjaya)! Todo esse trabalho não pode Me atar. Eu estou sempre desapegado, e Eu permaneço sempre neutro.

10. Ó Arjuna (filho de Kunti)! Esta natureza material funciona sob Minha direção e ela produz todos os seres móveis e imóveis. Esta manifestação é criada e aniquilada uma e outra vez sob a direção dela.

11. Os tolos Me menosprezam quando desço numa forma semelhante à humana. Eles não conhecem Minha natureza transcendental nem Meu domínio supremo sobre tudo o que existe.

12. Aqueles que estão assim confundidos, são atraídos pelas opiniões atéias e demoníacas. Nessa condição iludida, suas esperanças de libertação, suas atividades lucrativas e seu cultivo do conhecimento são totalmente frustrados.

13. Ó Arjuna (filho de Pritha)! Aqueles que não estão iludidos, as grandes almas, estão sob a proteção da natureza divina. Eles se ocupam totalmente no serviço devocional porque Me conhecem como a Suprema Personalidade de Deus, original e inesgotável.

14. Sempre cantam Minhas glórias, esforçam-se com grande determinação e se prostram perante Mim, assim essas grandes almas Me adoram perpetuamente com devoção.

15. Outros, que se ocupam no cultivo do conhecimento, adoram o Senhor Supremo como aquele que não tem igual, como aquele que se diversificou em muitos, e como a forma universal.

16. Mas Eu que sou o ritual, o sacrifício, a oferenda aos antepassados, a erva medicinal e o canto transcendental. Eu sou a manteiga, o fogo e a oferenda.

17. Eu sou o pai deste universo, a mãe, o sustento e o avô. Eu sou o objeto do conhecimento, o purificador e a sílaba om. Também sou o Rig, o Sama e o Yayur (Vedas).

18. Eu sou a meta, o sustentador, o amo, a testemunha, a morada, o refúgio e o amigo mais querido. Eu sou a criação e a aniquilação, o fundamento de todas as coisas, o lugar de repouso e a semente eterna.

19. Ó Arjuna! Eu controlo o calor, a chuva e a seca. Eu sou a imortalidade e também sou a morte personificada. Tanto a existência como a inexistência estão em Mim.

20. Aqueles que estudam os Vedas e tomam a bebida soma em busca dos planetas celestiais, adoram-Me indiretamente. Eles nascem no planeta de Indra onde desfrutam dos deleites celestiais.

21. Depois que eles desfrutaram assim o prazer celestial dos sentidos, retornam novamente a este planeta temporário. Assim, por meio dos princípios védicos, eles só atingem uma felicidade fugaz.

22. Mas quem Me adora com devoção, medita sem desvio em Minha forma transcendental, Eu mesmo provenho o que lhe faz falta e preservo o que ele possui.

Iluminação: Prabhupada afirma: "Quem é incapaz de viver um momento sem consciência de Krishna não faz nada além de pensar em Krishna vinte e quatro horas por dia, ocupado em serviço devocional por ouvir, cantar, lembrar, oferecer preces, adorar, servir aos pés de lótus do Senhor, prestar outros serviços, cultivar amizade com o Senhor e se render por inteiro ao Senhor. Essas atividades são as mais auspiciosas e cheias de potências divinas; de fato, elas tornam o devoto perfeito na auto-realização. Aí, seu único desejo é obter a companhia da Suprema Personalidade de Deus. Isso se chama Yoga. Pela misericórdia do Senhor, tal devoto nunca mais volta a esta condição de vida material. Ksema quer dizer proteção misericordiosa do Senhor. O Senhor ajuda o devoto alcançar a consciência de Krishna por Yoga, e quando fica com consciência de Krishna plena, o Senhor o protege para não cair mais numa condição de vida miserável".

23. Tudo aquilo que uma pessoa possa oferecer em sacrifício a outros deuses, Ó Arjuna! (filho de Kunti), em realidade está destinado unicamente a Mim, mas se oferece sem verdadeiro entendimento.

24. Eu sou o único desfrutador e o único objetivo do sacrifício. Aqueles que não reconhecem Minha verdadeira natureza transcendental caem.

25. Aqueles que adoram os semideuses, nascerão entre os semideuses; aqueles que adoram os fantasmas e espíritos, nascerão entre tais seres; aqueles que adoram os antepassados, irão aos antepassados; e aqueles que Me adoram, viverão Comigo.

26. Se alguém Me oferece com amor e devoção uma folha, uma flor, fruta ou água, Eu aceito com amor.

27. Ó Arjuna (filho de Kunti)! Tudo que fizer, tudo que comer, tudo que oferecer e presentear, bem como também todas as austeridades que executar, deve fazer como uma oferenda a Mim.

28. Assim, você se liberará de todos os resultados da ação, bons e maus, e mediante esse princípio de renúncia, vai se liberar do cativeiro da ação e vai chegar a Mim.

29. Eu não invejo ninguém nem sou parcial com ninguém. Sou igual com todos, mas aquele que Me presta serviço com devoção, é Meu amigo, está em Mim e Eu também sou amigo dele.

30. Mesmo se a pessoa cometer as ações mais abomináveis, se ela estiver consagrada ao serviço devocional, deve ser considerada santa, pois está situada devidamente.

Iluminação: Prabhupada explica: "A palavra su-duracarah usada neste verso é muito significativa, temos que entender direito. Quando um ser vivo está condicionado, tem dois tipos de atividades, uma condicional e outra constitucional. Proteção do corpo, seguir as leis sociais, são atividades da vida condicionada que devem ser seguidas mesmo por um devoto. Por outro lado, a pessoa com consciência plena de sua natureza espiritual e está ocupada na consciência de Krishna, ou serviço devocional ao Senhor, tem atividades que se chamam transcendentais. Tais atividades se realizam em sua posição constitucional, e são chamadas tecnicamente de serviço devocional. Agora, no estado condicionado, às vezes, serviço devocional e serviço condicional em relação ao corpo ficam emparelhados. Mas novamente, às vezes, essas atividades se tornam opostas. Na medida do possível, um devoto toma muito cuidado para não fazer nada desfavorável que possa romper sua condição pura. Ele sabe que a perfeição de suas atividades depende da realização progressiva da consciência de Krishna. Às vezes, entretanto, pode acontecer de uma pessoa em consciência de Krishna cometer algum ato considerado muito abominável social ou politicamente. Mas tal queda temporária não a desqualifica. O Srimad-Bhagavatam afirma que se uma pessoa cai mas está sinceramente ocupada no serviço transcendental ao Senhor, o Senhor, que está situado em seu coração, a ilumina e a desculpa da ação abominável. A contaminação material é tão forte que mesmo um yogi plenamente ocupado no serviço ao Senhor às vezes é encantado; mas a consciência de Krishna é tão forte que tal queda ocasional é retificada de imediato. Portanto, o processo do serviço devocional é sempre um sucesso. Não se deve menosprezar um devoto por causa de algum desvio acidental do caminho ideal, pois, como se explica no verso seguinte, tais quedas ocasionais cessarão no devido curso, logo que o devoto estiver em consciência de Krishna plena.
Por isso, uma pessoa que tem consciência de Krishna e se ocupa com determinação no processo de cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare; Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare deve ser considerada na posição transcendental, mesmo se por acaso ou acidente ela pareça ter caído. As palavras sadhur eva, "ela é santa", são enfáticas. São um aviso às pessoas para não desmerecerem um devoto por causa de uma queda acidental; ele deve ser considerado santo ainda, mesmo se caiu por acidente. E a palavra mantavyah é mais enfática ainda. Se alguém não seguir esta regra, e menosprezar um devoto por causa de sua queda acidental, desobedece a ordem do Supremo Senhor. A única qualificação de um devoto é estar ocupado sem desvio e com exclusividade no serviço devocional.
A marca de uma mancha que se pode ver na Lua não se torna um impedimento para o brilho da Lua. Assim, o desvio acidental de um devoto do caminho do caráter santo não o torna abominável. Por outro lado, não devemos confundir e achar que um devoto no serviço devocional transcendental pode atuar de todas as formas abomináveis; este verso se refere a um acidente devido ao alto poder das conexões materiais. Serviço devocional é mais ou menos uma declaração de guerra contra a energia ilusória. Até que a pessoa seja forte suficiente para lutar contra a energia ilusória, podem haver quedas acidentais. Mas depois que estiver bastante forte, não estará sujeita a tais quedas, como explicado antes. Ninguém deve tentar levar vantagem com este verso para fazer besteiras e achar que ainda é um devoto. Se não melhorar seu caráter com serviço devocional, deve-se compreender que não é um devoto elevado".

31. Prontamente ele se torna virtuoso e atinge a paz duradoura. Ó Arjuna (filho de Kunti), declare amplamente que Meu devoto nunca se arruína.

32. Ó Arjuna (filho de Pritha)! Aqueles que se refugiam em Mim, ainda que sejam de nascimento inferior, mulheres, vaishyas (comerciantes), bem como também os shudras (empregados), podem alcançar o destino supremo.

33. Quanto maiores são então os brahmanas, os virtuosos, os devotos e os reis santos, que neste miserável mundo temporário estão ativos no carinhoso serviço a Mim?

34. Ocupe sua mente em pensar sempre em Mim e se converta em Meu devoto: ofereça-Me reverências e Me adore. Ao estar completamente absorto em Mim, certamente virá a Mim.

 

 

Capítulo Dez

A Opulência do Absoluto

1. O Senhor Supremo disse: Meu querido amigo, ó Arjuna, de braços poderosos! Escute de novo Minha palavra suprema, que Eu falo para o seu benefício, a qual lhe dará muita alegria.

Iluminação: Srila Prabhupada nos ensinou que quanto mais se ouve sobre Deus, mais se estabelece no serviço devocional. Deve-se ouvir sempre sobre o Senhor na associação de devotos; assim se realizará o serviço devocional próprio. Os discursos na sociedade de devotos podem se efetuar unicamente entre aqueles que realmente anseiam estar na consciência de Krishna. Outros não podem participar em tais discursos. O Senhor diz claramente a Arjuna que, devido a que ele é muito querido por Ele, fala este conhecimento para seu benefício.

2. Nem as legiões de semideuses, nem os grandes sábios, conhecem Minha origem, pois em todos os aspectos Eu sou a fonte dos semideuses e dos sábios.

3. Aquele que Me conhece como o que não tem nascimento, como o que não tem origem e como o Senhor de todos os planetas, neste mundo onde todos estão sujeitos a morrer, ele está livre de toda dúvida e se libera de todos os pecados.

4-5. A inteligência, o conhecimento, a solução da dúvida e da ilusão, o perdão, a veracidade, o autocontrole e a tranqüilidade, o prazer e a dor, o nascimento, a morte, o temor, a ausência de temor, a não-violência, o equilíbrio, a satisfação, a austeridade, a caridade, a fama e a infâmia, todos são criados tão somente por Mim.

6. Os sete grandes sábios bem como antes deles, os quatro grandes sábios, e os Manus (progenitores da humanidade), nasceram de Minha mente. E todas as criaturas destes planetas descendem deles.

7. Quem conhece em verdade Minha glória e poder, dedica-se ao serviço devocional puro; quanto a isto não há dúvida.

Verso 8
aham sarvasya prabhavo
mattah sarvam pravartate
iti matva bhajante mam
budha bhava-samanvitah

8. Eu sou a fonte de todos os mundos materiais e espirituais. Tudo emana de Mim. Os sábios que sabem disto perfeitamente, dedicam-se a Meu serviço devocional e Me adoram com todo seu coração.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Um acadêmico erudito que estudou os Vedas perfeitamente e tem informação de autoridades como o Senhor Chaitanya, e sabe como aplicar esses ensinamentos, pode compreender que Krishna é a origem de tudo tanto no mundo material quanto no mundo espiritual, e porque sabe disso perfeitamente, fica fixo firmemente no serviço devocional ao Supremo Senhor. Ele nunca pode ser desviado por nenhuma quantidade de comentários absurdos ou por tolos. Toda literatura Védica concorda que Krishna é a fonte de Brahma, Shiva e todos os outros semideuses. O Atharva Veda (Gopala-tapani Upanishad 1.24) afirma, yo brahmanam vidadhati purvam yo vai vedams ca gapayati sma krsnah: "No princípio, foi Krishna quem instruiu Brahma sobre o conhecimento Védico e quem disseminou o conhecimento Védico no passado". O Narayana Upanishad (1) afirma ainda mais, atha puruso ha vai narayano 'kamayata prajah srjeyeti: "Então, a Suprema Personalidade Narayana desejou criar os seres vivos". Novamente, é dito, narayanad brahma jayate, narayanad prajapatih prajayate, narayanad indro jayate, narayanad astau vasavo jayante, narayanad ekadasa rudra jayante, narayanad dvadasadityah: "De Narayana, nasce Brahma, e de Narayana, os patriarcas também nascem. De Narayana, nasce Indra, de Narayana, os oito Vasus nascem, de Narayana, os onze Rudras nascem, de Narayana, os doze Adityas nascem".
Os mesmos Vedas afirmam, brahmanyo devaki-putrah: "O filho de Devaki, Krishna, é a Suprema Personalidade de Deus". (Narayana Upanishad 4). Também é dito:

eko vai narayana asin na brahma na isano napo nagni samau neme
dyav-aprthivi na naksatrani na suryah sa ekaki na ramate tasya
dhyanantah sthasya yatra chandogaih kriyamanastakadi-samjnaka
stuti-stomah stomam ucyate.

"No início da criação, havia somente a Suprema Personalidade Narayana. Não havia Brahma, nem Shiva, nem fogo, nem Lua, nem estrelas no céu, nem Sol. Havia somente Krishna, que cria tudo e desfruta tudo". (Maha Upanishad 1).
O Maha Upanishad afirma que o Senhor Shiva nasceu do mais alto, o Supremo Senhor Krishna, e os Vedas dizem que o Supremo Senhor, criador de Brahma e Shiva, que deve ser adorado. Krishna também diz no Moksha-dharma:

prajapatim ca rudram capy
aham eva srjami vai
tau hi mam na vijanito
mama maya-vimohitau

"Os patriarcas, Shiva e os outros são criados por Mim, apesar de não saberem que foram criados por Mim, pois estão iludidos por Minha energia ilusória". O Varaha Purana também afirma:

narayanah paro devas
tasmaj jatas caturmukhah
tasmad rudro 'bhavad devah
sa ca sarva-jnatam gatah

"Narayana é a Suprema Personalidade de Deus, Dele, Brahma nasceu, de quem Shiva nasceu".
O Senhor Krishna é a fonte de todas gerações, e Ele é chamado de a mais eficiente causa de tudo. Ele diz que porque "tudo nasce de Mim, Eu sou a fonte original de tudo. Tudo está sob Mim, ninguém está acima de Mim". Não há nenhum controlador supremo além de Krishna. A pessoa que entende Krishna dessa forma por meio do mestre espiritual autêntico e da literatura Védica, que dedica toda sua energia na Consciência de Krishna, torna-se uma verdadeira pessoa sábia. Só um tolo considera Krishna como um ser humano ordinário. Uma pessoa consciente de Krishna não deve se confundir por tolos, ela deve evitar todos comentários e interpretações não autorizadas do Bhagavad-gita e prosseguir na Consciência de Krishna com determinação e firmeza".

