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RESPOSTA

 

Boas Cercas, Bons Vizinhos

Purushatraya Swami

 

Escrevo essas linhas em meio a uma extática turnê de pregação pelo interior do estado de S. Paulo e Minas Gerais. Embora não tenha nenhuma qualificação pessoal especial, estou ocupado, pela misericórdia de meu mestre espiritual, em espalhar a misericórdia do Senhor Caitanya às pessoas tão caídas dessa era desafortunada. Ofereço, portanto, todo o crédito deste trabalho de pregação a Srila Prabhupada. A grande satisfação que experimentamos nessa vida é ver a semente da trepadeira de bhakti germinar no coração de mais e mais pessoas e as glórias dos santos nomes de Krishna serem mais e mais difundidas.

Ao escrever, semanas atrás, o ensaio intitulado “Não faz muito tempo...”, já previa algum tipo de refutação. Isso é mais que natural. Quando se trata, em público, de assuntos sensitivos, fica-se vulnerável a críticas e julgamentos. Embora o texto “Todas as glórias a Sri Sri Guru Gouranga e aos Vaisnavas”, amplamente disseminado pela Internet, afirme não se tratar de uma resposta ao meu artigo, fica evidente que é, pois, do princípio ao fim, o tema do artigo tem minhas palavras como referência, e meu nome aparece uma dezena de vezes. O presente ensaio responde algumas das acusações e críticas feitas e coloca outros pontos em cena. Outras agressões gratuitas que sofri, optei por não perder meu tempo nem do leitor com elas.

Um ponto que quero deixar bem claro é que tanto esse artigo, quanto os outros artigos e cartas que já escrevi, e outros que porventura serão escritos, são minhas opiniões pessoais. Eu falo por mim. Não estou representando oficialmente a instituição a qual pertenço. Quando defendo a Iskcon, defendo a instituição de Srila Prabhupada que me introduziu na consciência de Krishna e  mudou minha vida. Falo da Iskcon que faz parte da história de minha vida. A Iskcon, como instituição, tem seu órgão oficial, o GBC, para resoluções oficiais.

Outra consideração que é importante frisar é que eu não sou anti-Srila Narayana Maharaj (SNM) nem anti-seguidores de SNM. Em absoluto. Admiro muito a proficiência de SNM em Krishna katha e o considero um devoto do mais alto calibre, digno de ter seguidores por todo o mundo. Como escrevi em meu artigo anterior, sinto muito pesar pelo fato das relações Iskcon e SNM terem ficado abaladas. Na verdade, não tenho nada contra SNM e seus seguidores. Tenho, inclusive, amigos em sua missão. O que sou contra é o clima de fanatismo e imaturidade, do tipo em que se vê nos crentes populares e que agora vemos entre alguns dos seguidores de SNM. Esse excesso de zelo por parte de alguns dos seguidores de SNM tem provocado um clima muito carregado que perturba o ambiente. Não quero com isso dizer que os devotos da Iskcon são mais maduros e avançados. Existe, também, muita imaturidade envolvida. Portanto, não considerem minhas palavras como provocação. Às vezes são um pouco duras e tocam diretamente na ferida. Meu propósito é esclarecer os pontos conflitantes e resolver de uma vez por todas as diferenças que existem, para podermos trabalhar com harmonia e cooperação valendo-nos das muitas similitudes que existem entre as duas missões.

Embora tenha sido tratado com palavras bem ásperas e até sarcásticas, não estou aqui para rebater no mesmo tom, e se, de uma forma ou outra, vou aqui me defender, não faço isso movido pela propensão animal de defesa, mas com o intuito de esclarecer. Esse é o preço que devo pagar por ter me expressado com franqueza e destemor. Afinal de contas, como disse Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati, temos que ter muito mais cuidado com os elogios e glorificação do que críticas e julgamentos. Elogios e glorificações são como veneno para um Vaishnava, pois faz inchar o ego.

É claro que me senti ofendido com certas colocações feitas no “Todas as glórias a Sri Sri Guru Gouranga e aos Vaisnavas”. No artigo em questão, se é que sou considerado um “Vaishnava”, não recebi nenhuma “glória”, só ofensas. Aliás, ofender é o recurso mais rudimentar para se rebater argumentos que incomodam. Ao invés de se refutar os argumentos apresentados, ataca-se o moral da pessoa que escreveu. A isso chama-se falácia do ataque “ad hominem”, muito comum nas brigas de rua. Atacar a pessoa é mais fácil e é uma arma terrível. Ao mostrar a pessoa que me incomoda como um monstro, tudo o que ele escreve perde todo o valor— essa é a lógica da falácia do ataque “ad hominem”. Esse expediente foi claramente utilizado no citado ensaio.

