Guardiões da Devoção 

Informativo Vaisnava - Livros Vaisnavas

 

 

 

AS TRÊS GRANDES ONDAS DE SRI CAITANYA MAHAPRABHU NO BRASIL

 

(Relato das três principais iniciativas de se estabelecer e manter o Vaisnavismo no Brasil, precisando fatos históricos relacionados a presença direta e indireta de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada (A Primeira Onda), Srila Bhakti Rakash Srila Sridhara Maharaja (A Segunda Grande Onda) e atualmente Srila Bhaktivendanta Narayana Maharaja (A Terceira Grande Onda)

 

 

 

A Primeira Onda

 

 Parte II

 

 

 

PADRÕES ISKCON - UM NOVO INÍCIO DA PRIMEIRA ONDA

 

 

Antes porém de passar para o segundo momento da Iskcon, faço aqui um parêntese que julgo importante Registrar. Com a chegada de Mahavira Dasa ao Brasil, logo que foi estabelecido o templo  em São Paulo e gerou-se uma estrutura para manutenção e evolução dos programas (pessoas dispostas a ir para a rua pedir doações - coletar dinheiro -  "fazer Sankirtana") utilizando os candidatos a devotos que já conheciam a Consciência de Krsna e que  haviam aderido as iniciativas da Iskcon, iniciou-se um trabalho de  ajustamento aos padrões da Instituição Iskcon (alguns devotos nunca aceitaram esses padrões - apesar de tentarem - Romeu, Augusto, nosso saudoso amigo de São Lourenço/MG "Alemãozinho" Luiz e sua esposa Erli, Ana entre outros).

 

Padrões Iskcon, repetimos,  significava acordar de madrugada  (3:30 horas AM, tomar banho frio - sempre), por tilaka, doti e kurta  e ir participar das Cerimônias Matinais (Mangal Arotik) cantar Japa (tínhamos 1 hora e meia para cantar 16 voltas) assistir as aulas de Srimad Bhagavatam, tomar prãsada (nos dias de semana praticamente a única refeição completa que se fazia, a noite era refeição suave) e ir para "Sankirtana" ficando o dia inteiro distribuindo livros e regressando a noite, 18:00 horas para tomar um outro banho, participar das Cerimônias Noturnas (Sundara Arotik), assistir aula de Srimad Bhagavad Gita, fazer uma refeição leve e ir dormir (mais ou menos 21:00 horas).

Patrimônio pessoal de um devoto - pessoalmente nessa época tinha uma bolsa de sankirtana que cabia todos os meus bens - composto de saco de dormir, um cobertor para as noites frias, uma toalha e duas peças de fazenda - doti - que se vestia como se fosse uma calça - e duas kurtas - túnica indiana cumprida, um manto indiano e quatro pedaços de panos que usava como roupa de baixo - ou seja, enquanto um lavava e secava o outro estava sendo usado e algum livro). É claro, nosso principal patrimônio era uma Japa dentro de uma bolsinha e uma Kunti no pescoço. O pote de tilaka (argila usada para purificar as chakras com os nomes sagrados) era comunitário.

 

Aulas - Observem que as Aulas, tanto matinais quanto noturna seguiam a ordem dos livros de Srila Prabhupada, ou seja, na manhã as aulas começaram no primeiro dia pelo Primeiro Canto, Capitulo Primeiro, Verso Um do Srimad Bhagavatam e a cada novo dia era lido o Verso Seguinte. Antes de iniciar a Aula se fazia Bhajan (canto de mantras devocionais) depois o verso a ser objeto da aula no dia era lido nos seus termos Sanscritos, O orador falava e os ouvintes  repetiam palavra por palavras e depois estrofe por estrofe.

Depois era lida a Tradução de A.C. Bhaktivenda Swami Prabhupada em Português, quando o Orador não falava Português, tinha um tradutor.

Após era lido o Significado de Srila Prabhupada. Ao final, quem estava dirigindo a Aula, o pregador, fazia uma explanação pessoal do que havia sido lido, sempre dirigida a situação que se pretendia dar ênfase, assim, por exemplo, para incentivar os bhaktas a ir a Sankirtana, o Mahavira sempre pregava a importância de irmos as Ruas e levarmos as Palavras de Srila Prabhupada para os Karmis. Que as pessoas, pensando serem os corpos materiais, e, esquecendo sua Natureza Espiritual, ficam apegadas as coisas materiais e que tais apegos é fonte de sofrimento. No começo Mahavira usou todo o seu repertório. Com o tempo foi se aprimorando a pregação.

Logo nas aulas já tinha sido estabelecido a grande honra de ser um Brahmacari ou Brahmacarini (solteiros e celibatários) onde era descrita a necessidade de manter a castidade para facilitar o avanço espiritual e nesse sentido, valia qualquer coisa para convencer os ouvintes de tal fato, até chamar mulher de "saco de excremento' e dai por diante incentivando repudio pelo sexo oposto e que ao decorrer do tempo acabou gerando grande sofrimento para as "devotas" que cada vez mais eram discriminadas e tratadas com reservas entre os brahmacaris.