Verso 9
mac-citta mad-gata-prana
bodhayantah parasparam
kathayantas ca mam nityam
tusyanti ca ramanti ca

9. Os pensamentos de Meus devotos puros permanecem em Mim; suas vidas estão rendidas a Mim, e eles obtêm grande satisfação e bem-aventurança pois se iluminam uns aos outros e conversam sobre Mim.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Os devotos puros, cujas características se mencionam aqui, ocupam-se completamente no serviço transcendental carinhoso ao Senhor. Suas mentes não podem se afastar dos pés de lótus de Krishna. Suas práticas são unicamente sobre temas transcendentais. Os sintomas dos devotos puros se descrevem especificamente neste verso. Os devotos do Senhor Supremo se ocupam vinte e quatro horas por dia em glorificar os passatempos do Senhor Supremo. Seus corações e almas estão constantemente absortos em Krishna e se satisfazem em discutir sobre Ele com outros devotos.
Na etapa preliminar do serviço devocional, eles saboreiam o prazer transcendental do serviço em si, e na etapa madura se situam em realidade no amor a Deus. Uma vez situados nessa posição transcendental, podem saborear a perfeição mais elevada que o Senhor exibe em Sua morada. O Senhor Chaitanya compara o serviço devocional transcendental com a germinação de uma semente no coração da entidade vivente.
Há inumeráveis seres vivos que viajam pelos distintos planetas do universo, e entre todos eles, poucos são suficientemente afortunados para conhecer um devoto puro e receber a oportunidade de compreender o serviço devocional. Esse serviço devocional é exatamente como uma semente que se planta no coração de uma entidade vivente, e se ela continua o processo de ouvir e cantar: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, essa semente frutifica, como a semente de uma árvore frutifica quando regada regularmente. A planta espiritual do serviço devocional continua a crescer regularmente até que ultrapassa a cobertura do universo material e entra no brilho brahmajyoti do céu espiritual.
Ali, essa planta também cresce mais e mais até que atinge o planeta mais elevado, que se chama Goloka Vrindavana, o planeta supremo de Krishna. Finalmente, a planta se refugia sob os pés de lótus de Krishna e descansa lá. Gradualmente, tal como uma planta dá frutos e flores, essa planta do serviço devocional também produz frutos, e o processo de regar continua na forma de cantar e ouvir. Essa planta do serviço devocional se descreve por completo no Chaitanya-charitamrita. Nele se explica que quando a planta inteira se refugia sob os pés de lótus do Senhor Supremo, a pessoa se absorve plenamente no amor a Deus; então, não pode viver nem sequer por um momento sem estar em contato com o Senhor Supremo, como um peixe não pode viver fora da água. Em tal estado de relação com o Senhor Supremo, o devoto obtém as qualidades transcendentais de verdade.
O Srimad Bhagavatam também é repleto dessas narrações sobre o relacionamento entre o Supremo Senhor e Seus devotos, portanto, o Srimad Bhagavatam é muito apreciado pelos devotos. Em Sua narração, não há nada sobre atividades materiais, prazer sensual ou liberação. O Srimad Bhagavatam é a única narração onde a natureza transcendental do Supremo Senhor e Seus devotos é plenamente descrita. Por isso, as almas realizadas na Consciência de Krishna têm prazer contínuo em ouvir tais literaturas transcendentais, do mesmo modo como um rapaz e uma moça jovens têm prazer em estarem juntos".

Verso 10
tesam satata-yuktanam
bhajatam priti-purvakam
dadami buddhi-yogam tam
yena mam upayanti te

10. Aos que estão constantemente consagrados a Mim e Me adoram com amor extático, Eu lhes dou a inteligência mediante a qual podem vir a Mim.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"A palavra buddhi-yogam é muito significativa neste verso. Lembramos que no Capítulo Dois, nas instruções para Arjuna, o Senhor disse que falou sobre vários temas e que o instruiria sobre o caminho de buddhi-yoga. Agora, Ele explica buddhi-yoga. Buddhi-yoga em si é ação em Consciência de Krishna, que é a inteligência mais elevada. Buddhi significa inteligência, e yoga significa atividades místicas ou elevação mística. Quando a pessoa tenta voltar ao Lar, de volta ao Supremo, e se dedica plenamente à Consciência de Krishna com serviço devocional, sua ação se chama buddhi-yoga. Em outras palavras, buddhi-yoga é o processo pelo qual a pessoa se livra do enredamento deste mundo material. A meta última do progresso é Krishna. As pessoas não sabem disso, por isso, a companhia dos devotos e do mestre espiritual autêntico é muito importante. A pessoa tem que entender que o objetivo é Krishna, e quando o objetivo é estabelecido, o caminho então é lento mas atravessado progressivamente, e a meta última é alcançada.
Quando a pessoa conhece o objetivo da vida mas está apegada a atividades lucrativas, atua em karma-yoga. Quando sabe que o objetivo é Krishna, mas sente prazer na especulação mental para compreender Krishna, atua em jñana-yoga. E quando conhece o objetivo e procura Krishna plenamente em Consciência de Krishna e serviço devocional, atua em bhakti-yoga, ou buddhi-yoga, que é o yoga completo. Esse yoga completo é o estágio de perfeição mais elevado da vida.
A pessoa pode ter um mestre espiritual autêntico e pode estar apegada a alguma organização espiritual, ainda assim, se não for inteligente o suficiente para progredir, Krishna, dentro dela, dá instruções para que possa finalmente chegar até Ele sem dificuldade. A qualificação é que a pessoa deve sempre se dedicar à Consciência de Krishna e prestar todos tipos de serviço com amor e devoção. Ela deve realizar algum tipo de trabalho para Krishna, e esse trabalho deve ser com amor. Se o devoto for inteligente o bastante, fará progresso no caminho da auto-realização. Se a pessoa é sincera e devotada às atividades do serviço devocional, o Senhor lhe dá a chance de progredir e finalmente alcançá-Lo".

Verso 11
tesam evanukampartham
aham ajnana-jam tamah
nasayamy atma-bhavastho
jnana-dipena bhasvata

11. Devido à Minha intensa compaixão por eles, Eu que moro dentro de seus corações, destruo, com a brilhante lâmpada do conhecimento, a escuridão nascida da ignorância.

Iluminação de Srila Prabhupada:
"Quando Senhor Chaitanya estava em Benares na propagação do cantar de Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, milhares de pessoas O seguiam. Prakashananda, um acadêmico erudito muito influente e sábio de Benares naquela época, criticou o Senhor Chaitanya por ser um sentimentalista. Alguns filósofos criticam os devotos porque acham que a maioria dos devotos está na escuridão da ignorância e são filosoficamente sentimentalistas ingênuos. Na realidade, esse não é o caso. Há acadêmicos eruditos muito e muito sábios que explicaram a filosofia da devoção, mas mesmo se um devoto não aproveitar essa literatura ou a de seu mestre espiritual, se for sincero em seu serviço devocional, recebe ajuda do Senhor em pessoa dentro do seu coração. Por isso, o devoto sincero dedicado à Consciência de Krishna não pode ser sem conhecimento. A única qualificação é que a pessoa realize serviço devocional em Consciência de Krishna plena.
Os filósofos modernos pensam que não se pode ter conhecimento puro sem ajuda do discernimento. Para eles, o Senhor deu esta resposta: Aqueles que se ocupam no serviço devocional puro, ainda que careçam de suficiente educação, ou inclusive, não tenham suficiente conhecimento dos princípios Védicos, são ajudados pelo Deus Supremo, tal como se afirma neste verso.
O Senhor diz para Arjuna que basicamente não é possível compreender a Verdade Suprema, a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus, simplesmente por especulação, pois a Verdade Absoluta é tão grande que não é possível alcançá-La apenas com o esforço mental. A pessoa pode continuar a especular por muitos milhões de anos, mas se não for devota, se não for uma amante da Verdade Suprema, nunca compreenderá Krishna ou a Verdade Absoluta. A Verdade Suprema, Krishna, só fica satisfeita com o serviço devocional, e pode Se revelar no coração do devoto puro pela Sua energia inconcebível. O devoto puro sempre tem Krishna dentro do seu coração, por isso, ele é como o Sol que dissipa toda escuridão da ignorância. Essa é a misericórdia especial dada ao devoto puro por Krishna.
Por causa da contaminação da associação material durante muitos e muitos milhões de vidas, o coração da pessoa está sempre coberto com a poeira do materialismo, mas quando se ocupa no serviço devocional e canta constantemente Hare Krishna, a poeira é limpa rapidamente e a pessoa se eleva à plataforma do conhecimento puro. A meta última Vishnu só pode ser alcançada por esse canto e serviço devocional, não por especulação mental ou argumento. O devoto puro não precisa se preocupar com as necessidades da vida, não deve ficar ansioso porque quando remove a escuridão de seu coração, tudo é provido automaticamente pelo Supremo Senhor, pois Ele fica muito satisfeito com o serviço devocional amoroso do devoto. Essa é a essência dos ensinamentos do Gita. Com o estudo do Bhagavad-gita, a pessoa pode se tornar uma alma plenamente rendida ao Supremo Senhor e se dedicar ao serviço devocional puro. Quando o Senhor toma conta, a pessoa se torna plenamente livre de todos tipos de esforços materialistas".

12-13. Arjuna disse: Você é o Brahman Supremo, o último, a morada suprema e o purificador supremo, a Verdade Absoluta e pessoa divina eterna. É o Deus primordial, transcendental e original, a beleza onipresente, e é o que não tem nascimento. Todos os grandes sábios, tais como Narada, Asita, Devala e Vyasa, proclamam isto de Você, e agora Você mesmo me declara.

14. Ó Krishna! Aceito totalmente como verdade tudo o que me disse. Ó Senhor! Nem os deuses nem os demônios conhecem Sua Personalidade.

15. Ó maior de todas personalidades! Só Você Se conhece a Si Mesmo mediante Suas próprias potências. Ó, origem de tudo, Senhor de todos os seres, Deus dos deuses! Ó, Pessoa Suprema, Senhor do universo!

16. Por favor, explique-me em detalhe sobre Seus poderes divinos, com os quais Você penetra todos estes mundos e reside neles.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: Neste verso, parece que Arjuna já tem seu entendimento do Senhor Supremo, Krishna. Pela graça de Krishna, Arjuna tem experiência pessoal, inteligência, conhecimento e qualquer outra coisa que uma pessoa possa ter por meio desses fatores, e compreendeu Krishna como a Suprema Personalidade de Deus. Para ele não há dúvida, mas, no entanto, pede a Krishna que explique Sua natureza onipresente para que no futuro a gente compreenda, especialmente os impersonalistas, de que maneira Ele existe em Seu aspecto onipresente, mediante Suas distintas energias. Deve-se saber que Arjuna pede isso pelo interesse das pessoas comuns e atuais.

17. Ó Místico Supremo! Como devo meditar em Você? Em que diversas formas Você deve ser contemplado? Ó Senhor bem-aventurado!

18. Conte-me outra vez em detalhe, ó Janardana (Krishna), sobre Suas poderosas potências e glórias, pois nunca me canso de ouvir Suas palavras que são como ambrosia.

19. O bem-aventurado Senhor disse: Sim. Falarei de Minhas esplendorosas manifestações, mas só daquelas que são proeminentes, ó Arjuna, pois Minha opulência é ilimitada.

20. Ó Arjuna (Gudakesha)! Eu sou o Eu situado nos corações de todas as criaturas. Sou o princípio, o meio e o fim de todos os seres.

21. Dos Adityas, Eu sou Vishnu; das luzes, sou o Sol radiante; Eu sou Marichi dos Maruts, e entre as estrelas, sou a Lua.

22. Dos Vedas, sou o Sama Veda; dos semideuses, Eu sou Indra; dos sentidos, sou a mente, e nos seres viventes, sou a força vivente (o conhecimento).

23. De todos os Rudras, Eu sou o Senhor Shiva; dos Yakshas e Rakshasas, Eu sou o senhor da riqueza (Kuvera); dos Vasus, sou o fogo (Agni), e das montanhas, Eu sou Meru.

24. Ó Arjuna! Dos sacerdotes, conheça-me como o principal, Brihaspati, o senhor da devoção. Dos generais, Eu sou Skanda, o senhor da guerra; e das extensões de água, Eu sou o oceano.

25. Dos grandes sábios, Eu sou Brigu; das vibrações, sou o om transcendental. Dos sacrifícios, sou o canto dos santos nomes (japa), e das coisas imóveis, sou os Himalayas.

26. De todos as árvores, Eu sou a figueira sagrada; e entre os sábios e semideuses, sou Narada. Dos cantores dos deuses (Gandharvas), Eu sou Chitraratha, e entre os seres perfeitos, sou o sábio Kapila.

27. Dos cavalos, conheça-me como Uccaihsrava, que surgiu do oceano, nascido do elixir da imortalidade; dos elefantes régios, Eu sou Airavata; e entre os homens, Eu sou o monarca.

28. Das armas, sou o raio; entre as vacas, Eu sou a surabhi, produtora de leite em abundância. Entre os procriadores, Eu sou Kandarpa, o deus do amor; e das serpentes, sou Vasuki, a principal.

29. Das serpentes celestiais Naga, sou Ananta; das deidades aquáticas, Eu sou Varuna. Dos antepassados mortos, sou Aryama; e entre os dispensadores da lei, Eu sou Yama, o senhor da morte.

30. Entre os demônios Daitya, sou o devoto Prahlada; entre os subjugadores, Eu sou o tempo; entre as feras, sou o leão; e entre as aves, Eu sou Garuda, o portador alado de Vishnu.

31. Dos purificadores, sou o vento; dos peritos em armas, Eu sou Rama; dos peixes, sou o tubarão; e dos rios que fluem, sou o Ganges.