Fica bem explicito no “Todas as glórias...” que, apesar do floreio de várias referências shastricas e citações maravilhosas, a intenção foi me ferir. Obviamente, meus detratores estão ainda longe de chegarem ao nível de serem devotos do tipo “anya-nindadi-sunya-hrdam”, aqueles cujos corações estão livres de criticar os outros (Upadeshamrta 5). As críticas do “Todas as glórias...” foram maliciosas e destinadas a desmoralizar. Além disso, outra coisa que fica evidente é que a primeira ofensa aos santos nomes (blasfemar os devotos ocupados em pregar as glórias dos santos nomes) não foi evitada. Isso sempre constitui um sério risco para vida espiritual. Pode se perder a essência. É dito que para uma namaparadha ser neutralizada deve-se recorrer ao próprio canto dos santos nomes. Portanto, aconselho a meus detratores a abrigarem-se nos santos nomes.

A primeira crítica que recebo no “Todas as glórias...” é a refutação do emprego do termo em sânscrito “tatastha-lakshana” aplicado em meu artigo, a qual dei o significado de “fatores externos”. Foi considerado que o sentido que foi dado era deturpado e, por nove vezes, ao longo do citado artigo, essa expressão foi utilizada com intuito de ridicularizar. Foi citado, como referência, um trecho de um dos livros de Srila Bhaktivinoda Thakura, Bhakti-tattva-viveka. No referido trecho, a expressão “tatastha-lakshna” foi traduzida como “característica marginal de bhakti” e, dessa forma, o significado que dei, “fatores externos”, foi tido como absurdo. Não sou um “pandit” em sânscrito, mas, pelo menos, conheço algo da gramática, bastante vocabulário e sempre conservo um dicionário de sânscrito a distancia de minha mão, enquanto escrevo, mesmo durante as viagens. O fato é que o significado literal de “tatastha-lakshna” é simplesmente “característica marginal” ou “característica externa” ou, como apliquei, “fator externo”, que dá o mesmo sentido. Essa expressão pode, dependendo do assunto tratado, ser aplicada em referência a qualquer coisa: a bhakti, à pessoa, a qualquer substância, enfim, a qualquer coisa. Na passagem de Srila Bhaktivinoda, o tradutor traduziu como “característica marginal de bhakti” pois o tema em questão era “bhakti”. Portanto, dizer que “tatastha-lakshna” significa “característica marginal de bhakti” é improcedente. Minha conclusão sobre essa gafe de meus detratores é que, quando a intenção é buscar erros, qualquer deslize do oponente é aproveitado para se ganhar terreno na discussão e assim desmoralizar o oponente. Com isso, fica fácil desviar-se do motivo principal da discussão, derrotar o oponente e encerrar a questão. Mas, tal expediente, no entanto, não funcionou no presente caso.

Os motivos do mau relacionamento entre Iskcon e SNM são muitos e alguns bem complexos. Não vou aqui abordá-los, pois vou concentrar-me no referido artigo.

O artigo em questão dá ênfase a certas afirmações de SNM, disseminadas publicamente em seu site na Internet, de que “não foi Srila Prabhupada que fundou a Iskcon, mas o Senhor Brahma”. O que isso significa é que existe uma Iskcon interplanetária, universal, a Brahma-Madhva-Gaudiya-Sampradaya. Srila Prabhupada fundou, circunstancialmente, uma pequena Iskcon de língua inglesa. SNM seria o atual acarya dessa Iskcon interplanetária e todos devem obrigatoriamente render-se a ele.

O mais interessante de tudo é que essa teoria só vale para a Iskcon. Gostaria de ver o grupo de SNM convencer todas as dezenas de missões da Gaudiya Math, cada uma com seu acarya e seu parampara. Não vejo a mínima possibilidade de isso acontecer.

De acordo com a dialética apresentada, a era de Srila Prabhupada já passou. Ele teve grande importância, isso não pode ser negado, mas sua importância foi, simplesmente, trazer a consciência de Krishna para os mlechas e, circunstancialmente, fundar uma sociedade para eles. Escreveu alguns livros para os mlechas mas passou só a parte superficial da doutrina. Isso quer dizer que Srila Prabhupada teve alguma importância no passado mas agora já ficou para trás. Seus ensinamentos tiveram importância na conversão dos mlechas, mas agora existe uma nova onda. Agora a sociedade de Srila Prabhupada deve se render à nova onda. [Peço desculpas da linguagem informal, mas dessa forma a idéia fica mais clara].