Esse tipo de pregação, sem tirar aqui o valor de uma "vida brahmacari" visava principalmente convencer aos "sankirtaneiros" (que distribuíam livros, revistas ou incensos em troca de doações) a ir para rua e distribuir muitos livros para agradar Srila Prabhupada e não se dispersar com o sexo oposto ou com os apegos materiais. Tanto que todo o resultado da distribuição eram integralmente entregue imediatamente ao chegar no templo, quando o Devoto encarregado da tesouraria recolhia. Brahmacari faz voto de pobreza.

Assim, utilizando tais argumentos estabelecidos e incentivados nas aulas, Mahavira, mais ou menos que obtinha "sankirtaneiros" em tempo integral, que faziam o serviço devocional espontaneamente e num sentimento de total entrega ao Mestre Espiritual. Assim funcionava a Iskcon.

 

O único senão era o fato de que, enquanto algumas almas de "boa fé" faziam tal trabalho de base e indispensável a manutenção da Instituição, outros, a titulo de não conseguir fazer tais tarefas tão duras(sankirtana), passavam a fazer outras  atividades paralelas, como por exemplo, cozinhar, limpar, ajudar nas publicações ou simplesmente não fazer nada (ficavam estudando e comendo prãsada). Ocorre que, muitas vezes,  justamente estes, que não tinham garra para ir fundo na proposta de "Sankirtana" é que  acabavam galgando melhores postos hierárquicos e passavam a ter voz direta ou indireta  na condução dos projetos da Instituição.

 

Observe-se que, no Templo da Afrânio Peixoto, no começo houve um momento que o templo era simplesmente fechado e todos iam a Sankirtana, até mesmo Mahavira (que pelo menos dizia que ia ou então ia cuidar de outros assuntos).

 

Mahavira e lokabandhu eram  brahmacaris e apesar de todo entusiasmo dos mesmos, que proporcionou o estabelecimento do templo, não tinham muita experiência administrativa e logo começou a surgir os primeiros problemas e os primeiros "lideres brasileiros" cuja origem, como comentamos acima, não era derivada de qualificação de qualquer espécie ou muito menos aptidão administrativa, justamente ao contrário, pela incapacidade de se fazer o trabalho mais importante, aquele que exigia mais sacrifício e renuncia e em razão disso, lamentavelmente muito erros foram cometidos e muitos candidatos sinceros a devotos foram vitimas de desmandos, vindo a perder a fé, enquanto outros tiveram que enfrentar muita austeridade para superar os arranjos dos "lideres", e mesmo enquanto Srila Prabhupada estava fisicamente presente no planeta, éramos obrigados a suportar Tapasia para promover o Movimento de Sankirtana de Sri Caitanya Mahaprabhu.

 

Lembro-me que posteriormente, no Templo da Rua Bolívia uma passagem que bem retrata o que estou dizendo acima, e,  aqui, tomo a liberdade de me adiantar no tempo para demonstrar o que estou dizendo com fatos ocorridos.

 

Ameaça de Ladrão no Templo da Rua Bolivia - Um dia surgiu rumores de que ladrões pretendiam invadir o templo e se apropriar do "patrimônio de Srila Prabhupada" melhor explicando o Laksimi de Sankirtana ( Lakismi - Deusa da Fortuna é como era chamado o resultado "moeda' - dinheiro obtido em Sankirtana). Imediatamente todos os devotos foram mobilizados e como linha de frente foram chamados os sankirtaneiros que em dupla iriam montar guarda durante a noite em turnos de uma hora.

 

Foram relacionados os nomes dos sankirtaneiros e me lembro que junto co Prabhu Kamalacaram peguei o turno das 24:00 (meia noite) até as 1:00 AM.

Foram momentos muito difíceis aqueles. Fazíamos Sankirtana o dia inteiro, andando atrás das pessoas de lá para cá e de cá para lá na rua  fazendo "sankirtana" e a noite éramos acordados no meio da noite para ficar fazendo rondas em volta do templo como vigias enquanto os "administradores" entre eles Jagad Bharata Dasa (que agora está em Recife) e Mahavira Dasa, que ficavam no templo todo o dia em outras atividades que incluíam almoço e  descanso passavam a noite dormindo usando o saco de laksimi como travesseiro.

Lembro-me ainda hoje, que algumas vezes fui acordado as 3:30 da manhã com água pelo Jagad Vicitra com algum requinte de crueldade para me obrigar ir ao programa matinal.

 

O problema é que, naquela época, ficar doente era um convite para voltar para casa dos pais para se tratar, uma vez que os devotos experimentavam total dependência na misericórdia exclusiva de Srila Prabhupada e só ele podia nos abrigar.

 

Fui o primeiro a pegar uma gripe muito forte (1975) chamada de"Gripe Beija Flor" porque tinha sido essa Escola de Samba que vencerá os desfiles no Rio de Janeiro. Sarvatma Dasa, devoto que tinha vindo de Salvador junto com Prabhu Guruvagni e Prabhu Ugraha,  também ficou gripado depois, parecia o inicio de uma epidemia que ameaçava todos os devotos. Nossa dieta, talvez pobre em vitamina "C" não permitia prever passar pelo surto sem maiores conseqüências. Só os administradores se preocuparam em ir tomar remédio (injeção).