32. De todas as criações, Eu sou o princípio e o fim, e também o meio. Ó Arjuna! De todas as ciências, Eu sou a ciência espiritual do Eu; e entre os lógicos, sou a verdade conclusiva.

33. Das letras, sou a letra A; e entre as compostas, Eu sou a palavra dual. Sou também o tempo inesgotável; e dos criadores, Eu sou Brahma, cujos múltiplos rostos se voltam para todos lados.

34. Eu sou a morte que tudo o devora, e sou o gerador de todas as coisas que têm de existir. Entre as mulheres, Eu sou a fama, a fortuna, a palavra, a memória, a inteligência, a fidelidade e a paciência.

35. Dos hinos, Eu sou o Brihat-sama, que se canta ao Senhor Indra; e da poesia, Eu sou o verso Gayatri cantado diariamente pelos brahmanas. Dos meses, Eu sou novembro e dezembro; e das estações, Eu sou a primavera florida.

36. Das fraudes, também sou o jogo de azar; e do esplêndido, Eu sou o esplendor. Eu sou a vitória, a aventura e a força dos fortes.

37. Dos descendentes de Vrisni, Eu sou Vasudeva; e dos Pandavas, sou Arjuna. Dos sábios, Eu sou Vyasa; e entre os grandes pensadores, Eu sou Ushana.

38. Entre os castigos, Eu sou a vara de castigo; e sou a moralidade daqueles que procuram a vitória. Eu sou o silêncio das coisas secretas, e sou a sabedoria dos sábios.

39. Ainda mais, ó Arjuna, Eu sou a semente geradora de todas as existências. Não há nenhum ser, móvel ou imóvel, que possa existir sem Mim.

40. Ó, poderoso conquistador dos inimigos! Minhas manifestações divinas não têm fim. O que Eu lhe disse não é senão um simples indício de Minhas opulências infinitas.

41. Saiba que todas as criações formosas, gloriosas e poderosas brotam tão só de um fragmento de Meu esplendor.

42. Mas, que necessidade há, Arjuna, de todo este conhecimento detalhado? Com um só fragmento de Mim mesmo penetro e sustento todo este universo.

 

 

Capítulo Onze

A Forma Universal

1. Arjuna disse: Ouvi Suas instruções sobre temas espirituais confidenciais, as quais Você me proporcionou tão bondosamente, e minha ilusão agora está dissipada.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica: Este Capítulo revela Krishna como a causa de todas as causas. Ele é inclusive a causa do Maha-Vishnu, e Dele emanam os universos materiais. Krishna não é uma encarnação; Ele é a fonte de todas as encarnações. Isso já se explicou por completo no último Capítulo.

Agora, no que se refere a Arjuna, ele diz que sua ilusão acabou. Isso significa que Arjuna já não crê que Krishna é um simples ser humano, que não O considera um amigo seu, senão como a fonte de tudo. Arjuna está iluminado e feliz de ter um grande amigo como Krishna, mas agora pensa que ainda que ele aceite Krishna como a fonte de tudo, outros talvez não. Assim que, a fim de estabelecer para todos a divindade de Krishna, neste Capítulo, ele pede a Krishna que mostre Sua forma universal. Em realidade, quando alguém vê a forma universal de Krishna, assusta-se tal como Arjuna, mas Krishna é tão bondoso que após mostrá-la, converte-Se de novo em Sua forma original. Arjuna está de acordo com o que Krishna diz. Krishna fala com ele unicamente para seu benefício, e Arjuna reconhece que tudo isso acontece pela graça de Krishna. Agora, ele está convencido de que Krishna é a causa de todas as causas e que está presente no coração de cada um como a Superalma.

2. Ó, o dos olhos de lótus! Ouvi de Você em detalhe a respeito do aparecimento e do desaparecimento de todo ser vivo, tal como se compreende através de Suas glórias inesgotáveis.

3. Ó, a maior de todas personalidades! Ó, a forma suprema! Ainda que vejo aqui, perante mim, Sua verdadeira posição, não obstante, desejo ver a maneira em que Você entra nesta manifestação cósmica. Desejo ver essa Sua forma.

4. Se Você acha que sou capaz de ver Sua forma cósmica, ó meu Senhor, ó Senhor de todo poder místico, então faz o favor de me mostrar esse Eu universal.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui: Diz-se que ninguém pode ver, nem ouvir, nem compreender, nem perceber o Senhor Supremo, Krishna, mediante os sentidos materiais. Mas se a pessoa se ocupa no serviço carinhoso transcendental ao Senhor desde o princípio, então poderá ver o Senhor por meio da revelação. Toda entidade vivente é unicamente uma centelha espiritual; por isso, não é possível nem ver nem compreender o Senhor Supremo. Por ser devoto, Arjuna não depende de sua capacidade intelectual; porém, admite suas limitações como uma entidade vivente e reconhece a inestimável posição de Krishna. Arjuna pôde compreender que não é possível para uma entidade vivente compreender o Infinito ilimitado. Se o Infinito Se revela, então é possível compreender a natureza do Infinito mediante a graça Dele mesmo. A palavra Yogesvara é também muito significativa aqui, já que o Senhor tem poder inconcebível. Ainda que Ele é ilimitado, se assim o deseja, por Sua graça, Ele pode Se revelar. Portanto, Arjuna implora a graça inconcebível de Krishna. Krishna não tem obrigação de Se revelar a ninguém, a não ser que a pessoa se renda totalmente em consciência de Krishna e se ocupe no serviço devocional. Assim, não é possível para as pessoas que dependem da força de sua capacidade intelectual ver Krishna.

5. O bem-aventurado Senhor disse: Meu querido Arjuna, ó filho de Pritha! Tenho aqui Minhas opulências: Centenas de milhares de variadas formas divinas, multicoloridas como o mar.

6. Ó Arjuna (melhor dos Bharatas)! Olhe aqui as diferentes manifestações de Adityas, Rudras e todos os semideuses. Tenho aqui as muitas coisas que ninguém viu nem ouviu jamais.

7. Qualquer coisa que deseje ver, pode encontrar instantaneamente neste corpo. Esta forma universal pode mostrar tudo que você deseje agora, ou mesmo qualquer coisa que possa desejar no futuro. Tudo está aqui em forma completa.

8. Mas não pode Me ver com seus olhos atuais. Portanto, Eu lhe dou olhos divinos com os quais pode ver Minha opulência mística.

9. Sanjaya disse: Ó rei! Após falar assim, o Supremo, o Senhor de todo poder místico, a Personalidade de Deus, exibiu Sua forma universal a Arjuna.

10-11. Arjuna viu naquela forma universal, bocas e olhos ilimitados. Era totalmente maravilhosa. A forma estava enfeitada com ornamentos divinos brilhantes e vestida com muitas roupas. Estava com guirlandas gloriosas, e tinha muitas essências untadas sobre Seu corpo. Tudo era magnífico, expandindo-se ilimitadamente. Arjuna viu tudo isso.

12. Se centenas de milhares de sóis surgissem de repente no céu, eles poderiam talvez se assemelhar ao brilho da Pessoa Suprema naquela forma universal.

13. Nesse momento, Arjuna pôde ver, na forma universal do Senhor, as expansões ilimitadas do universo situadas num lugar só, ainda que divididas em muitíssimos milhares.

14. Então, confuso e atônito, com seus pêlos arrepiados, Arjuna começou a orar com as mãos postas, e oferecer reverências com muito temor ao Senhor Supremo.

15. Arjuna disse: Meu querido Senhor Krishna; vejo reunidos em Seu corpo todos os semideuses e várias outras entidades viventes. Vejo Brahma sentado na flor de lótus, vejo também o Senhor Shiva, e muitos sábios e serpentes divinas.

16. Ó Senhor do universo! Eu vejo em Seu corpo universal muitíssimas formas; ventres, bocas, olhos; expandidas sem limite. Não há nem fim, nem começo, nem meio de tudo isso.

17. Sua forma enfeitada com diversas coroas, maças e discos, é difícil de ver a causa de Sua deslumbrante refulgência, a qual, expandindo-se por todos lados, é reluzente e intensa como o Sol.

18. Você é o objetivo supremo e primordial! Você é o melhor em todos os universos! Você é inesgotável, e é o mais velho! Você é o que mantém a religião eterna, a Personalidade de Deus eterna!

19. Você é a origem, sem princípio, nem meio, nem fim. Tem inumeráveis braços, e o Sol e a Lua se contam entre Seus grandes e ilimitados olhos; sai um fogo reluzente de Sua boca, e com Seu próprio resplendor Você aquece todo este universo.

20. Ainda que Você é um, estende-Se por todo o céu, pelos planetas e o espaço entre eles. Ó Imponente! Enquanto olho esta forma terrível, vejo que todos os sistemas planetários estão perplexos.

21. Todos os semideuses se rendem e entram em Você. Eles estão muito temerosos e, com as mãos postas, cantam os hinos védicos.

22. As diferentes manifestações do Senhor Shiva, os Adityas, os Vasus, os Sadhyas, os Visvadevas, os dois Asvins, os Maruts, os antepassados e os Gandharvas, os Yakshas, os Asuras e todos os semideuses perfeitos olham Você com assombro.

23. Ó Você, de braços poderosos! Todos os planetas com seus semideuses se perturbam ao ver Seus rostos, olhos, braços, ventres, pernas e Seus dentes terríveis, e na mesma forma que eles estão perturbados, eu também estou.

24. Ó onipresente Vishnu! Já não posso manter meu equilíbrio. Ao ver Suas radiantes cores que enchem os céus, e ao olhar Seus olhos e bocas, tenho medo.

25. Ó Senhor dos senhores! Ó refúgio dos mundos! Por favor, seja bom comigo. Eu não posso manter meu equilíbrio ao ver assim Seus rostos brilhantes que parecem ser a própria morte e ao ver Seus dentes pavorosos. Estou confuso e não sei onde estou.

26-27. Todos os filhos de Dhritarastra junto com seus reis aliados, bem como Bhisma, Drona, Karna, e todos nossos soldados, precipitam-se dentro de Suas bocas, e suas cabeças são achatadas por Seus dentes terríveis. Também vejo que alguns são triturados entre Seus dentes.

28. Tal como os rios fluem para o mar, assim, todos estes grandes guerreiros entram em Suas bocas flamejantes e perecem.

29. Vejo a toda a gente se precipitar a toda velocidade dentro de Suas bocas, como insetos que se lançam numa chama ardente.

30. Ó Vishnu! Vejo Você a devorar toda gente com Suas bocas flamejantes, e encobrir o universo com Seus raios ilimitados. Você Se manifesta como o abrasador dos mundos.

31. Ó Senhor dos senhores, de forma tão feroz! Por favor, diga-me quem é Você. Presto minhas reverências a Você; por favor, seja bom comigo. Não sei qual é a Sua missão, e desejo ouvir sobre ela.

32. O bem-aventurado Senhor disse: Eu sou o tempo, destruidor dos mundos, e vim devorar toda gente. Com exceção de vocês (os Pandavas), todos os soldados de ambas as partes vão morrer aqui.

33. Portanto, levante-se e prepare-se para lutar. Após vencer seus inimigos, desfrutará um reino próspero. Eles já estão mortos por disposição Minha, e você, ó Arjuna (Savyasaci), não pode ser senão um instrumento na luta.

34. O bem-aventurado Senhor disse: Todos os grandes guerreiros, Drona, Bhisma, Jayadratha, Karna, já estão destruídos. Você simplesmente luta, e vencerá seus inimigos.

35. Sanjaya disse a Dhritarastra: Ó rei! Após ouvir estas palavras de parte da Suprema Personalidade de Deus, Arjuna, que tremia e oferecia suas reverências temerosas com mãos postas, começou a dizer o seguinte com voz embargada:

36. Ó Krishna! (Hrishikesha) O mundo inteiro se regozija ao ouvir Seu nome e assim, todo mundo se atrai a Você. E ainda que os seres perfeitos oferecem sua homenagem respeitosa a Você, os demônios têm medo e fogem daqui para lá. Tudo isso é feito em forma justa.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: Após ouvir de Krishna a respeito do resultado da Batalha de Kurukshetra, Arjuna se tornou um devoto iluminado do Senhor Supremo. Ele admitiu que tudo que Krishna faz é inteiramente justo. Arjuna confirmou que Krishna é quem mantém tudo, é o objeto de adoração para os devotos e o destruidor dos indesejáveis.

37. Ó grandioso, que está inclusive acima de Brahma! Você é o amo original. Por que não teriam de prestar sua homenagem a Você? Ó ilimitado! Ó refúgio do universo! Você é a fonte invencível, a causa de todas as causas, transcendental a esta manifestação material.

38. Você é o Deus original, a Personalidade primordial, e o único santuário deste mundo cósmico e manifesto. Você conhece tudo e é tudo que se deve conhecer. Você está acima dos modos materiais e é a morada suprema. Ó forma ilimitada! Você penetra todo o universo manifesto.

39. Você é o ar, o fogo, a água, e é a lua! É o controlador supremo e o avô. Assim, presto a Você minhas reverências respeitosas mil vezes, repetidamente!

40. Reverências pela frente, por trás e por todos os lados! Ó, poder infinito, Você é o amo de força ilimitada! É onipresente e assim, é tudo!

41-42. No passado me dirigi a Você como "Ó Krishna!, Ó Yadava!, Ó meu amigo!", sem conhecer Suas glórias. Por favor, perdoe qualquer coisa que eu tenha feito por loucura ou por amor. Faltei-Lhe o respeito muitas vezes enquanto descansávamos, ou enquanto nos recostávamos no mesmo leito ou comíamos juntos, às vezes sós e às vezes diante de muitos amigos. Por favor, perdoe-me por todas minhas ofensas.

43. Você é o Pai de toda esta manifestação cósmica, o líder digno de adoração, e o mestre espiritual. Ninguém se iguala a Você, ninguém pode ser uno com Você. Dentro dos três mundos, Você é inconcebível.

44. Você é o Senhor Supremo, a quem todos os seres viventes devem adorar. Assim, prostro-me para oferecer meus respeitos a Você e pedir Sua misericórdia. Por favor, tolere os agravos que eu tenha feito a Você e seja indulgente comigo, tal como um pai com seu filho, ou um amigo com seu amigo, ou um amante com sua amada.

45. Sinto-me alegre após ver essa forma universal, a qual jamais tinha visto, mas ao mesmo tempo, minha mente está perturbada pelo temor. Portanto, por favor, concede-me Sua graça e me revele de novo Sua forma como a Personalidade de Deus, ó Senhor de senhores! Ó refúgio do universo!