Obviamente, nenhum seguidor sincero de Srila Prabhupada aceita essa teoria. Pessoalmente, sem ter nada pessoal contra SNM, eu continuo fiel a Srila Prabhupada. Assim como eu, muitos devotos da Iskcon, querem manter-se na casa de Srila Prabhupada e sabem apreciar devidamente a proeza inigualável de Srila Prabhupada em espalhar a consciência de Krishna por todo o mundo. Hoje em dia, posso, inclusive, entender a insistência de Srila Prabhupada em exigir que o título “fundador-acarya” fosse sempre usado. Ele já previa que iria, no futuro, ter interferências em sua sociedade.

Embora as missões de Srila Prabhupada e SNM estejam sob o guarda-chuva da “Iskcon interplanetária”, a Brahma-Madhva-Gaudiya-Sampradaya, existem várias diferenças entre as duas instituições, das quais enumeramos algumas:

ü        Os seguidores de SNM chamam o fundador-acarya da Iskcon de Swami Maharaj ou Srila Bhaktivedanta Swami. Já, na Iskcon, o seu tratamento é, entre outras maneiras, ‘Srila Prabhupada’.

ü        Os seguidores de SNM insistem que todos devem render-se a SNM. Já os devotos da Iskcon permanecem fieis a Srila Prabhupada e o elo do parampara que se segue dentro da instituição.

ü        Os seguidores de SNM dizem que não existe o parampara da Iskcon, embora possamos constatar que todas as demais instituições da Brahma-Madhva-Gaudiya-Sampradaya possuem suas próprias sucessões dissipulares.

ü        Vários mantras, rituais e procedimentos estabelecidos por Srila Prabhupada para a sua instituição são diferentes da Gaudiya Math. Os devotos da Iskcon não querem mudar aquilo que foi estabelecido pelo seu fundador-acarya.

ü        O critério de iniciação e certos aspectos do sadhana da Iskcon diferem da Gaudiya Math.

ü        Srila Prabhupada não quis filiar-se à Gaudiya Math. Ele quis manter sua Iskcon independente. Ele tinha bastante razões para isso.

ü        Cada instituição tem um “humor” diferente. A Iskcon, obviamente, tem suas características, enquanto que a Gaudiya Math tem o dela. Os devotos têm a opção de escolher qual é o ambiente que mais se identificam.

ü        A Iskcon dá ênfase na adoração de Sri Sri Gaura-Nitai e Sri Panca-tattva, como estabelecido no Sri Caitanya–caritamrta, enquanto que na Gaudiya Math, de um modo geral, instala Sri Caitanya Mahaprabhu sozinho, acompanhado de Sri Sri Radha-Krishna.

ü        A Gaudiya Math não adota o canto das preces a Sri Nrsimhadeva.

ü        A Gaudiya Math, obviamente, não cultiva o gurupuja de Srila Prabhupada como sendo um ritual obrigatório e essencial.

ü        A Gaudiya Math, obviamente, não dá a importância aos ensinamentos de Srila Prabhupada da forma com que os devotos da Iskcon dão.

Foram dadas aqui algumas das diferenças entre as duas instituições, principalmente do aspecto externo e formal. Essa lista pode ser aumentada em muito, se formos analisar todos os detalhes. Existem, portanto, em muitas questões, dois pontos de vista diferentes: um por parte da Iskcon e outro pelo lado de SNM. Qualquer insistência de uma instituição na mudança da outra, gerará algum tipo de conflito.

            Nesse ponto, quero outra vez esclarecer que minha atuação aqui não é de caráter institucional. Eu nem mesmo sou o que poder-se-ia chamar de “corporative man” típico. Não quero dizer que a Iskcon tem a verdade absoluta e outras instituições Gaudiya Vaishnavas estão erradas. Mesmo porque a Gaudiya Math tem maior tradição que a Iskcon, e isso deve ser respeitado. O que quero ressaltar é que existem diferenças substanciais. Se queremos trabalhar juntos, essas diferenças devem ser respeitadas. Mas, se a mentalidade dos seguidores de SNM for de desestabilizar a Iskcon, lançando boatos e tirando a fé dos devotos, como vem acontecendo e tenho várias provas, aí a situação se complica e o germe da desarmonia se instala na pequeníssima comunidade vaishnava de nosso país. Um fato gravíssimo marcou, inclusive, a última visita de SNM ao Brasil: Nessa ocasião surgiu um terrível boato dizendo que um importante sannyasi da Iskcon, mestre espiritual de muitos devotos brasileiros, inclusive de vários dissidentes, teria caído de sua posição espiritual. O boato foi comemorado com foguetes por alguns seguidores de SNM. O referido sannyasi da Iskcon, ao constatar a monstruosa ofensa, entrou em contato direto, por e-mail, com SNM para esclarecer o que estava ocorrendo. SNM afirmou que iria castigar aqueles que assim procederam. Fatos como esses minam o respeito e a confiança entre os devotos.