 

Os "lideres" informaram aos demais que a cura para a gripe devia ser tratada com "jejum completo" e assim eu e Sarvatma fomos trancados num quarto e fechados por fora para não comprometer a saúde dos outros sankirtaneiros e lá ficamos por três longas noites e três longos dias. Sarvatma com muito muco (catarro), levou para sua quarentena um balde que era usado para captar seus mucos. Uma experiência traumática. Me lembro que de vez em quanto, Sarvatma acordava de seu jejum e estrondosamente escarrava no balde. Um horror.

Me lembro que no terceiro dia, reuni o resto das forças que tinha, arrombei a janela do úmido e pequeno quarto que estávamos, e fui engatinhando buscar abrigo do sol  e depois fui a cozinha mendigar uma laranja, e acho que foi o que me  salvou a sanidade. Lembro-me que depois desse episódio Sarvatma voltou para Salvador para casa dos pais, e tendo sérios problemas de saúde, acabou tendo alguma espécie de surto e foi internado num hospital psiquiátrico as custas da família (Sarvatma anteriormente já tinhas problemas decorrente de uso de drogas - nunca mais ouvi falar desse devoto).

 

Dependíamos única e exclusivamente da misericórdia sem causa de Srila Prabhupada, somente a nossa fé nas palavras do Mestre nos fazia seguir em frente, somente nossa ingenuidade e sinceridade podia nos manter de pé. Sentia que estava sendo protegido diretamente pelo Meu Gurudeva e que Ele me dava conforto. A Japa era o momento de sentir a presença do Guru e o alívio de estar sinceramente cumprindo suas ordens que acreditava ser de forma realmente sincera. Era, como sempre foi um processo interno e individual, embora houvesse extrema pressão externa nos impelindo a ceder para o aspecto de trazer resultados materiais derivado de um certo fanatismo. Ponto nevralgico e que se distingue da "terceira grande onda" como se pode observar no texto Tentar é Bhakti.

 

FANATISMO

 

As dificuldades eram muitas no início do estabelecimento dos "padrões Iskcon", especialmente para os mais jovens e até certa forma introspectivos como eu, que sozinho (não tinha irmãos no movimento e família morava longe) tinha certa  dificuldade de fazer amizade com os outros devotos (nos não somos esses corpos e tudo é de Krsna) e até me sentia um pouco excluído.

 

Qualquer sinal de inconformismo era uma oportunidade de outros devotos rotularem o insatisfeito de "invejoso" e "especulador". Havia realmente acabado a espontaneidade e liberdade de expressão. Existia uma espessa cortina impedindo que qualquer informação chegasse aos devotos, só os "lideres" sabiam o que estava acontecendo dentro e fora do movimento. Os melhores Sankirtaneiros, enquanto ostentavam o posto de "melhor" eram tratados como heróis e tratados com Maha Prãsada, mas tão logo seu rendimento caia no Sankirtana, fosse por qual motivo fosse, passavam a ser  postos de lado e desconsiderados, como um objeto sem uso, uma laranja sem caldo.

 

Como conseqüência das metas institucionais e desejo de realização de alguns lideres, existia, como acredito que existe até hoje, certa tendência ao fanatismo religioso imoderado, tendência essa contrária aos ensinamentos de Srila Prabhupada e de outros Vaisnavas. Os devotos eram doutrinados a pensar que eram "os escolhidos de Deus" e que estavam fazendo "serviço devocional puro" e ainda que o movimento para Consciência de Krsna era o "centro do universo"  a única religião filosófica perfeita  e "especial" e que todos os outros eram meros Karmis (seres enredados nos ciclos de nascimentos e mortes - trabalhadores fruitivos e  presos a lei karma porque buscavam prazer material - Bhagavad Gita como Ele É  - Cap. 2 texto 49).

 

Observem, devo reconhecer que tal "fanatismo" tem até certa importância nos primeiros estágios da fé, tanto que são classificados como "Kanisthas Adhikaris" ou devotos que só conseguem ver Deus nos seu próprio altar ou no seu grupo, mas devemos sempre esperar uma evolução para outros estágios visando uma compreensão mais madura e fixa (no sentido de fé firme com compreensão e realização - Jnana e Vijnana).

 

O fato é que, nesse primeiro estágio existe embutido uma dependência psicológica que era então bastante utilizada pelos "lideres" daquele momento na Iskcon para impor medo no caso de não serem atendidas as demandas institucionais por parte do Bakta.

 

Ou seja, ou você faz sankirtana e me traz resultados ou você está em maya e te ponho para fora da instituição e ai você vai ficar sozinho, fazendo ofensa, descumprindo a ordem do seu mestre e vai para o inferno do mundo material.

 

Assim, nem pensar em ser ofensivo ou estar em maya,  ou sem o abrigo do Mestre Espiritual ou ainda estar longe dos devotos,  "verdadeiros amigos" ou muito menos não estar mais no "centro do universo", ou seja, nem pensar em não fazer o que o "líder" está exigindo.

 

Talvez tal processo fosse imperceptível, mas olhando de fora nesse momento,  não se pode negar que existe ai implícito certo grau de crueldade, crueldade essa imprópria de pessoas verdadeiramente Santas, por isso, e só por isso posso afirmar sem medo, que não era esse o desejo de Srila Prabhupada ao vir pregar a Consciência de Krsna no Ocidente, mas sim resultado dos anseios de alguns "lideres" ávidos por lucros advindos da exploração de pessoas inocentes, bem no estilo Maquiavel - "os fins justificam os meios". Mesmo que muitos meios (candidatos a devotos) fiquem pelo caminho.