46. Ó Senhor universal! Desejo ver Você em Sua forma de quatro braços, com um elmo na cabeça e com uma maça, um disco, um búzio e uma flor de lótus nas mãos. Anseio ver Você nessa forma.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: No Brahma-samhita se afirma que o Senhor está eternamente situado em centenas de milhares de formas, e as formas principais são aquelas como Rama, Nrisimha, Narayana, etc.. Existem formas inumeráveis, mas Arjuna sabia que Krishna é a Personalidade de Deus original que assumiu Sua forma universal temporária. Agora, pede para ver a forma de Narayana, uma forma espiritual. Este verso estabelece sem dúvida a declaração do Srimad Bhagavatam, que afirma Krishna como a Personalidade de Deus original e que todos os demais aspectos se originam Dele. Ele não é diferente de Suas expansões plenárias, e é Deus em qualquer de Suas formas inumeráveis. Em todas essas formas, Ele possui o frescor de um jovem. Essa é a característica constante da Suprema Personalidade de Deus. Quem conhece Krishna se libera de imediato de toda a contaminação do mundo material.

47. O bem-aventurado Senhor disse: Meu querido Arjuna, é com muita alegria que mostro a você essa forma universal dentro do mundo material mediante Minha potência interna. Antes de você, ninguém jamais tinha visto essa forma ilimitada de esplendor deslumbrante.

48. Ó Arjuna (o melhor dos guerreiros dos Kurus)! Antes de você, ninguém jamais tinha visto a Minha forma universal, pois não pode ser vista nem pelo estudo dos Vedas, nem pela execução de sacrifícios, nem mediante a caridade e nem quaisquer atividades similares. Somente você A viu.

49. Sua mente se perturbou ao ver esse Meu aspecto horrível. Agora, que acabou, Meu devoto, libere-se de toda perturbação. Com a mente calma, agora pode ver a forma que deseja.

50. Sanjaya disse a Dhritarastra: A Suprema Personalidade de Deus, Krishna, enquanto falava assim a Arjuna, exibiu Sua verdadeira forma de quatro braços, e ao final lhe mostrou Sua forma de dois braços, assim animou o temeroso Arjuna.

51. Quando Arjuna viu Krishna assim, em Sua forma original, disse: Ao ver essa forma semelhante à humana, belíssima, minha mente já se tranqüilizou, e me reintegrei à minha natureza original.

52. O bem-aventurado Senhor disse: Meu querido Arjuna, a forma que você vê agora é muito difícil de encontrar. Inclusive os semideuses sempre procuram a oportunidade de ver esta forma que é tão querida.

53. Não se pode compreender esta forma, que agora vê com seus olhos transcendentais, nem pelo estudo dos Vedas, nem pela prática de severas penitências, nem pela caridade, nem pela adoração. Não é por esses meios que alguém pode Me ver tal como sou.

54. Meu querido Arjuna, só mediante o serviço devocional indiviso que é possível Me compreender tal como Eu sou, como estou aqui na sua frente, e Me ver assim diretamente. Só dessa maneira pode entrar nos mistérios do entendimento sobre Mim, ó vencedor dos inimigos!

55. Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu serviço devocional puro, que está livre das contaminações das atividades prévias e da especulação mental, que é amigável com toda entidade vivente, seguramente vem a Mim.

 

Deve-se meditar na Pessoa Suprema como Aquele que conhece tudo, como Aquele que é o mais velho, que é o controlador, que é o menor do menor, que é o mantenedor de tudo, que está além de toda concepção material, que é inconcebível, e que é sempre uma pessoa. Ele é brilhante como o Sol e, por ser transcendental, está além da natureza material. (Bg. 8.9).

 

 

Capítulo Doze

Serviço Devocional

1. Arjuna perguntou: Quem Você considera mais elevado: aqueles que estão corretamente ocupados em Seu serviço devocional ou os que adoram o Brahman impessoal, o não manifesto?

2. O bem-aventurado Senhor disse: Eu considero como o mais perfeito aquele cuja mente está fixa em Minha forma pessoal, dedicado sempre em Me adorar com grande fé transcendental.

3-4. Mas aqueles que, ao controlar os vários sentidos e serem igualmente inclinados com todos, adoram por completo o não manifesto, o que está além da percepção dos sentidos, o onipresente, inconcebível, fixo e imóvel, o conceito impessoal da Verdade Absoluta, tais pessoas, dedicadas ao bem-estar de todos, finalmente Me atingem.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: Aqueles que não adoram a Divindade Suprema, Krishna, diretamente, senão que tentam atingir a mesma meta mediante um processo indireto, ao final atingem a meta suprema, Sri Krishna. Tal como se declara: "Após muitos nascimentos a pessoa sábia procura refúgio em Mim, pois sabe que Vasudeva é tudo". Quando, após muitos nascimentos, uma pessoa chega ao conhecimento completo, rende-se a Krishna. Se alguém se aproxima da Divindade por meio do método que se menciona neste verso, tem que controlar os sentidos, prestar serviço a todo mundo e se dedicar à procura do bem-estar de todos seres viventes. Deduz-se que a pessoa tem que se aproximar do Senhor Krishna; de outra forma não há iluminação perfeita. Caso contrário, tem muita penitência antes de se render totalmente a Ele.
Com o objetivo de poder perceber a Superalma que está dentro do coração, a pessoa tem que cessar as atividades sensuais de ver, ouvir, gostar, trabalhar, etc.. Então chega a compreender que a Alma Suprema está presente em todas partes. Ao perceber isso, ela não inveja nenhuma entidade vivente, não vê diferença entre um ser humano e um animal, porque unicamente vê a alma e não a cobertura externa. Mas esse método de iluminação impessoal é muito difícil para a pessoa comum.

5. Para aqueles cujas mentes estão atraídas ao aspecto não manifesto e impessoal do Supremo, o avanço é muito penoso. Progredir nessa disciplina é sempre muito difícil para aqueles que estão corporificados.

6-7. Para aqueles que Me adoram por Me oferecerem todas as suas atividades e se consagram a Mim sem nenhum desvio, que se dedicam ao serviço devocional e meditam sempre em Mim, que fixaram sua mente em Mim, para eles, Eu sou quem os salva prontamente do oceano de nascimento e morte, ó filho de Pritha!

8. Somente fixe sua mente em Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e ocupe toda sua inteligência em Mim. Assim, sempre viverá em Mim, sem nenhuma dúvida.

Iluminação: Aquele que não é um devoto puro, e que não está absorto no Senhor constantemente, deve seguir os princípios de bhakti-yoga como dissemos muitas vezes. A pessoa aprende os detalhes deste processo ao se associar com devotos de Krishna.

9. Meu querido Arjuna, ó conquistador de riquezas! Se não pode fixar sua mente em Mim, sem se desviar, então siga os princípios reguladores de bhakti-yoga. Dessa forma, desenvolverá um desejo por Me alcançar.

Iluminação: Srila Prabhupada explica: "Neste verso, indicam-se dois processos diferentes de bhakti-yoga. O primeiro se aplica a quem desenvolveu a verdadeira atração por Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, com amor transcendental. E a outra é para quem não despertou uma atração pela Pessoa Suprema com amor transcendental. Para essa segunda classe, há várias regras e regulamentos que se pode seguir para finalmente se elevar ao estágio de atração por Krishna. Bhakti-yoga é a purificação dos sentidos. Agora, na existência material, os sentidos estão sempre impuros, ocupados na satisfação sensual. Mas, pela prática de bhakti-yoga os sentidos se purificam, e no estado puro, podem entrar em contato direto com o Senhor Supremo. Neste mundo material, posso estar ocupado em algum serviço para algum patrão, mas não tenho amor verdadeiro pelo meu patrão. Eu só o sirvo para ganhar algum dinheiro. E o patrão também não tem amor, contrata meu serviço e me paga. Não há questão de amor. Mas na vida espiritual, é preciso se elevar ao estágio de amor puro. Esse estágio de amor pode ser alcançado pela prática do serviço devocional, realizado com os sentidos presentes. Esse amor a Deus agora está num estágio dormente dentro do coração de todos. E, lá, o amor a Deus se manifesta de várias maneiras, mas está contaminado com a associação material. A associação material tem que ser purificada agora, e o amor natural por Krishna adormecido tem que despertar. Esse é o processo. Deve-se praticar os princípios reguladores de bhakti-yoga sob a guia de um mestre espiritual perito, seguir certos princípios como acordar cedo, tomar banho, entrar no Templo e oferecer preces e cantar Hare Krishna, oferecer flores à Deidade, cozinhar alimentos para oferecer à Deidade, comer prasadam, e assim por diante. Há várias regras que se deve seguir. E a pessoa deve ouvir sempre o Bhagavad-gita e o Srimad-Bhagavatam na companhia de devotos puros. Essa prática pode elevar qualquer pessoa ao nível do amor a Deus, e assegurar seu progresso para o reino espiritual de Deus. Essa prática de bhakti-yoga, sob regras e regulamentos, com a guia do mestre espiritual, com certeza leva a pessoa ao estágio de amor a Deus".

10. Se não pode praticar as regras de bhakti-yoga, então trate simplesmente de trabalhar para Mim, porque se trabalhar para Mim, chegará à etapa perfeita.

Iluminação: Srila Prabhupada explica a respeito: Aquele que nem sequer é capaz de praticar os princípios reguladores de bhakti-yoga, sob a guia de um mestre espiritual, ainda pode ser atraído a essa etapa de perfeição por meio do trabalho para o Senhor Supremo. Já se explicou a forma de executar esse trabalho no verso 55 do Capítulo Onze. A pessoa deve simpatizar com a propagação da consciência de Krishna. Há muitos devotos que estão ocupados na propagação da consciência de Krishna e precisam de ajuda. Assim, ainda que a pessoa não possa praticar diretamente os princípios de bhakti-yoga, pode tratar de ajudar nesse trabalho. Todo esforço requer terra, capital, organização e trabalho. Bem como nos negócios se requer um lugar onde se estabelecer, algum capital para utilizar, algum trabalho e alguma organização para a expansão, assim, o mesmo se requer no serviço a Krishna. A única diferença é que no materialismo se trabalha para a satisfação dos sentidos. No entanto, pode-se executar o mesmo trabalho para a satisfação de Krishna, e é uma atividade espiritual. Se alguém tem suficiente dinheiro, pode ajudar a construir um escritório ou um templo para propagar a consciência de Krishna. Ou pode ajudar com as publicações. Há muitos campos de atividade e a pessoa deve se interessar em tais atividades. Se ela não pode sacrificar o resultado de tais atividades, ainda assim, a mesma pessoa pode sacrificar alguma percentagem para propagar a consciência de Krishna. Esse serviço voluntário à causa da consciência de Krishna, vai ajudá-la a avançar para um estado mais elevado de amor a Deus, no qual se aperfeiçoa.

11. No entanto, se é incapaz de trabalhar com essa consciência, então trate de atuar com o abandono de todos resultados de seu trabalho e trate de se situar no eu.

12. Se não pode empreender essa prática, então se dedique ao cultivo do conhecimento. No entanto, melhor do que o conhecimento é a meditação, e melhor do que a meditação é a renúncia aos frutos da ação, porque mediante tal renúncia se atinge a paz mental.

13-14. Aquele que não é invejoso senão que é um amigo bondoso de todas entidades viventes, que não se acha proprietário, que está livre do ego falso e é equânime tanto na felicidade como na tristeza, que está sempre satisfeito e se ocupa no serviço devocional com determinação, e cuja mente e inteligência estão em harmonia Comigo, ele é muito querido por Mim.

15. Aquele que não perturba o mundo, e a quem o mundo não pode perturbar, que está livre da dualidade de felicidade e tristeza materiais, desprovido de todo temor e ansiedade, esse devoto Me é muito querido.

16. Aquele devoto que está livre de toda esperança e afeto materiais, que é puro e sábio, livre de toda ansiedade, e que em todos seus esforços renuncia por completo ao resultado, esse devoto Me é muito querido.

17. Aquele que não se apega nem ao prazer nem à dor, que nem se lamenta nem deseja, que renuncia tanto às coisas propícias como às não propícias, ele é muito querido por Mim.

18-19. Aquele que vê igualmente amigos e inimigos, que é equânime na honra e desonra, frio e calor, felicidade e tristeza, fama e infâmia; que sempre está livre de contaminação, sempre silencioso e satisfeito com qualquer coisa, que não se preocupa por algum lugar onde viver, que está fixo no conhecimento e está ocupado no serviço devocional, é muito querido por Mim.

20. Aquele que segue este caminho imperecível do serviço devocional, que se dedica completamente com fé e faz de Mim a meta suprema, é muito, muito querido por Mim.

 

 

 

Capítulo Treze

A Natureza, o Desfrutador

e a Consciência

1-2. Arjuna disse: Ó meu querido Krishna! Desejo conhecer sobre prakriti (a natureza), purusha (o desfrutador), o campo e o conhecedor do campo, e o conhecimento e o fim do conhecimento. Então o bem-aventurado Senhor disse: Este corpo, ó filho de Kunti, chama-se o campo, e aquele que conhece este corpo, denomina-se o conhecedor do campo.

3. Ó Arjuna (descendente de Bharata)! Deve compreender que Eu também sou o conhecedor dentro de todos os corpos, e compreender este corpo e seu proprietário é denominado conhecimento. Esta é a Minha opinião.

4. Agora ouça, por favor, Minha breve descrição deste campo de atividade e como se constitui, quais são suas mudanças, de onde se produzem, quem é esse conhecedor do campo de atividades, e quais são suas influências.

5. Este conhecimento do campo das atividades e do conhecedor das atividades, é descrito por vários sábios em muitos escritos védicos, especialmente no Vedanta-sutra, e é exposto com pleno conhecimento quanto à causa e ao efeito.

6-7. Os cinco grandes elementos, o ego falso, a inteligência, o não manifesto, os dez sentidos, a mente, os cinco objetos dos sentidos, o desejo, o ódio, a felicidade, a dor, os elementos agregados, os sintomas vitais e as convicções, todos esses são considerados, em resumo, como o campo de atividades e suas interações.

8-12. A humildade, a carência de orgulho, a não-violência, a tolerância, a simplicidade, a aproximação com o mestre espiritual autêntico, a limpeza, a constância e o autocontrole; a renúncia aos objetos de satisfação dos sentidos, a ausência de ego falso, a percepção do mal do nascimento, da doença, da velhice e da morte; o desapego pelos filhos, pela esposa, pelo lar e pelos demais, a estabilidade mental ante os eventos prazenteiros ou desagradáveis, a devoção imaculada e constante por Mim, o recorrer a lugares solitários, o desapego da massa geral de pessoas; a aceitação da importância da auto-realização, e a busca filosófica da Verdade Absoluta; tudo isso, assim pois, Eu declaro que é conhecimento, e o que é contrário a isso é ignorância.

