Foi surpreendente,
Mahavira e LokaBanbhu pegaram o carro velho do Prabhu Catur Murti,
uma variant cor de abóbora, e acompanhados de Lucio Valera (Loka
Saksi) e Jorge (Jagad Bharata) se dirigiram para São Paulo para
estabelecer um templo. Tínhamos ficado associados por quase um mês
na casa da Mãe do Prabhu Catur Murti, perto da praça General
Osório, no Rio de Janeiro.
Maio de 1975, lembro bem porque na
época com 15 anos de idade, esperei ansiosamente pelas férias
escolares de julho para ir de encontro aos meus queridos amigos.
Soubemos depois que chegaram em São
Paulo e praticamente acamparam nos prédios em Construção da USP.
Alguns dias depois, conseguiram
alugar uma casa na Rua Afrânio Peixoto e começaram a fazer
programas diários, nos, que tínhamos ficado no Rio, nenhuma
notícia recebíamos. Nenhum Contato.
Quando chegou Julho, resolvemos ir a
São Paulo, nos juntarmos aos devotos. Prabhu Virocana e Bhakta
Carlos, primo de Romen, e eu pegamos um ônibus a noite na
Rodoviária do Rio e quando amanheceu estávamos chegando em São
Paulo, Na época a Rodoviária era na Luz. Não tínhamos, então,
qualquer pista de onde estavam nossos amigos devotos. Bhakta
Carlos sugeriu que fossemos procurar um devoto da época do Brsna.
Segundo ele, Bhakta Carlos, esse devoto morava perto Jóquei, que
ficava perto do Morumbi. Só tínhamos o telefone dele.
Pegamos um táxi, subimos a
consolação, descemos a Rebouças e quando íamos tomar a direção do
Jóquei, o motorista entrou por equívoco na Rua Afrânio Peixoto e
ao seguirmos por ela, qual foi nossa surpressa em encontrar
andando pela Rua, Prabhu Jagad Bharata e Loka Saksi, que
justamente naquele momento tinham saído do Templo para ir
telefonar.
Milagre! Milagre! - era ação direta
do Caita Guru. Pare o Carro Sr. Motorista.
Até hoje não se consegue explicar o
encontro, tínhamos achado os devotos, pela Graça de Srila
Prabhupada.
Os devotos, já então de cabeças
raspadas, usavam doti e curta.
Passado aquele momento mágico de
êxtase, fomos levados para o Templo, onde nos foi gentilmente
servida prasada. Leite quente com banana amassada e Halava -
néctar. Pura Misericórdia - um exemplo do que era aquele momento
em Srila Prabhupada ainda estava fisicamente no planeta. Pura
Mágica.
Com 15 anos, era a primeira vez que
tinha saído do Estado do Rio de Janeiro, e apesar de saber que
logo teria que voltar para retomar meus estudos não pensava em
mais nada além de servir meu Gurudeva.
O primeiro problema surgiu quando
nos demos conta de que tínhamos que fazer sankirtana. O templo
precisava ser mantido, o aluguel tinha que ser pago, o programa de
domingo tinha que ter bhoga.
Na época não existiam livros.
Mahavira Prabhu pegou umas latinhas, cobriu-as com fotos
devocionais e ai fomos para Rua. O Mantra era bem diferente em
relação aos dias de hoje.
Mendigávamos o dia inteiro, na época
as pessoas estranhavam nossas roupas, eu, de doti e curta, não
tinha ainda raspado a Cabeça, afinal aquela era, teoricamente as
minhas férias de Julho.
Era muito difícil conseguir alguns
poucos centavos, apesar da curiosidade que despertávamos, era
muito duro.
Loka Shaksi Prabhu, não ia a
Sankirtana, preferia ficar no templo fazendo faxina, logo com o
tempo extra dele, Mahavira Prabhu comprou um estêncil e começou a
rodar umas folhas sobre a Consciência de Krsna. Nos
primeiros dias, as folhas eram todas borradas, mal se lia alguma
coisa, mas era melhor que mendigar, sem nada oferecer em troca.
Houve um momento em que passamos a
fazer Sankirtana com incenso, até que saiu a primeira revistinha
de Volta ao Supremo com o Titulo "Athato Brhama Jinasya" com uma
foto do Sr. Brhama na flor de lótus e a indagação "Brasileiros
quem somos nós"? (típico do Mahavira Prabhu).
Já então tinha abandonado a Escola,
era mês de outubro, e meus pais vieram a São Paulo me buscar. Tive
ainda tempo de ver o primeiro livro de Srila Prabhupada publicado
em Português, "Além do Nascimento e da Morte".