 

Mesmo considerando que tudo que acontece é vontade do Senhor Supremo, que mesmo nem uma única folha cai da arvore sem que esteja sob o controle de Krsna, os Devotos deviam considerar que não foi por acaso que Srila Prabhupada traduziu e nos deu o Sri Isopanisad que logo nos seus primeiro  segundo verso diz claramente:

 

INVOCATION

TEXT

om purnam adah purnam idam

purnat purnam udacyate

purnasya purnam adaya

purnam evavasisyate

 

TRANSLATION

 

 The Personality of Godhead is perfect and complete, and because He is completely perfect, all emanations from Him, such as this phenomenal world, are perfectly equipped as complete wholes. Whatever is produced of the Complete Whole is also complete in itself. Because He is the Complete Whole, even though so many complete units emanate from Him, He remains the complete balance.

 

Mantra One

TEXT

isavasyam idam sarvam

yat kinca jagatyam jagat

tena tyaktena bhunjitha

ma grdhah kasya svid dhanam

TRANSLATION

 Everything animate or inanimate that is within the universe is controlled and owned by the Lord. One should therefore accept only those things necessary for himself, which are set aside as his quota, and one should not accept other things, knowing well to whom they belong.

 

Ele traduziu os versos dizendo; O Senhor Supremo é perfeito e completo e Ele permanece sempre em completo equilíbrio e tudo é controlado pelo Senhor, desta forma a pessoa deve somente aceitar para si aquelas coisas que lhe são necessárias  e que foram reservadas como sua quota e não deve aceitar nada mais sabendo bem a quem pertence.

 

Srila Prabhupada, no momento em que estava pregando no Ocidente estava lembrando aos devotos não deviam se esforçar tanto em relação as coisas materiais e cada um tem sua "cota". Que não deviam estar ansiosos em relação a prosperidade e realizações materiais e que, tomar que além do que foi reservado como sua cota, traria sofrimento "de acordo com as leis da natureza material" complementou o Acarya na explicação do mantra.

 

Entretanto alguns devotos, naquele momento, no afã de realizar objetivos materiais,  não prestaram atenção nessas instruções e todo o tempo movidos pelo modo da Paixão e Ignorância acarretaram grande sofrimento para outros devotos.

 

Citação de Srila Prabhupada-

We cannot divert our attention for money making activities

1968 June 21 : “We cannot divert our attention for money making activities. If we direct our attention like others, then it becomes karma. And karma is very dangerous for persons who want to go back to Godhead.”
Prabhupada Letters :: 1968

 

 

No início do estabelecimento dos "padrões Iskcon" os modos da paixão - rajas - e ignorância - tamas - predominaram amplamente, mesmo porque se sabe que para Criar os Universos, o Senhor Brahma  se utiliza do modo da paixão, sem o qual é muito difícil levar adiante projetos, por isso não podemos sair precipitamente criticando o que ocorreu, mas o fato é que o que se critica é o excesso, uma vez que tão importante como criar é manter,  e para isso precisavam tomar abrigo no Modo da Bondade - Satva Guna, o que poderia ter evitado muito sofrimento.

 

 

Como veremos mais adiante desse texto, foi muito importante para o Brasil, a partir de 1.980, a Segunda Onda de Caitanya Mahaprabu, capitaneada pelas instruções do Guardião da Devoção, Srila Bhakti Rakshak Sridhara Maharaja, que trouxe o conceito do "Caminho do Coração" , de que esse mundo existem os exploradores e os explorados e que nesse sentido o devoto está mais protegido ocupando a posição de explorado, entre tantas outras magistrais conceituações Vaisnavas, que realmente possibilitam aos Bhaktas calgar outras etapas de entendimento da vida espiritual, inclusive em relação ao entendimento primordial que deve haver na relação Guru/discípulo retratada no Livro Sri Guru e sua Graça.

 

Ante o exame do que foi dito acima não é muito difícil de se entender porque alguns lideres da Iskcon reprovaram veemente a leitura dos Livros desse Grande Vaisnava, Srila Sridhara Maharaja, embora eles próprios o faziam as escondidas.

 

Da mesma maneira vem a Terceira Grande Onda, cada uma no seu momento certo e com seu propósito próprio. Ao nosso ver a terceira Grande Onda vem estabelecer a maturidade no "serviço devocional" onde se tenta estabelecer a execução do serviço de forma fixa sob o abrigo de "satva guna" e especialmente evitando qualquer tipo de ofensa aos Vaisnavas para "harmonizar" e buscar o propósito máximo da vida.

 

""No início, as ações no modo da bondade terão sabor amargo, porém seus resultados sempre serão doces como o mais puro e nectário mel !"

 

Extraído do Texto - Tentar é Bhakti de  Srila Narayana Maharaja
 

Por isso, por mais insignificante que seja nossa opinião, tomamos a liberdade de reprovarmos veementemente aqui qualquer tipo de Ofensa a qualquer ser vivente especialmente,  Vaisnavas,  especialmente para aqueles que buscam o caminho da Bhakti e do serviço devocional, não só porque o processo do caminho espiritual  deve ser trilhado em "satva guna", como também não pode ser experimentado sem um bom cantar de Japa (sem ofensas) e sem pratica sincera de humildade e respeito.