13. Agora explicarei o conhecível, e ao compreendê-lo, você provará o eterno. Isso não tem princípio e está subordinado a Mim. Chama-se Brahman, o espírito, e está situado além da causa e efeito deste mundo material.

14. Suas mãos e pernas, Seus olhos e rostos estão por toda parte, e Ela ouve tudo. Dessa maneira existe a Superalma.

15. A Superalma é a fonte original de todos os sentidos, e, no entanto, não tem sentidos. É desapegada, ainda que mantém todos os seres viventes. Transcende os modos da natureza material, e, ao mesmo tempo, é a ama de todos os modos da natureza material.

16. A Suprema Verdade existe tanto interna como externamente, no móvel e no imóvel. Ela está além do poder dos sentidos materiais de ver e de conhecer; e ainda que está muito longe, Ela também está perto de todos.

17. Ainda que a Superalma parece estar dividida, nunca está. Ela está situada como uma unidade. Ainda que é a sustentadora de cada entidade vivente, deve se entender que Ela produz e devora tudo.

18. Ela é a fonte da luz em todos os objetos luminosos. Ela está além da escuridão da matéria e é não manifesta. Ela é o conhecimento, o objeto do conhecimento e a meta do conhecimento. Ela está situada no coração de todos.

19. Assim, Eu descrevi, em forma resumida, o campo de atividades (o corpo), o conhecimento e o conhecível. Somente Meus devotos podem compreender isto por completo, e dessa forma atingem Minha natureza.

20. Deve-se compreender que tanto a natureza material como as entidades viventes não têm princípio. Suas transformações e os modos da matéria são produtos da natureza material.

21. Diz-se que a natureza é a causa de todas as atividades e efeitos materiais, enquanto a entidade vivente é a causa dos diferentes sofrimentos e prazeres deste mundo.

22. Dessa forma, a entidade vivente dentro da natureza material segue os destinos da vida, a desfrutar dos três modos da natureza. Isso se deve à sua associação com esta natureza material. Assim, encontra-se com o bem e o mal entre as diversas espécies.

Iluminação: Srila Prabhupada nos diz: Este verso é muito importante para um entendimento de como transmigram as entidades viventes de um corpo a outro. No Capítulo Dois se explica que o ser vivo transmigra de um corpo a outro, do mesmo jeito como uma pessoa troca de roupa. Essa troca de roupa se deve a seu apego pela existência material. Enquanto estiver cativada por esta manifestação falsa, tem que continuar na transmigração de um corpo a outro. Devido a seu desejo de possuir a natureza material, ela é posta nessas circunstâncias indesejáveis. Sob a influência do desejo material, o ser vivo nasce às vezes como semideus, às vezes como ser humano, como animal, como um pássaro, como um verme, como um ser aquático, como um inseto. Isso acontece de fato. E em todos os casos, o ser vivo pensa que é o amo de suas circunstâncias, não obstante, está sob a influência da natureza material.

23. No entanto, neste corpo existe alguém mais, um desfrutador transcendental, que é o Senhor, o proprietário supremo, que existe como o superintendente e o permissor, e que se conhece como a Superalma.

24. Aquele que compreende esta filosofia sobre a natureza material, o ser vivo e a interação dos modos da natureza, com certeza vai alcançar a liberação. Ele não nascerá de novo aqui, apesar de sua posição atual.

25. Alguns percebem a Superalma pela meditação, outros pelo cultivo do conhecimento, e outros pelo trabalho sem desejo lucrativo.

26. Além do mais, existem aqueles que, ainda não versados no conhecimento espiritual, começam a adorar a Pessoa Suprema ao ouvir sobre Ela. Devido à sua tendência de ouvir das autoridades, eles também transcendem o caminho de nascimento e morte.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica a esse respeito: Este verso é particularmente aplicável à sociedade moderna, porque nela praticamente não há nenhuma educação sobre temas espirituais. Algumas pessoas talvez pareçam ser atéias, agnósticas ou filósofas, mas entretanto não existe nenhum conhecimento sobre Deus. Quanto ao ser humano ordinário, se é uma boa alma, então existe a oportunidade de que avance mediante o ouvir. Este processo de ouvir é muito importante. O Senhor Chaitanya, que pregou a consciência de Krishna no mundo moderno, deu grande importância ao ouvir, porque se a pessoa comum simplesmente ouve de parte das fontes autênticas, ela pode progredir; esse avanço pode melhorar mais ainda, de acordo com o Senhor Chaitanya, se a pessoa ouve especificamente a vibração transcendental:

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

27. Ó Arjuna (principal dos Bharatas)! Qualquer coisa que você vê existir, tanto móvel quanto imóvel, é unicamente a combinação entre o campo de atividades e o conhecedor do campo.

28. Aquele que vê a Superalma como a acompanhante da alma individual em todos os corpos, e que compreende que nem a alma nem a Superalma se destroem jamais, ele realmente vê.

Iluminação: Apesar de que a alma é filha e criação de Deus, eternamente se distingue Dele. Quem deseja se tornar Deus, está na mais profunda ignorância. Ainda que em suas meditações sonhe em ter criado o universo, tão logo tenha uma dor de dente, precisa ir a um dentista, por ser incapaz de curar a si mesmo. A verdade é que não somos Deus senão só um fragmento de Suas energias divinas, dotados por Ele de livre arbítrio e consciência individual. Mas só podemos encontrar a felicidade ao seguir a vontade do Senhor Supremo.

29. Aquele que vê a Superalma em todos os seres viventes, situada igualmente em todas partes, não se degrada por causa de sua mente. Assim, ele atinge o destino transcendental.

30. Aquele que pode ver que todas as atividades são executas pelo corpo, o qual é criado a partir da natureza material, e que vê que o eu não faz nada, ele realmente vê.

31. Quando uma pessoa sensível deixa de ver as diferentes identidades, as quais se devem aos diferentes corpos materiais, chega ao conceito do Brahman. Assim, ela vê que os seres se expandem por toda parte.

32. Aqueles que têm a visão da eternidade, podem ver que a alma é transcendental, eterna, e que está além dos modos da natureza. Ó Arjuna! Apesar do contato com o corpo material, a alma nem faz nada nem se enreda.

33. Ainda que o céu é onipresente, não se mistura com nada devido a sua natureza sutil. De igual maneira, a alma, situada com a visão do Brahman, não se mistura com o corpo, ainda que esteja situada neste corpo.

34. Ó filho de Bharata! Como o Sol ilumina todo este universo, assim, a entidade vivente, que é uma dentro do corpo, ilumina todo o corpo com a consciência.

35. Aquele que sabiamente vê esta diferença entre o corpo e o proprietário do corpo, e que pode compreender o processo de libertação deste cativeiro, também chega à meta suprema.

 

O Senhor Supremo disse: Meu querido Arjuna, porque você não Me inveja, Eu transmito a você esta sabedoria que é a mais secreta, e ao conhecê-la se aliviará das misérias da existência material. (Bg. 9.1).

 

 

Capítulo Quatorze

Os Três Modos da Natureza Material

1. O bem-aventurado Senhor disse: Eu vou lhe falar de novo esta sabedoria suprema, o melhor de todo o conhecimento. Ao compreendê-la, todos os sábios atingiram a suprema perfeição.

2. Por se estabelecer neste conhecimento, a pessoa pode atingir a natureza transcendental, que é Minha própria natureza. Estabelecida assim, ela não nasce no momento da criação nem se perturba no momento da dissolução.

3. A substância material total, chamada Brahman, é a fonte do nascimento, e é esse Brahman que Eu fertilizo, e assim faço possível o nascimento de todos os seres viventes, ó filho de Bharata!

4. Ó Arjuna (filho de Kunti)! Deve-se compreender que todas as espécies de vida aparecem por meio de seu nascimento na natureza material, e que Eu sou o pai que dá a semente.

5. A natureza material consta dos três modos: a bondade, a paixão e a ignorância. Quando a entidade vivente se põe em contato com a natureza, fica condicionada por estes modos.

6. Ó impecável! O modo da bondade, por ser mais puro do que os outros, ilumina e libera a pessoa de todas reações pecaminosas. Aqueles que se situam nesse modo, desenvolvem conhecimento, mas ficam condicionados pelo conceito de felicidade.

7. Ó Arjuna (filho de Kunti)! O modo da paixão nasce dos desejos e anseios ilimitados, e por causa disso, a pessoa se prende às atividades de exploração materiais.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui: O modo da paixão se caracteriza pela atração entre o homem e a mulher. A mulher tem atração pelo homem, e o homem tem atração pela mulher. Isso se chama modo da paixão, e quando o modo da paixão aumenta, desenvolve-se o anseio pelo gozo material. A pessoa quer desfrutar do prazer dos sentidos. Pela satisfação dos sentidos, a pessoa no modo da paixão quer ter alguma honra, na sociedade ou na nação, e quer ter uma família feliz, com bons filhos, esposa e casa. Esses são os produtos do modo da paixão. Enquanto se anseiam essas coisas, tem-se que trabalhar muito duro. Portanto, aqui se afirma claramente que essa pessoa chega a se associar com os frutos de suas atividades e assim se ata a tais resultados. A fim de satisfazer sua esposa, seus filhos, a sociedade, e manter seu prestígio, tem que trabalhar. Assim, todos no mundo material estão mais ou menos no modo da paixão. Considera-se que a civilização moderna é avançada nas normas do modo da paixão. Anteriormente, considerava-se que a condição avançada estava no modo da bondade. Se não há liberação para aqueles no modo da bondade, que dizer daqueles que estão enredados no modo da paixão?

8. Ó filho de Bharata! O modo da ignorância causa a ilusão de todas as entidades viventes. O resultado deste modo é a loucura, a indolência e o sonho, os quais atam a alma condicionada.

9. O modo da bondade condiciona a pessoa à felicidade, a paixão condiciona aos frutos da ação, e a ignorância condiciona à loucura.

10. Ó filho de Bharata! Algumas vezes o modo da paixão se torna proeminente e vence o modo da bondade. E algumas vezes o modo da bondade vence o da paixão, e também em outras ocasiões o modo da ignorância derrota a bondade e a paixão. Assim, sempre há uma competição pela supremacia.

11. As manifestações do modo da bondade podem ser experimentadas quando todas as portas do corpo estão iluminadas pelo conhecimento.

12. Ó principal dos Bharatas! Quando há um aumento do modo da paixão, desenvolvem-se os sintomas de grande apego, desejo incontrolável, ansiedade e esforço intenso.

13. Ó filho de Kuru! Quando há um aumento do modo da ignorância, manifestam-se a loucura, a ilusão, a inatividade e a obscuridade.

14. Quando alguém morre no modo da bondade, alcança os planetas puros superiores.

15. Quando alguém morre no modo da paixão, nasce entre aqueles que se ocupam em atividades de exploração; e quando morre no modo da ignorância, nasce no reino animal.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: Algumas pessoas têm a impressão de que quando a alma atinge a plataforma humana, nunca regride outra vez. Isso é incorreto. De acordo com este verso, se alguém desenvolve o modo da ignorância, após sua morte, degrada-se à forma de vida animal. Dali, tem que se elevar outra vez, pelo processo de evolução, para voltar de novo à forma de vida humana. Portanto, aqueles que são realmente sinceros a respeito da vida humana, devem aceitar o modo da bondade, e em boa associação, transcender os modos e se situarem em consciência de Krishna. Essa é a meta da vida humana. De outra maneira, não há garantia de que o ser humano atingirá outra vez o estado humano.

16. Quando atua no modo da bondade, a pessoa se purifica. As obras executadas no modo da paixão produzem angústia, e as ações que se executam no modo da ignorância resultam em obscuridade.

17. Do modo da bondade se desenvolve o conhecimento verdadeiro; do modo da paixão se desenvolve a angústia; e do modo da ignorância se desenvolvem a obscuridade, a loucura e a ilusão.

18. Aqueles que estão situados no modo da bondade ascendem gradualmente aos planetas superiores; aqueles que estão no modo da paixão vivem nos planetas terrestres; e aqueles que estão no modo da ignorância caem nos mundos infernais.

19. Quando você ver que em todas as atividades não há nada mais além destes modos da natureza, e que o Senhor Supremo é transcendental a todos estes modos, então poderá conhecer Minha natureza espiritual.

20. Quando o ser corporificado for capaz de transcender estes três modos, pode se liberar de nascimento, morte, velhice e suas angústias, e pode desfrutar de néctar mesmo nesta vida.

21. Arjuna perguntou: Ó meu querido Senhor! Por quais sintomas se conhece a quem é transcendental a esses modos? Qual é seu comportamento? E como transcende os modos da natureza?

22-25. O bem-aventurado Senhor disse: Aquele que não odeia a iluminação, apego e ilusão quando estão presentes, nem anseia quando desaparecem; que está situado como indiferente, além destas reações materiais dos modos da natureza, que permanece firme pois sabe que só os modos estão ativos; que considera iguais o prazer e a dor, e que vê com visão igual um torrão, uma pedra e um pedaço de ouro; que é sábio e sabe que o louvor e a desaprovação são o mesmo; que é inalterável na honra e na desonra; que trata igualmente os amigos e os inimigos; que abandonou todos os compromissos de exploração, tal pessoa se diz que transcendeu os modos da natureza.

26. Aquele que se ocupa totalmente no serviço devocional, que não cai em nenhuma circunstância, de imediato transcende os modos da natureza material e assim chega ao nível de Brahman.