            Tenho ainda dois pontos que gostaria de colocar: a questão dos dissidentes e a freqüência de seguidores de SNM nos templos da Iskcon. Quanto ao primeiro ponto, à luz das escrituras e da ética vaishnava, um devoto que abandona seu guru, mesmo estando este dentro dos padrões espirituais requeridos, e toma outra iniciação, comete uma grave ofensa. Ele deve tratar de resolver bem esse caso, sem considerá-lo levianamente, pois trata-se de um caso grave de infidelidade, ofensa e produz pesar na outra parte. Se isso não for devidamente resolvido, perpetuar-se-á essa mazela, mesmo que tal devoto ache que sua devoção ao novo guru dê toda a justificativa ao seu ato de infidelidade. Temos visto um festival de desrespeito e ofensas em nome de altos níveis de devoção. Quem, em sã consciência pode admitir que isso é padrão espiritual elevado? Se esses aspectos básicos da etiqueta vaishnava não são considerados, e esse clima de desrespeito continua, não vejo chance para a harmonia e cooperação.

            No final do “Todas as glórias...” é feito um apelo para que os seguidores de SNM sejam tratados com respeito pelos devotos da Iskcon. Acho isso perfeito. Assim que deve ser. No meu caso pessoal, já tive algumas experiências não muito agradáveis no relacionamento com os seguidores de SNM. Por isso, mantenho-me um pouco afastado. O ideal, obviamente, seria participar mais em conjunto. Mas, enquanto esse clima de imaturidade persiste, prefiro não me envolver. Sei que estou perdendo muitos néctares, pois sempre a presença de devotos avançados manifesta um gosto superior na consciência de Krishna. Mas, por outro lado, não tenho carência de néctar, pois a presença de Srila Prabhupada está sempre viva em seu movimento e coisas realmente maravilhosas estão a todo instante acontecendo.

            A convivência das duas missões alcançará um nível de civilidade quando a mentalidade de “mosca” for erradicada. Mentalidade de mosca é ficar sempre buscando erros nos outros. Tudo é motivo para criticar. Enquanto isso prevalecer e não se desenvolver uma mentalidade de respeito e consideração, não vejo possibilidade das coisas melhorarem. Outra coisa que prejudica os relacionamentos é o proselitismo selvagem que alguns seguidores de SNM procuram fazer nos recintos da Iskcon. Isso incomoda muito e sempre termina em bate-boca. Isso demonstra uma tremenda falta de respeito e poderia muito bem ser evitado.

            Existem, contudo, seguidores de SNM que não agem dessa maneira tão incivilizada e imatura. Com esses não existe problemas de convivência. Dos três assinantes do artigo “Todas as glórias...”, pude identificar pelo menos um pelo nome. Trata-se de Madhava-priya devi dasi, a quem praticamente vi nascer e a quem sempre temos o sentimento de carinho e afeição natural entre membros da família Vaishnava. Acredito que ela não tenha experimentado nenhum tipo de rejeição grosseira nos templos da Iskcon.

            A idéia central desse ensaio e espero que tenha ficado bem claro é que “Boas cercas fazem bons vizinhos”. Que o Senhor Caitanya e todo o seu parampara nos ilumine para que possamos fazer jus a pertencer à grande e gloriosa família Vaishnava.

 

               

 

 

AS TRÊS GRANDES ONDAS DE SRI CAITANYA MAHAPRABHU NO BRASIL

(História do Movimento Hare Krsna no Brasil - por Vyasa Dasa)

Relato Histórico do Inicio do Vaisnavismo no Brasil em 1973, com A.C. Bhktivendanta Swami Prabhupada, e os demais momentos importantes que se seguiram com a continuidade evolutiva do Estabelecimento de Grandes Acaryas Vaisnavas, sendo Srila Sridhara Maharaja a partir de 1.980 e atualmente Srila Narayana Maharaja.

 

 

 

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