 

 

Também por isso somos totalmente contra a religião institucional quando a mesma só serve a propósitos escusos que verdadeiramente nada tem haver coma proposta de Srila Prabhupada e Vaisnavas autênticos. Srila Prabhupada: "Se reconhece uma arvore por seus frutos."

 

Só quem passou por todo esse processo, sentiu uma imensa insegurança de estar fora do grupo, medo de estar sendo ofensivo é que pode perceber o que foi dito acima.

Nem venham me dizer que o verdadeiro sábio não deve perturbar a mente dos ignorantes pinçando o Bhagavad Gita (Cap. 3 verso 26) porque Srila Prabhupada é muito claro quando traduz o mesmo verso dizendo "Eles (os ignorantes) não devem ser incitados a abster-se do trabalho, mas sim a se ocupar no trabalho com espírito de devoção".

Fanatismo, adesão excessiva a uma fé, sem embasamento filosófico, sem verdadeiro "espírito de devoção" não foi o que Srila Prabupada trouxe, e não deveria ser objeto de pregação em nome deste Grande Acarya.

 

Fanatismo não deveria ser usado como instrumento de coerção para atingir fins materiais, como aconteceu naqueles primeiro momentos da Iskcon.

 

Pessoalmente não posso dizer que não fui vitima de tal sentimento, mas pela graça de Srila Prabhupada, acredito realmente que fui protegido, tanto que até hoje, me considero um candidato a devoto e penso que não estou mais no estágio Kanistha, e sim madhyana Adhikari ou seja, aquele que é capaz de reconhecer o que é bom e o que não é para manter saudável a "Consciência de Krsna", tendo como base o busca do cantar da Japa sem ofensas e o Siksastakam (Tomando abrigo também em Srila Sridhara Maharaja ).

 

Voltando a Rua Bolívia e a ameaça de Ladrão - Já então as rondas haviam acabado, substituída por um Guarda Noturno e a ameaça de entrar ladrão no templo do Rua Bolívia tinha sido superada e o laksimi estava a salvo. Os Administradores tinham guardado laksimi no banco e tinham tomado injeção contra a Gripe. Jagad Bharata comentou inclusive que tinha desmaiado quando foi tomar a Injeção que era muito forte e era muito bem recebido pelo Gerente do Banco que disponibilizou maquina para contar a grande quantidade de cédulas de pouco valor  e as moedas que eram arrecadadas em Sankirtana.

 

Lembrando agora deste episódio e todos os seus detalhes chego à conclusão que realmente, apesar de tudo, existia uma mão invisível me protegendo, alias,  soube superar essas e outras adversidades entendendo que a "Consciência de Krsna" estava muito além de todas essas situações temporárias.

 

 

Voltando ao Templo da Afrânio Peixoto, Loka Bhandu Prabhu, um devoto de Porto Rico, de quem eu me recordo com muito carinho, teve problemas na sua vida brahmacari e acabou indo embora do Brasil. Nunca mais tive notícias dele, mais ainda hoje tomo leite com banana amassada na forma que me ensinou.

Me lembro que raspei minha cabeça a primeira vez no dia de Balarama (1974) e acompanhei os Devotos num Sankirtana propriamente dito ( Cantar os Santos Nomes de Forma Congregacional caminhando e dançando). Local escolhido foi Viaduto do chá.  senti que naquele momento tinha mudado algo. Participar do movimento de Srila Prabhupada tinha se tornado a minha vida e grande felicidade e jubilo sentia no coração.

 

Aqui preciso registrar que não me arrependo nem mesmo um segundo do que fiz e se fosse necessário faria tudo novamente, foram momentos raros, não só derivado de uma experiência pessoal única mas de todo o contexto existente na época.

 

Os Paulistas, apesar de sempre tão formais e até certo ponto "frios" , assim como todo o mundo, viviam naquele momentos especifico grande questionamento dos padrões sociais,  políticos e religiosos estabelecidos,  e o Movimento Hare Krsna era visto como um ato de vanguarda pacifico, onde rapazes e moças vestidos adotavam as vestes de monges e despojados se dedicavam integralmente a vida espiritual dentro de um contexto de austeridades com voto de pobreza, alimentação Vegetariana, celibato e tendo como fundo de pano toda a cultura oriental da Índia, que na época, apesar de muito pouco conhecida ganhava força com o interesse da época nos Gurus Indianos, como foi o caso de Maharishe Maheshi Yogui no Festival de Woodstock ( para quem não lembra, ou não tinha nascido ainda,  foi realizado em uma fazenda em Bethel, Nova Iorque, durante os dias 15, 16 e 17 de agosto de 1969 e, embora tenha sido projetado para 50 000 pessoas, mais de 400 mil compareceram, Participaram do evento artista ligados a diversos estilos musicais que de alguma forma se relacionavam com as propostas do movimento hippie: o folk, com seu pacifismo e sua contundente crítica social, o rock, com sua contestação ao conservadorismo dos valores tradicionais, o blues, com sua melancolia que havia décadas já mostrava as contradições da sociedade norte-americana, a cítara de Ravi Shankar, representando a presença marcante da influência oriental na contracultura, entre outros).