27. E Eu sou o fundamento do Brahman impessoal, que é a posição constitucional da felicidade última, é imortal, imperecível e eterno.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui a esse respeito: A constituição do Brahman imperecível é a imortalidade, a eternidade e a felicidade. O Brahman é o começo do entendimento transcendental. O Paramatma, ou Superalma, é o intermediário, ou seja, a segunda etapa no entendimento transcendental, e a Suprema Personalidade de Deus é o entendimento máximo da Verdade Absoluta. Assim que, tanto o Paramatma quanto o Brahman impessoal estão dentro da Pessoa Suprema. Explica-se no Capítulo Sete que a natureza material é a manifestação da energia inferior do Senhor Supremo. O Senhor ensopa a natureza material inferior com os fragmentos da natureza superior, assim é o toque espiritual na natureza material. Quando uma entidade vivente, condicionada por esta natureza material, começa o cultivo do conhecimento espiritual, eleva-se da posição da existência material e gradualmente sobe até o conceito Brahman do Supremo. Atingir o conceito Brahman de vida constitui a primeira etapa da auto-realização. Nessa etapa, a pessoa que conseguiu a iluminação Brahman é transcendental à posição material, mas seu entendimento do Brahman não é realmente perfeito. Se ela quiser, pode continuar situada na posição de Brahman, depois se elevar gradualmente ao entendimento de Paramatma, e depois ao entendimento da Suprema Personalidade de Deus. Há muitos exemplos disso na literatura védica. Os quatro Kumaras se situaram primeiro no conceito Brahman impessoal da verdade, mas logo se elevaram gradualmente à plataforma do serviço devocional. Aquele que não pode se elevar além do conceito impessoal do Brahman, corre o risco de cair. No Srimad Bhagavatam se afirma, ainda que uma pessoa se eleve ao estado do Brahman impessoal sem avançar além, se não tem informação da Pessoa Suprema, sua inteligência não está perfeitamente clara. Portanto, apesar de se elevar à plataforma do Brahman, existe a possibilidade de cair se não se ocupar no serviço devocional ao Senhor. Na linguagem védica também se diz: "Quando alguém compreende a Personalidade de Deus, a grande fonte do prazer, Krishna, aliás se torna bem-aventurado em transcendência". O Senhor Supremo é pleno em seis opulências, e quando um devoto se aproxima Dele, há um intercâmbio dessas seis opulências. O servente do rei desfruta em um nível quase igual ao do rei. E assim, a felicidade eterna, felicidade imperecível, e a vida eterna, acompanham o serviço devocional. Portanto, o entendimento do Brahman, ou seja, a eternidade ou o estado imperecível, inclui-se no serviço devocional.
O ser vivo, ainda que é Brahman por natureza, tem o desejo de dominar o mundo material, e por causa disso, cai. Em sua posição constitucional, um ser vivo está acima dos três modos da natureza material, mas sua associação com esta natureza o enreda nos diferentes modos: a bondade, a paixão e a ignorância. Devido à associação com estes três modos, existe um desejo de dominar o mundo material. Mediante sua dedicação ao serviço devocional, com plena consciência de Krishna, ela se situa imediatamente na posição transcendental, e se remove seu desejo ilícito de controlar a natureza material. Portanto, o processo do serviço devocional, que começa com ouvir, cantar e lembrar (os nove métodos prescritos para realizar o serviço devocional ao Senhor Supremo), deve-se praticar na associação dos devotos. Gradualmente, mediante tal associação e a influência do mestre espiritual, remove-se o desejo material por dominar e a pessoa se situa firmemente no serviço transcendental carinhoso ao Senhor. Este método se prescreve desde o verso vinte e dois até o último verso deste Capítulo. O serviço devocional ao Senhor é muito simples: a pessoa deve se ocupar sempre no serviço ao Senhor, deve comer os restos de alimento oferecido à Deidade, cheirar as flores oferecidas aos pés de lótus do Senhor, visitar os lugares onde o Senhor teve Seus passatempos transcendentais, ler sobre as diferentes atividades do Senhor, Sua reciprocidade de amor com Seus devotos, cantar sempre a vibração transcendental:

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

E observar todos os dias de jejum que comemoram as aparições e desaparecimentos do Senhor e Seus devotos. Se seguir este processo, ela se desapega completamente de todas as atividades materiais. Aquele que pode se situar deste modo no brahmayoti, é igual em qualidade à Suprema Personalidade de Deus.

 

Saiba que todas as criações formosas, gloriosas e poderosas brotam tão só de um fragmento de Meu esplendor. Mas, que necessidade há, Arjuna, de todo este conhecimento detalhado? Com um só fragmento de Mim Mesmo penetro e sustento todo este universo. (Bg. 10.41-42).

 

 

Capítulo Quinze

O Yoga com a Pessoa Suprema

1. O bem-aventurado Senhor disse: Existe uma figueira-de-bengala que tem suas raízes para cima e seus galhos para baixo, e cujas folhas são os hinos védicos. Aquele que conhece essa árvore é um conhecedor dos Vedas.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica: Após discutir a importância de bhakti-yoga, pode-se perguntar: "Que fazer com os Vedas"? Neste Capítulo se explica que o propósito do estudo dos Vedas é compreender Krishna. Portanto, aquele que está na consciência de Krishna e que se ocupa no serviço devocional, já conhece os Vedas.
O embrulho deste mundo material é comparado aqui a uma grande árvore figueira-de-bengala. Para aquele que está dedicado às atividades de exploração, a árvore não tem fim. Ele vaga de um galho a outro, uma e outra vez. A árvore deste mundo material não tem fim, e para aquele que está apegado a esta árvore, não há possibilidade de liberação.

2. Os galhos desta árvore se estendem para baixo e para cima, nutridos pelos três modos da natureza material. As ramificações são os objetos dos sentidos. Esta árvore também tem raízes que vão para baixo e estão vinculadas às ações de exploração da sociedade humana.

3-4. A verdadeira forma desta árvore não pode ser percebida neste mundo. Ninguém pode compreender onde acaba, onde começa, nem onde está sua base. Mas, com determinação, deve-se derrubar esta árvore com a arma do desapego. Ao fazer isso, deve-se procurar esse lugar onde se vai uma vez e jamais se regressa, e lá, render-se a essa Suprema Personalidade de Deus, a partir de quem tudo começou, e em quem tudo permanece desde tempo imemorável.

5. Aquele que está livre da ilusão, do prestígio falso e da associação falsa, que compreende o eterno, que encerrou a luxúria material e está livre da dualidade de felicidade e sofrimento, e que sabe como se render à Pessoa Suprema, atinge esse reino eterno.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: O processo de rendição se descreve muito eficazmente aqui. O primeiro requisito é que a pessoa não deve estar iludida pelo orgulho. É muito difícil que a alma condicionada se renda à Suprema Personalidade de Deus, já que está muito envaidecida, crendo-se o senhor da natureza material. Também Krishna recomenda deixar a associação falsa, quer dizer, evitar a companhia de pessoas mundanas que não nos brindarão nenhum benefício substancial.

6. Essa, Minha morada, não é iluminada pelo Sol, nem pela Lua, nem pela eletricidade. Aquele que chega a ela, nunca regressa a este mundo material.

7. Os seres vivos deste mundo condicionado são Minhas partes infinitesimais eternas. Devido à vida condicionada, eles lutam muito arduamente com os seis sentidos, os quais incluem a mente.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica: Neste verso se dá claramente a identidade do ser vivente. A entidade vivente é eternamente parte ou fragmento do Senhor Supremo. Não é que adquire sua individualidade nesta vida condicionada, e que em seu estado liberado se torna una com o Senhor Supremo. Ela é um fragmento eternamente. E eternamente mantém sua posição de servente infinitesimal de Krishna, que é o doce atraente infinito.

8. O ser vivo no mundo material leva seus diferentes conceitos de vida de um corpo a outro, tal como o ar transporta os aromas.

9. Ao aceitar assim outro corpo grosseiro, o ser vivo obtém certo tipo de ouvido, olho, língua, nariz e sentido do tato, os quais estão agrupados ao redor da mente. Assim, ele desfruta de um grupo particular de objetos dos sentidos.

10. Os tolos não podem entender como é que o ser vivo pode deixar seu corpo, nem podem compreender que tipo de corpo desfruta sob o feitiço dos modos da natureza; mas aquele cujos olhos estão treinados no conhecimento, pode ver tudo isso.

11. O transcendentalista esforçado, que está situado na auto-realização, pode ver tudo com clareza. Mas aqueles que não estão situados na auto-realização, não podem ver o que acontece, ainda que assim tentem.

12. O esplendor do Sol, que dissipa a escuridão de todo este mundo, vem de Mim. E o esplendor da Lua e o esplendor do fogo também vêm de Mim.

13. Eu entro em cada planeta, e mediante Minha energia, eles permanecem em órbita. Eu Me converto na Lua, e, desse modo, provejo a seiva vital a todos os vegetais.

14. Eu sou o fogo da digestão em todo corpo vivente, e sou o ar vital que sai e que entra, por meio do qual Eu digiro os quatro tipos de alimentos.

15. Eu estou situado no coração de todos, e de Mim vem a lembrança, o conhecimento e o esquecimento. Eu sou o que deve ser conhecido em todo conteúdo dos Vedas. Eu sou o compilador do Vedanta e conheço os Vedas tal como são.

16. Há duas classes de seres: os falíveis e os infalíveis. No mundo material toda entidade é falível, e no mundo espiritual toda entidade se chama infalível.

17. Fora esses dois, existe a personalidade vivente maior, o próprio Senhor, que entrou nestes mundos e os mantém.

18. Devido a Eu ser transcendental e Me encontrar além do falível e do infalível, e já que sou o maior, sou celebrado tanto no mundo quanto nos Vedas como a Pessoa Suprema.

19. Qualquer um que Me conhece, sem duvidar, como a Suprema Personalidade de Deus, deve ser visto como um conhecedor de tudo, e, portanto, ele Me adora com serviço devocional pleno, Ó Arjuna (filho de Bharata)!

20. Ó, impecável! Esta é a parte mais confidencial das escrituras védicas, que agora revelo a você. Qualquer um que entende isto se torna um sábio e seus esforços conhecerão a perfeição.

 

 

Capítulo Dezesseis

As Naturezas Divina e Demoníaca

1-3. O bem-aventurado Senhor disse: Ó Arjuna (filho de Bharata)! A ausência de temor, a purificação da própria existência, o cultivo do conhecimento espiritual, a caridade, o autocontrole, a execução de sacrifícios, o estudo dos Vedas, a austeridade e a simplicidade, a não-violência, a veracidade, o estar livre da ira, a renúncia, a tranqüilidade, a aversão a achar defeitos nos demais, a compaixão e a ausência de cobiça, a paciência, a modéstia e a firme determinação, o vigor, a clemência, a fortaleza, a limpeza, a carência de inveja e paixão pela honra: Essas qualidades transcendentais pertencem às pessoas piedosas dotadas com a natureza divina.

4. A arrogância, o orgulho, a ira, a vaidade, a aspereza e a ignorância, estas qualidades pertencem àqueles de natureza demoníaca, ó filho de Pritha (Arjuna)!

Iluminação: Srila Prabhupada diz a esse respeito: Neste verso se descreve o caminho real ao inferno. Os seres demoníacos querem fazer uma ostentação de religião e avanço na ciência espiritual, ainda que não seguem os princípios. Eles sempre são arrogantes e orgulhosos de possuir algum tipo de educação ou demasiada riqueza. Eles desejam que outros os adorem e demandam respeito, ainda que não mereçam. Ficam aborrecidos até por bagatelas e falam asperamente, sem gentileza. Não sabem o que se deve fazer e o que não se deve fazer. Eles fazem tudo caprichosamente, de acordo a seu próprio desejo, e não reconhecem nenhuma autoridade. Estas qualidades demoníacas as adquirem desde o princípio de seus corpos no ventre de suas mães, e enquanto crescem, eles manifestam todas estas qualidades impróprias.

5. As qualidades transcendentais conduzem à libertação, enquanto as qualidades demoníacas conduzem ao cativeiro. Não se preocupe, ó Arjuna (filho de Pandu), pois você nasceu com qualidades divinas.

6. Ó filho de Pritha! Neste mundo há dois tipos de seres criados. Um se chama divino e o outro, demoníaco. Já lhe expliquei amplamente as qualidades divinas. Agora ouça de Mim sobre as demoníacas.

7. Aqueles que são demoníacos não sabem o que se deve fazer e o que não se deve fazer. Nem limpeza, nem comportamento correto, nem verdade se encontra neles.

8. Eles dizem que este mundo é irreal, que não há nenhum fundamento e que não há nenhum Deus no controle. Este se produz do desejo sexual e não tem nenhuma outra causa além da luxúria.

Iluminação: Srila Prabhupada nos instrui: Os demoníacos concluem que este mundo é ilusório. Não há nenhuma causa, nem efeito, nem controlador, nem propósito; todo é irreal. Dizem que esta manifestação cósmica surge devido às ações e reações materiais casuais. Não crêem que o mundo foi criado por Deus para algum propósito. Eles têm sua própria teoria: "Que o mundo surgiu por si mesmo e que não há razão para crer num Deus por trás deste". Para eles não existe diferença entre a matéria e o espírito, e não aceitam o Espírito Supremo. Concluem que como a criança é unicamente o resultado do intercâmbio sexual entre o homem e a mulher, este universo nasce sem alma alguma. Para eles, é somente uma combinação de matéria o que produziu os seres viventes, e negam a existência da alma. Portanto, a natureza material é a causa desta manifestação e não existe nenhuma outra causa.
Os seres demoníacos não crêem nas palavras de Krishna no Bhagavad-gita: "É sob Minha direção que todo o universo material se move". Em outras palavras, entre os demoníacos não há conhecimento perfeito da criação deste mundo; cada um tem sua própria teoria particular. Segundo eles, qualquer interpretação das Escrituras é tão boa quanto a outra, já que não crêem que exista um patrono de entendimento dos mandamentos das Escrituras.

9. Com essas conclusões, os seres demoníacos, que estão totalmente perdidos e não têm inteligência, ocupam-se em obras prejudiciais e horríveis, destinadas a destruir o mundo.

Iluminação: Srila Prabhupada expressa: Os demoníacos estão ocupados em atividades que conduzirão à destruição do mundo. O Senhor afirma aqui que eles são os menos inteligentes. Os materialistas, os quais não têm nenhum conceito sobre Deus, pensam que progridem. Mas de acordo com o Bhagavad-gita, eles carecem de inteligência e estão desprovidos de todo bom senso. Eles tratam de desfrutar deste mundo material até o limite máximo e, portanto, sempre se ocupam em inventar algo para a satisfação dos sentidos. Considera-se que inventos materialistas devastadores são avanços da civilização humana, mas o resultado é que a gente se torna mais e mais violenta e mais cruel, cruel para os animais, e cruel para os seres humanos. Não têm idéia de como se comportar uns com os outros. A matança de animais é muito proeminente entre a gente demoníaca. Considera-se tais pessoas como inimigos do mundo porque, em última instância, inventarão ou criarão algo que trará a destruição de tudo. Em forma indireta, este verso antecipa a invenção de armas nucleares. Em qualquer momento pode estourar a guerra e essas armas atômicas criarão uma hecatombe. Tais coisas são criadas unicamente para a destruição do mundo, como se indica aqui. Tais armas se inventam na sociedade humana devido ao ateísmo e não estão destinadas para a paz e prosperidade do mundo.

10. Os seres demoníacos, refugiam-se na luxúria, no orgulho e no falso prestígio insaciáveis, e ficam assim iludidos, sempre estão ocupados a trabalhos horríveis, atraídos pelo que não é permanente.

11-12. Eles crêem que satisfazer os sentidos até o final da vida é a primeira necessidade da civilização humana. Dessa maneira, não existe fim para sua ansiedade. Estão atados por centenas de milhares de desejos, pela luxúria e pela ira, eles acumulam dinheiro por meios ilegais para a satisfação dos sentidos.

13-15. A pessoa demoníaca pensa: "Hoje eu tenho tanta riqueza e ganharei mais de acordo com minha astúcia. Tenho tanto agora, e incrementarei mais e mais no futuro. Aquele meu inimigo, eu o matei, e meus outros inimigos também serão mortos. Eu sou o senhor de tudo, sou o desfrutador, sou perfeito, poderoso e feliz. Sou a pessoa mais rica rodeada de parentes aristocratas. Não há ninguém tão poderoso e feliz como eu. Executarei sacrifício, darei alguma caridade e assim me regozijarei". Assim, tais pessoas ficam iludidas pela ignorância.

16. Assim confusa por diversas ansiedades e atada a uma rede de ilusões, a pessoa se apega demais ao prazer dos sentidos e cai no inferno.

17. Vaidosos e sempre impudentes, iludidos pela riqueza e prestígio falso, eles, algumas vezes executam sacrifícios unicamente de nome, sem seguir nenhuma regra nem regulação.

18. Confuso pelo ego falso, força, orgulho, luxúria e ira, a pessoa demoníaca fica invejosa da Suprema Personalidade de Deus, que Se encontra situada em seu próprio corpo e nos corpos dos demais, e blasfema contra a religião verdadeira.

19. Aqueles que são invejosos e malévolos, os quais são os mais baixos entre os seres humanos, Eu os atiro no oceano da existência material dentro de várias espécies demoníacas de vida.

20. Ao obter nascimento repetido entre as espécies de vida demoníaca, tais pessoas nunca podem se aproximar de Mim. Gradualmente caem até o mais abominável tipo de existência.

21. Há três portas que conduzem a este inferno: A luxúria, a ira e a cobiça. Todo ser humano sensato deve abandoná-las, pois conduzem à degradação da alma.

22. Ó filho de Kunti! A pessoa que se libera dessas três portas do inferno, executa atos conducentes à auto-realização, e assim, atinge gradualmente o destino supremo.

23. Mas aquele que deixa de lado os mandamentos das escrituras e atua de acordo com seus próprios caprichos, não atinge nem a perfeição, nem a felicidade, nem o destino supremo.

24. Mediante as regras das escrituras se deve compreender o que é dever e o que não é dever. Ao conhecer tais regras e regulamentos, a pessoa deve atuar para poder se elevar gradualmente.

 

Arjuna viu naquela forma universal, bocas e olhos ilimitados. Era totalmente maravilhosa. A forma estava enfeitada com ornamentos divinos brilhantes e vestida com muitas roupas. Estava com guirlandas gloriosas, e tinha muitas essências untadas sobre Seu corpo. Tudo era magnífico, expandindo-se ilimitadamente. Arjuna viu tudo isso. (Bg. 11.10-11).

 

 

Capítulo Dezessete

As Divisões da Fé

1. Arjuna disse: Ó Krishna! Qual é a situação daquele que não segue os princípios das escrituras, senão que adora segundo sua própria imaginação? Esteja na bondade, na paixão ou na ignorância?

2. O Senhor Supremo disse: De acordo com os modos da natureza que adquire a alma corporificada, sua fé pode ser de três tipos: Bondade, paixão ou ignorância. Agora ouça sobre isso.

3. Conforme a existência da pessoa, sob os diversos modos da natureza, desenvolve-se uma classe particular de fé. Diz-se que o ser vivente é de uma fé particular de acordo com os modos que adquiriu.

4. As pessoas no modo da bondade adoram os semideuses; aqueles no modo da paixão adoram os demônios; e aqueles no modo da ignorância adoram os fantasmas e espíritos.

5-6. Aqueles que se submetem a austeridades e penitências severas que não estão recomendadas nas escrituras e as realizam por causa de orgulho, egoísmo, luxúria e apego, que são impelidos pela paixão e que atormentam tanto seus órgãos corporais quanto a Superalma que mora dentro de seu coração, são certamente conhecidos como demoníacos.

7. Mesmo a comida que todos consomem é de três classes de acordo os três modos da natureza material. O mesmo vale para os sacrifícios, as austeridades e a caridade. Ouça, o que lhe direi sobre as distinções entre esses.

8-10. Os alimentos no modo da bondade incrementam a duração da vida, purificam a existência pessoal e dão força, saúde, felicidade e satisfação. Tais alimentos nutritivos são doces, suculentos, deliciosos e engordam. Os alimentos que são amargos demais, azedos demais, salgados, ácidos, secos e picantes são apreciados por pessoas no modo da paixão. Tais alimentos causam dor, angústia e doença. Os alimentos preparados a mais de três horas antes de comer, que são insossos, passados, podres, descompostos e imundos, são alimentos que atraem pessoas no modo da ignorância.

11. Dos sacrifícios, aquele sacrifício que se executa de acordo ao dever e às regras das escrituras e sem esperar recompensa, é da natureza da bondade.

12. Mas aquele sacrifício que se executa com desejo de aproveitar o resultado, ou à procura de benefício material, ou que se executa com ostentação por vaidade, é da natureza da paixão, ó melhor dos Bharatas!

13. E aquele sacrifício que se executa contra os mandamentos das escrituras, no qual não se distribui alimento espiritual nem se cantam hinos, nem se proporcionam remunerações aos sacerdotes, e que carece de fé, esse sacrifício é da natureza da ignorância.

14. A austeridade do corpo consiste no seguinte: A adoração ao Senhor Supremo, aos brahmanas, ao mestre espiritual e aos superiores como o pai e a mãe. A limpeza, a simplicidade, o celibato e a não-violência também são austeridades do corpo.

15. A austeridade da fala consiste em falar veraz e beneficamente, e em evitar a linguagem que ofende. Também se deve recitar os Vedas regularmente.

Iluminação: Srila Prabhupada diz a respeito: Não se deve falar de modo a perturbar as mentes dos demais. Claro que quando um mestre fala, pode falar a verdade para a instrução de seus discípulos, mas tal mestre jamais deve falar a outros que não sejam seus discípulos se com isso vai agitar suas mentes. Esta é a penitência da fala. Além disso, não se deve falar inutilmente. Quando alguém fala em círculos espirituais, suas afirmações devem ser apoiadas nas escrituras; deve-se citar imediatamente a autoridade das escrituras para apoiar o que se diz. Ao mesmo tempo, tal falar deve ser muito agradável para o ouvinte. Mediante tais discussões se pode obter o máximo benefício e elevar a sociedade humana. Existe uma variedade ilimitada de literatura védica e se deve estudá-la. Isso se chama penitência da fala.

16. E a serenidade, a simplicidade, a gravidade, o autocontrole e a pureza de pensamento são as austeridades da mente.

17. Esta austeridade tripla praticada pelas pessoas cuja finalidade não é a de conseguir algum benefício material para si mesmas, senão satisfazer o Supremo, é da natureza da bondade.

18. Diz-se que essas penitências e austeridades ostentosas que se executam a fim de ganhar respeito, honra e reverência, estão no modo da paixão. Estas não são nem estáveis nem permanentes.

19. E se diz que essas penitências e austeridades, que se executam futilmente por meio da tortura obstinada de si mesmo, ou para destruir ou prejudicar os demais, estão no modo da ignorância.

20. Considera-se que aquela dádiva que se dá como dever, no tempo e lugar apropriados a uma pessoa digna, e sem esperança de recompensa, está no modo da bondade.

21. Mas se diz que a caridade que se executa com esperança de alguma recompensa, ou com o desejo de resultados lucrativos, ou de má vontade, está no modo da paixão.

22. E a caridade que se executa num lugar e tempo inapropriados, e que se dá a pessoas indignas, sem respeito e com desprezo, é caridade no modo da ignorância.

Iluminação: Prabhupada afirma: "Aqui não se encoraja contribuições para a indulgência em intoxicação e jogos de azar. Esse tipo de contribuição está no modo da ignorância. Não é caridade benéfica, ao contrário, encorajam-se pessoas pecaminosas. Do mesmo modo, se alguém der caridade a uma pessoa digna sem respeito e atenção, esse tipo de caridade também está no modo da escuridão".

23. Desde o princípio da criação, as três sílabas om tat sat foram usadas para indicar a Suprema Verdade Absoluta (Brahman). Eram entoadas pelos brahmanas enquanto cantavam os hinos védicos e durante sacrifícios para a satisfação do Supremo.

24. Assim, os transcendentalistas empreendem os sacrifícios, as caridades e as penitências, sempre a começar com om, para alcançar o Supremo.

25. Deve-se executar sacrifício, penitência e caridade com a palavra tat. O propósito de tais atividades transcendentais é se liberar do enredamento material.

26-27. A Verdade Absoluta é o objetivo do sacrifício devocional e se indica pela palavra sat. Essas obras de sacrifício, de penitência e de caridade, fiéis à natureza absoluta, levam-se a cabo para satisfazer a Pessoa Suprema, ó filho de Pritha!

28. Mas os sacrifícios, as austeridades e as caridades que se levam a cabo sem fé no Supremo, não são permanentes, ó Arjuna (filho de Pritha), apesar dos ritos que se realizem, são denominados asat e são inúteis tanto nesta vida quanto na seguinte.

Cante:

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

E seja feliz!

 

 

Capítulo Dezoito

A Perfeição da Renúncia

1. Arjuna disse: Ó de braços poderosos! Desejo compreender o propósito da renúncia (tyaga) e o da ordem de vida renunciante (sannyasa), ó destruidor do demônio Keshi, Hrishikesha!

2. O Senhor Supremo disse: Os sábios chamam renúncia (tyaga) o abandono dos resultados de todas as atividades. E os sábios sumamente eruditos chamam esse estado, a ordem de vida renunciante (sannyasa).

3. Alguns eruditos declaram que se deve abandonar todas os tipos de atividades lucrativas, mas há todavia outros sábios que sustentam que jamais se deve abandonar as obras de sacrifício, caridade e penitência.

4. Ó Arjuna (o melhor dos Bharatas)! Agora ouça de Mim sobre a renúncia. Ó tigre entre os homens! Nas escrituras se declara que há três tipos de renúncia.

5. Não se deve abandonar as obras de sacrifício, caridade e penitência, senão que devem ser realizadas. Aliás, os sacrifícios, a caridade e a penitência purificam inclusive as grandes almas.

6. Deve-se executar todas essas atividades sem nenhuma esperança pelo resultado. Deve-se executar como uma questão de dever, ó filho de Pritha (Arjuna)! Essa é Minha opinião final.

7. Nunca se deve renunciar aos deveres prescritos. Se por ilusão, a pessoa abandona seus deveres prescritos, diz-se que tal renúncia está no modo da ignorância.

Iluminação: Prabhupada explica: "Deve-se abandonar o trabalho para a satisfação pessoal, mas atividades que promovem a pessoa à atividade espiritual, como cozinhar para o Senhor Supremo e oferecer a comida ao Senhor, e depois aceitar a comida, são recomendáveis. Diz-se que uma pessoa na vida renunciada não pode cozinhar para si mesma, é proibido. Mas, cozinhar para o Senhor não é proibido. Do mesmo modo, um sannyasi pode realizar uma cerimônia de casamento para ajudar os discípulos no avanço da consciência de Krishna. Se alguém renunciar tais atividades, entende-se que age no modo da escuridão".

8. Diz-se que quem quer que abandone os deveres prescritos por causa de problemas ou por causa do temor, está no modo da paixão. Mediante tal ação, nunca se ganha os resultados da renúncia.

9. Mas para aquele que executa seu dever prescrito só porque este deve ser feito, e que renuncia a todo apego pelo resultado, sua renúncia é da natureza da bondade, Ó Arjuna!

10. Aqueles que não odeiam nenhum trabalho não propício, nem estão apegados a um trabalho propício, situados no modo da bondade, não têm dúvidas quanto ao trabalho.

11. Aliás, é impossível para um ser corporificado renunciar a todas as atividades. Por isso, diz-se daquele que renunciou aos frutos da ação, é quem renunciou de verdade.

12. Para aquele que não é renunciante, os três frutos da ação, o desejável, o indesejável e o misto, manifestam-se após a morte. Mas aqueles que estão na ordem de vida renunciante, não têm que sofrer nem desfrutar tais resultados.

13-14. Ó Arjuna de poderosos braços! Aprende Comigo sobre os cinco fatores que ocasionam o cumprimento de toda ação. Na filosofia sankhya se declara que são o lugar da ação, o executor, os sentidos, o esforço e finalmente a Superalma.

15. Qualquer ação correta ou incorreta que uma pessoa execute com o corpo, a mente ou a fala, é causada por esses cinco fatores.

16. Portanto, quem se acha o único executor, sem considerar os cinco fatores, com toda segurança que não é muito inteligente e não pode ver as coisas tal como são.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica: Uma pessoa tola não pode entender que a Superalma está situada como um amigo dentro de seu coração e que dirige suas ações. Ainda que as causas materiais são o lugar, o executor, o esforço e os sentidos, a causa final é o Supremo, a Personalidade de Deus. Portanto, deve-se ver não somente as quatro causas materiais, senão também a Suprema causa eficiente. Quem não vê o Supremo, acha que ele mesmo é o executor.

17. Aquele que não é motivado pelo ego falso, cuja inteligência não está enredada, ainda que mate pessoas neste mundo, não é ele quem mata. Nem também não está atado por suas ações.

18. O conhecimento, o objeto do conhecimento e o conhecedor, são os três fatores que motivam a ação; os sentidos, o trabalho e o executor, constituem a base tripla da ação.

19. Conforme os três modos da natureza material, há três tipos de conhecimento, ação e executantes da ação. Ouça conforme descrevo.

20. O conhecimento mediante o qual se vê uma só natureza espiritual indivisa em todas as existências, indivisa dentro do dividido, é conhecimento no modo da bondade.

21. O conhecimento por meio do qual se vêem diferentes tipos de entidades viventes morando em diferentes corpos é conhecimento no modo da paixão.