 

 Os mais intelectuais e os jovens associavam os devotos a um contexto inquisitivo bem caracterizado pela peça teatral "Hair' e a Musica "My Sweet Lord" do Beatle  George Harissom, que participou do Movimento e que no seu contexto cantavam o "maha mantra" Hare Krsna e mesmo aqui no Brasil alguns artistas da Tropicália.
 

Dai começamos a ficar conhecidos como os "Hare Krsnas", e tínhamos a simpatia de muitos que sem preconceito admiravam nossa demonstração de coragem e força por adotar religião tão "misteriosa". Foram de fato momentos muito especiais, estávamos na Crista da Onda do Movimento de Srila Prabhupada e desfrutávamos de grande destaque, onde quer que estivéssemos, recebendo de alguns respeito de uns, de outros sobressalto e de todos curiosidade.

 

Lembro que numa Viagem feita ao Nordeste, Prabhu Jagad Bharata reclamou que, fazendo Sankirtana, foi perseguido por um homem com uma peixeira na mão. A pessoa tinha se  indignado com a sua efígie,  com as veste devocionais. O homem acreditou ser um insulto a sua pessoa, um outro homem vestido de saia com cabeça raspada. Lembro que a visão do devoto fugindo de um homem com peixeira por absoluta ignorância era fonte de boas gargalhadas, justamente o Jagad Bharata que sabíamos ser muito cuidadoso e respeitoso com as pessoas. Existia sim um aspecto bem humorado no nosso dia a dia.

 

O Sankirtana do dia a dia era bem recebido, as pessoas não acostumadas a serem abordadas na rua por monges, paravam e ficavam olhando, algumas com grande sorriso e prontas a ceder os ouvidos para o que tínhamos a dizer. algumas vezes tínhamos que os desdobrar para dar atenção a todos que chegavam a fazer uma roda em nossa volta. Pessoalmente, muito jovem, sabia somente o básico do básico, mais o importante era dar Prabhupada para eles, tinha que falar só suficiente para que a pessoa entendesse que a curiosidade dela seria satisfeita com o livro.

 

Começávamos a desenvolver estratégias para nos aproximar das pessoas, era importante um grande sorriso, todos gostavam de frases com bom humor e em muitos casos tínhamos que acompanhar a pessoa da sua trajetória. Oferecíamos um livro de forma despojada e dizíamos que as palavras do Mestre tinham sido enviadas especialmente para a pessoa. Cada um tinha uma forma de fazer mas o principal e que fazíamos tudo sem qualquer objetivo de ganho material, aquele trabalho era uma exteriorização do que estávamos vivenciando em nossa relação com o Mestre,   não iríamos lucrar financeiramente com aquele trabalho, posto que todos os valores arrecadado eram integralmente entregue no templo. Completa renuncia e dedicação.

 

Estávamos totalmente engajados de forma integral na missão do Acarya, nada tínhamos, nada queríamos além do básico do básico e aprendíamos o que era vivenciar a renuncia e estávamos protegidos.  Olhando para esse momento, sei que nossa atitude foi correta , ao contrário de outros devotos que tinham que se envolver com administração onde as contradições desse mundo material estão muito mais presente, e o pior,  sem qualquer preparo para isso.

 

Precisamos ressaltar que temos consciência de que é muito difícil administrar o Movimento para Consciência de Krsna,  e de acordo como se apresenta as situações, quando se tem que tomar decisões, como seres humanos,  podemos errar não cabendo a quem estava de fora da situação, julgar.

 

Sim, muito erros administrativos foram cometidos naqueles momentos, alguns frutos da inexperiência, outros da ingenuidade e ainda outros fruto de visível abuso, e no que pese o estrago que causaram, o importante foi continuar com sinceridade, porque de certa fomos capazes de não perder de vista o ponto central do que Srila Prabhupada nos trouxe.

 

É muito fácil criticar, o difícil é enfrentar as situações que se apresentavam e não podemos perder de vista tal fato. Embora hoje, pelos resultados das atividades de alguns, tenhamos que reconhecer que, desde aquele início, alguns devotos que acabaram na posição de "líderes" não tinham habilidade de aprender com os erros e pior, tinham uma atitude por demais arrogantes para reconhecer os erros e corrigi-los com humildade e simplicidade esperada de um Vaisnava, esquecendo realmente as bases do Vaisnavismo, e com isso, fizeram muitos devotos sofrerem, algumas vezes até por razões de natureza pessoal e egoístas, desprezando a Existência de uma Justiça Maior, e denegrindo a imagem de Srila Prabhupada.

 

Em defesa que foi realizado naquela época dizem;

"Meu mestre espiritual pode ter cometido erros administrativos ou políticos,  em especial quando Srila Prabhupada o mandou pregar na América do Sul, onde ele formou uma equipe e abriu  a BBT, em português e espanhol, dando acesso à Consciência de Krishna a milhões de almas.Imaginem um jovem com menos de 25 anos com a responsabilidade de pregar e administrar um continente e ainda assim manter-se na ordem de renúncia."Texto Completo

 

Talvez por isso que a Iskcon enfrenta a crise que vem enfrentando, com claro declínio de sua Shakti, que começou desde a partida física de Srila Prabhupada, com acusações inclusive de que ter sido envenenado e a controvertida  suposta indicação de sucessores, dos quais muitos deles ficaram pelo caminho, outros passaram a diversificar, alterar os conceitos mais básicos da Consciência de Krsna conforme preconizado por Srila Prabhupada. Texto exemplificativo do que falamos, que busca provar que a consciência de Krsna deve ser implementada no estilo "empresa Americana" aderindo praticas mais arrojadas e pondo de lado toda a simplicidade necessária para Cantar os Santos Nomes da forma que foi ensinada por Srila Prabhupada e na justa contraposição do "Vida Simples e Pensamentos Elevados"  ou mesmo na contra mão do estilo "slow down", tão proeminente hoje em dia e que muito lembra o necessário  humor "satva guna" do Vaisnavismo, isso agregado ao que por inspiração mencionamos anteriormente - Tentar é Bhakti .