Iluminação: Srila Prabhupada disse: O conceito de que o corpo material é a entidade vivente e que com a destruição do corpo a consciência também se destrói, chama-se conhecimento no modo da paixão. Segundo esse conhecimento, os corpos diferem uns de outros devido ao desenvolvimento de diferentes tipos de consciência, e não existe uma alma separada que manifesta a consciência. O corpo em si é a alma e não existe uma alma separada além deste corpo. De acordo com tal conhecimento, a consciência é temporária. Ainda mais, não há almas individuais, senão que há uma alma onipresente que é plena de conhecimento e que este corpo é uma manifestação de ignorância temporária. Ou melhor, além deste corpo não há nenhuma alma individual especial nem Alma Suprema. Todos estes conceitos são considerados produto do modo da paixão.

22. E se diz que esse conhecimento pelo qual um se afeiçoa a uma classe de trabalho como se fosse o todo, sem conhecimento da verdade, e o qual é muito limitado, está no modo da obscuridade.

23. Quanto às ações, aquela ação que está de acordo com o dever, que se executa sem apego, sem amor nem ódio, e sem o desejo de obter resultados lucrativos, chama-se ação no modo da bondade.

24. Mas a ação que se executa com grande esforço por parte de alguém que procura satisfazer seus desejos, e que se executa com sentimento de ego falso, chama-se ação no modo da paixão.

25. E aquela ação que se executa na ignorância e ilusão, sem considerar nem as conseqüências nem o cativeiro futuros, que infringe dano e é impraticável, diz-se que é ação no modo da ignorância.

26. O trabalhador que está livre de todo apego material e ego falso, que é entusiasta e resolvido, e é indiferente ao sucesso ou ao fracasso, é um trabalhador no modo da bondade.

27. Mas aquele trabalhador que está apegado aos frutos de seu trabalho e que quer desfrutá-los apaixonadamente, que é cobiçoso, invejoso, impuro, e que é movido pela felicidade e a aflição, é um trabalhador no modo da paixão.

28. E aquele que sempre está ocupado no trabalho que vai contra os mandamentos das escrituras, que é materialista, obstinado, enganador e perito em ofender os demais, que é preguiçoso, sempre de mau humor e moroso, é um trabalhador no modo da ignorância.

29. Agora, ó conquistador da riqueza, por favor, ouça enquanto Eu explico em detalhe os três tipos de entendimento e determinação segundo os três modos da natureza.

30. Ó Arjuna (filho de Pritha)! Aquele entendimento pelo qual se sabe o que deve ser feito e o que não deve ser feito, o que temer e o que não temer, o que ata e o que libera, esse entendimento está estabelecido no modo da bondade.

31. E o entendimento que não pode distinguir entre a forma de vida religiosa e a irreligiosa, entre a ação que se deve executar e a que não se deve executar, esse entendimento imperfeito está no modo da paixão, ó filho de Pritha!

32. O entendimento que considera a irreligião como religião e a religião como irreligião, que está sob o feitiço da ilusão e da obscuridade, e que sempre se esforça na direção errada, ó Pritha, está no modo da ignorância.

33. Ó filho de Pritha! A determinação que é inquebrantável, que se sustenta com firmeza pela prática de yoga, e que controla assim a mente, a vida e os atos dos sentidos, está no modo da bondade.

34. E aquela determinação pela qual a pessoa se apega ao resultado lucrativo da religião, ao desenvolvimento econômico e à satisfação dos sentidos, é da natureza da paixão, ó Arjuna!

35. E a determinação que não pode ir além dos sonhos, do temor, da lamentação, do mau humor e da ilusão, tal determinação, carente de inteligência, está no modo da ignorância.

36-37. Ó Arjuna (o melhor dos Bharatas)! Agora, por favor, ouça de Mim sobre os três tipos de felicidade que a alma condicionada desfruta, pelas quais às vezes se chega ao termino de toda aflição. Diz-se daquilo que no começo talvez seja exatamente igual a veneno, mas ao final é como néctar, e que desperta a pessoa para a auto-realização, é felicidade no modo da bondade.

Iluminação: Srila Prabhupada diz: Uma alma condicionada trata de desfrutar a felicidade material repetidamente. Assim, mastiga o já mastigado, mas algumas vezes, no curso de tal desfrute, alivia-se do embrulho material pela companhia de uma grande alma. Em outras palavras, a alma condicionada sempre se ocupa em algum tipo de satisfação dos sentidos; mas quando pela boa associação, compreende que isso é unicamente uma repetição da mesma coisa, e desperta sua verdadeira consciência de Krishna, às vezes se alivia de tal aparente felicidade repetitiva.
No prosseguimento da auto-realização a pessoa tem que seguir muitas regras disciplinares a fim de controlar a mente e os sentidos, e concentrar a mente no Eu. Todos esses procedimentos são muito difíceis, amargos como veneno, mas se tem sucesso em seguir as regras e chega à posição transcendental, começa a beber verdadeiro néctar e desfruta da vida.

38. Diz-se que aquela felicidade que se deriva do contato dos sentidos com seus objetos e que parece néctar ao princípio, mas que ao final é como veneno, é da natureza da paixão.

39. E se diz que a felicidade que é cega à auto-realização, que é ilusão do início ao fim, que surge do sonho, da preguiça e da ilusão, é da natureza da ignorância.

40. Não existe nenhum ser, seja aqui ou entre os semideuses, nos sistemas planetários superiores, que esteja livre dos três modos da natureza material.

41. Os brahmanas, os kshatriyas, os vaishyas e os shudras se distinguem por suas qualidades de trabalho conforme as modalidades da natureza, ó castigador dos inimigos!

42. A tranqüilidade, o controle de si, a austeridade, a pureza, a tolerância, a honestidade, a sabedoria, o conhecimento e a religiosidade, estas são as qualidades com as quais trabalham os brahmanas.

43. O heroísmo, o poder, a determinação, a destreza, o valor na batalha, a generosidade e a liderança, são as qualidades de trabalho para os kshatriyas.

44. A agricultura, a proteção às vacas e o comércio, são os tipos de trabalho para os vaishyas; e para os shudras, há o trabalho e o serviço aos demais.

45. Por seguir as qualidades de seu trabalho, todo ser humano pode chegar a ser perfeito. Agora, escute de Mim a respeito de como fazer isto.

46. Mediante a adoração ao Senhor, que é a fonte de todos os seres e é onipresente, a pessoa pode atingir a perfeição na execução de seu próprio dever.

47. É melhor se dedicar à sua própria ocupação, ainda que talvez a execute imperfeitamente, do que aceitar a ocupação de outro, e executá-la perfeitamente. As reações pecaminosas nunca afetam os deveres prescritos que vão de acordo à natureza de cada um.

48. Todo esforço é coberto por algum tipo de defeito, exatamente como o fogo é coberto pela fumaça. Portanto, não se deve abandonar o trabalho que nasce de sua natureza, ó Arjuna (filho de Kunti), ainda que tal trabalho esteja cheio de defeitos.

49. Pode-se obter os resultados da renúncia simplesmente pelo controle de si e por despegar-se das coisas materiais, com desprezo aos prazeres mundanos. Essa é a etapa mais elevada e perfeita da renúncia.

50. Ó Arjuna (filho de Kunti)! Aprenda Comigo brevemente como se pode atingir a etapa de perfeição suprema, Brahman, se atuar da maneira que agora vou resumir.

51-53. Assim purificado pela sua inteligência e com o controle da mente com determinação, com renúncia aos objetos da satisfação dos sentidos, livre do apego e do ódio, aquele que vive em lugar solitário, que come pouco e controla o corpo e a língua, e que sempre está em transe e está desapegado, que carece de ego falso, força falsa, orgulho falso, luxúria e ira, e que não aceita coisas materiais, tal pessoa é indubitavelmente elevada até a posição da auto-realização.

54. Quem está assim situado em transcendência, compreende de imediato o Brahman Supremo. Nunca se lamenta nem deseja ter nada; sempre está igualmente inclinado para toda entidade vivente. Nesse estado, alcança o serviço devocional a Mim.

55. Pode-se compreender à Suprema Personalidade tal como Ela é, unicamente por meio do serviço devocional. E quando se tem plena consciência do Senhor Supremo mediante tal devoção, pode-se entrar no reino de Deus.

56. Ainda que esteja ocupado em todo tipo de atividades, Meu devoto, sob Minha proteção e por Minha graça, alcança a morada eterna e imperecível.

57. Em todas as atividades, dependa somente de Mim e trabalhe sempre sob Minha proteção. Em tal serviço devocional, seja plenamente consciente de Mim.

58. Se ficar consciente de Mim, por Minha graça, passará por cima de todos obstáculos da vida condicionada. Mas, se não trabalhar com tal consciência, e atuar com o ego falso, sem Me ouvir, estará perdido.

Iluminação: Srila Prabhupada explica: Uma pessoa com plena consciência de Krishna não anseia executar indevidamente os deveres de sua existência. Os tolos não podem entender esta grande libertação de toda ansiedade. Para aquele que atua com consciência de Krishna, o Senhor Krishna Se converte no amigo mais íntimo. Ele sempre vela pela comodidade de Seu amigo e Ele Mesmo Se dá a Seu amigo, o qual está ocupado em trabalhar com grande devoção as vinte e quatro horas do dia para satisfazer o Senhor. Portanto, ninguém deveria se deixar levar pelo ego falso do conceito corporal da vida. Não se deve crer falsamente independente das leis da natureza material nem livre de atuar, já que está sujeito às severas leis materiais. Mas, tão logo atue em consciência de Krishna, estará liberado, livre das perplexidades materiais. Deve-se notar com muito cuidado que aquele que não está ativo na consciência de Krishna, perde-se no redemoinho material do oceano de nascimento e morte. Nenhum ser condicionado sabe realmente o que tem de fazer e o que não tem de fazer. Mas uma pessoa que atua na consciência de Krishna é livre de atuar, porque tudo a lembra de Krishna dentro de seu coração e logo se confirma o mestre espiritual.

59. Se não atuar de acordo com Minha direção e não lutar, então estará direcionado falsamente. Por sua natureza, terá que se ocupar na guerra.

60. Ó filho de Kunti! Sob o influxo da ilusão agora declina atuar segundo Minha direção. Mas, compelido por sua própria natureza, terá que atuar de todos os modos.

61. Ó Arjuna! O Senhor Supremo está situado no coração de todos e dirige a divagação de todas as entidades viventes, que estão sentadas como numa máquina feita de energia material.

62. Ó descendente de Bharata! Renda-se a Ele totalmente. Por Sua graça atingirás a paz transcendental e a morada suprema e eterna.

63. Assim, Eu expliquei a você o mais confidencial de todo conhecimento. Delibera sobre isto plenamente, e faça logo o que desejar.

64. Já que é Meu muito querido amigo, Eu conto para você a parte mais confidencial do conhecimento. Ouça isto de Mim, pois é para o seu benefício.

65. Pense sempre em Mim e se converta em Meu devoto. Adore-Me e Me ofereça reverências. Assim, sem dúvida, virá a Mim. Eu lhe prometo isto porque você é Meu muito querido amigo.

Iluminação: Srila Prabhupada nos explica: A parte mais confidencial do conhecimento é que se deve converter em um devoto puro de Krishna e sempre pensar Nele e atuar para Ele. Não se deve converter num meditador oficial. A vida deve ser moldada de maneira que sempre tenhamos a oportunidade de pensar em Krishna. Sempre se deve atuar de forma que todas suas atividades cotidianas estejam em relação com Krishna. Sempre deve arrumar sua vida de tal maneira que diariamente, as vinte e quatro horas, não possa pensar menos em Krishna. E a promessa do Senhor é que qualquer um que esteja em tal consciência pura de Krishna, sem dúvida regressará à morada Dele, onde poderá viver diretamente com Krishna, cara a cara. Esta, a parte mais confidencial do conhecimento, Ele fala a Arjuna, porque ele é o querido amigo de Krishna. Todo aquele que segue o caminho de Arjuna pode chegar a ser um amigo querido de Krishna e obter a mesma perfeição que Arjuna.

66. Abandone todas as variedades de religião e somente se renda a Mim. Eu o liberarei de toda reação pecaminosa. Não tema.

67. Este conhecimento confidencial não pode ser explicado aos que não são austeros, nem aos não devotos, nem os não dedicados ao serviço devocional, nem àqueles que Me invejam.

68. Para aquele que explica este segredo supremo aos devotos, o serviço devocional está garantido, e no final regressará a Mim.

69. Para Mim não há nenhum servente mais querido do que ele neste mundo, nem jamais terá um mais querido.

70. E Eu declaro que aquele que estuda esta conversa sagrada, adora-Me com sua inteligência.

71. E aquele que a escuta com fé e sem inveja, libera-se da reação pecaminosa e alcança os planetas onde moram os piedosos.

72. Ó Arjuna, conquistador de riquezas! Ouviu isto atenciosamente com sua mente? E, se dissiparam já suas ilusões e ignorância?

73. Arjuna disse: Meu querido Krishna, ó infalível! Agora minha ilusão se foi. Por Sua misericórdia recobrei minha memória e agora estou firme e livre da dúvida e preparado para atuar de acordo com Suas instruções.

74. Sanjaya disse: Assim, ouvi a conversa dessas duas grandes almas, Krishna e Arjuna. E tão maravilhosa é essa mensagem que meus pêlos se arrepiam.

75. Pela misericórdia de Vyasa eu ouvi esta conversa, a mais confidencial, diretamente do mestre de todo misticismo, Krishna, que falava pessoalmente a Arjuna.

76. Ó rei! Enquanto lembro uma e outra vez deste santo e maravilhoso diálogo entre Krishna e Arjuna, me alegro, e fico emocionado em todo momento.

77. Ó rei! Quando lembro da primorosa forma do Senhor Krishna, fico cada vez mais maravilhado, e regozijo continuamente.

78. Onde quer que esteja Krishna, o mestre de todos os místicos, e onde quer que esteja Arjuna, o arqueiro supremo, certamente ali estarão também a opulência, a vitória, o poder extraordinário e a moralidade. Esta é a minha opinião.

 

Fim

 

               

 

 

 

AS TRÊS GRANDES ONDAS DE SRI CAITANYA MAHAPRABHU NO BRASIL

(História do Movimento Hare Krsna no Brasil - por Vyasa Dasa)

Relato Histórico do Inicio do Vaisnavismo no Brasil em 1973, com A.C. Bhktivendanta Swami Prabhupada, e os demais momentos importantes que se seguiram com a continuidade evolutiva do Estabelecimento de Grandes Acaryas Vaisnavas, sendo Srila Sridhara Maharaja a partir de 1.980 e atualmente Srila Narayana Maharaja.

 

 

 

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