 

O pior é que, apesar de já terem se passados muitos anos (atualmente 35 anos) tínhamos a expectativa de que a Iskcon tivesse condições de usar toda a experiência decorrentes dos acertos e erros dos fatos pretéritos  para administrar com maturidade e sem continuar cometendo tantos erros. Administrar no modo da Bondade (Satva Guna) estabelecendo as relações com amizade e respeito entre todos, SEM FANATISMO IMODERADO ou "isolacionismo aiatola" - conforme é indicado na pratica do Vaisnavismo.

 

Entretanto, lastimavelmente isso não ocorre, ao contrário, passaram a diversificar, formar grupos separados que ignoram-se uns aos outros e digladiam-se como crianças para ostentar a posição de únicos representantes legítimos de Srila Prabhupada, como se o Acarya fosse um objeto possível de se apropriar para fins particulares sob a falsa premissa de ser "pregação", como o exemplo acima Texto, com criticas do tipo;

 

"O mundo não está interessado em mais uma manifestação mundana de cultura e religiosidade. As pessoas estão cada vez mais querendo encontrar um conhecimento científico puro e completo para dar sentido e propósito à vida.

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Nos países mais desenvolvidos, o povo também exige de seu governo crescente qualidade e excelência. E, já há muitas décadas, vemos que aquilo que é considerado como sendo algo digno e respeitável em Nova York, será igualmente digno e respeitável em Xangai, Deli, Paris ou São Paulo. O mundo busca universalidade para essa nova realidade. É insensato e contraproducente tentar apresentar uma mensagem, não importa quão maravilhosa seja, imersa num formato étnico exótico. Agindo dessa forma estamos dizendo ao mundo que não estamos interessados nele, e, em contrapartida, o mundo não está interessado em nós. Estamos totalmente fora de sintonia com a realidade atual."

 

Será mesmo? Porque temos que olhar para o Vaisnavismo com os olhos de Ocidental ou Oriental? porque não transcendemos a plataforma de  preconceito e paramos de tentar  explorar a natureza material bem no estilo melhor qualidade do que quantidade?  Para quem serve essa visão mercantilista ? Onde está o cuidado com a "pessoa do devoto" ante tal visão impessoal e externa? Onde está a Qualidade Vida - Vida simples e pensamentos elevados. É muito celebro e muito pouco coração, alias esse é um problema conhecido de alguns devotos em corpos "americanos". Srila Sridhara Maharaja nos advertia que a meia verdade é pior que a mentira. Faith and Harmony

 

Indiferença é a palavra de ordem e o que se vê é um verdadeiro Show para atrair incautos, onde o que importa é a grana e as mordomias dos lideres que se comportam como empresários e que buscam a mídia para aumentar a imagem e rendimentos, e o pior, repetimos, tudo em nome de "pregação" e sob o suposto intuito de seguir as ordens de Srila Prabhupada.

 

Citação de Srila Prabhupada sobre esse comportamento:

 

It is nice that you are doing preaching work there, but you should know that such practices like stealing are against the principles of Krishna Consciousness.

 

 

 

 

"The devotees always offer respect to everyone, but when there is a discussion on a point of sastra,they do not observe the usual etiquette, satyam bruyat priyam bruyat.They speak only the satyam,although it may not necessarily be priyam[palatible]."
(Srila Prabhupada letter to Sumati Morarji-7 August 1976)

Extraído do Livro "Our Affectionate Guardians"

quer tadução?

 

Após redigir o texto acima, senti que algo me incomodava, que faltava algo......  O fato é que,  não basta ter, no caso, boa intenção, e até pode parecer para alguns que minha manifestação acima, só tem como único objetivo, fazer criticas. Pessoalmente, não entendo que haja critica no meu relato, mas simples constatação de fatos sob o ponto de vista de quem viveu e não está concorrendo a cargos institucionais ou pretende ganhar concurso de simpatia. Não temos necessidade de sermos diplomáticos, e nossa analise e desprovida intenções ocultas.

Também prestei muito atenção a carta do Prabhu Vrajabihari Das que disse de forma apropriada que;

Só um lembrete: Srila Prabhupada dizia que um devoto não deve ser ridicularizado em público,mas devemos nos aproximar dele e mostrar o seu erro............................................(embora o devoto tenha utilizado o famoso "Prabhupada dirro" sem fundamentar onde e como falou, ainda assim consideramos) Texto Completo

 

Quando o devoto queria fazer prevalecer seu ponto de vista ele dizia: Prabhupada disse! e ai vinha o ponto de vista dele próprio. Quem usava muito esse recurso eram devotos Argentinos, dai "Prabhupada dirro".

Em relação a questão de não ridicularizar em público outro devoto,  lembrei que uma vez,  por volta de 1980, quando já estava  Estudando Direito e já tinha casado com "Rasa Vihara Devi Dasi" aquela devota que a mãe apareceu no programa Fantástico da Globo dizendo que o movimento aliciava menores (grande escândalo - que será objeto de capitulo próprio) nos freqüentávamos o Templo do Rio ainda na Usina, e escrevi uma Carta para Sua Santidade Hridayananda Das Goswami Acharyadeva tentando alertá-lo, com todo respeito de fatos que aconteciam no Templo do Rio e solicitavam sua interferência para manutenção do Bom Nome de Srila Pabhupada.

Importante ressaltar que apesar do tom bastante formal da Carta, eu esperava ingenuamente,  algum tipo de deferência porque, apesar de, naquela ocasião estar morando fora do templo, acreditava ter alguma consideração, em razão do  tempo que tinha sido servo pessoal do Sr. Hridayananda e,  tentava mantê-lo confortável quando vinha ao Brasil (na época no Templo da Pandia Callogeras e no Rio - Usina - além de fazer Sankirtana Viageiro). Engajado em cuidar de tudo, desde a prasada até lavar roupas - tarefa que não delegava a ninguém - até fazer-lhe massagem a noite com óleo de mostarda o que me rendeu o apelido  de "mãozinha"  por parte dele, em razão da força que fazia durante a  massagem.

Todavia, qual foi a minha surpresa quando recebi seu resposta, que de forma lacunosa me mandava encaminhar minhas sugestões, duvidas ou até reclamações para o próprio presidente do Templo, aquele mesmo, que eu entendia ter comportamento inadequado. Ou seja, não havia espaço para tentar se aproximar e buscar melhorar as coisas.

Abstraindo o fato de que não se tinha espaço para tentar se aproximar e mostrar os erros, é importante observar que, decorridos tantos anos, o texto acima mencionado, esse mesmo que diz que "o mundo não está interessado em mais uma manifestação mundana de cultura e religiosidade..." continua a demonstrar que com relação a mentalidade "imperialista" não houve qualquer mudança e expressa um ponto de vista extremamente preconceituoso faltando com o devido respeito aos sentimentos daqueles que acreditam em suas tradições, suas crenças, que naquele texto são chamados de meros rituais mundanos.

Nem mesmo a necessidade de globalização dá autorização  seja de ferir sentimentos, seja de julgar as crenças internas de quem quer que seja, pois o que serve para uns pode não servir para outros. Nova York também é muito famosa pela sua diversidade, onde se pode encontrar inclusive restaurantes que servem de prato principal "fetos humanos".

A mentalidade de raça superior já deveria ter sido trocada pela mentalidade de que "somos almas espirituais" e que nesse corpo material todas as circunstâncias são efêmeras, assim não importa se é hindu ou americano, porque ambos são aspectos externos e qualquer preconceito em relação a qualquer cultura deve ser visto como arrogancia.

Mas mesmo fosse possível ultrapassar o ponto de vista acima, ainda assim existe um aspecto que não deve ser desprezado, e que parte do princípio de que o Vaisnavismo adota a Bhakti Yoga, e temos que buscar agir com sensibilidade buscando o amor espiritual sem medo de sermos sentimentais ao extremo e para isso precisamos abandonar a plataforma mental, porque o Intelecto é limitado, embora a filosofia védica não seja.

Precisamos reconhecer que o Senhor Supremo pode nos ensinar através de todos os meios, inclusive desenvolver bhakti através dos rituais. (Asta Kaliya Lila - que exige a preservação de aspectos hindus dos passatempos de Krsna)  Nesse sentido sabemos que alguns devotos "americanos" mesmo em lugares como o Dhama Sagrado, Vrindavana gritavam para quem quisesse ouvir que detestava aquele lugar cheio de rituais, esquecendo que Srila Prabhupada, Jagag Guru desejou deixar seu corpo naquele clima espiritual. Nenhum respeito pelo sentimento do Guru.

Alguns devotos se esquecem que, se nos não somos esses corpos, todos esses aspectos externos são irrelevantes, rituais hindus, rituais americanos, entre outros rituais,  e que esse conceito de superioridade é baseado em ponto de vista  do observador.

Se Srila Prabhupada falou que poderia deixar os bancos da Igreja, e os devotos queriam mais espaço para dançar e se Srila Prabhupada não insistiu em deixar bancos de igreja no Templo era evidente que Ele não queria, ou que isso não era importante, não era parte do essencial, eram só habito externos.

De outro lado, que adianta tanto empenho se falta cuidado com as almas que vem atraídas a Consciência de Krsna.

Essa busca por "Excelência" deveria levar em conta que além de produzir resultados com eficiência,  é importante manter os resultados, vez que "se vamos entrar no humor de fazer de conta  que não somos o corpo" não adianta padrão Internacional se esse diminui a "qualidade de vida" dos devotos, se isso não permiti que eles cantem uma boa Japa, cultivem carinho pela família, sua devoção, sua visita ao Templo para ver as Deidades, se associar com todos os Vaisnavas como irmãos.

Sob esse aspecto muito mais sábio (é dizer Védico) que essa mentalidade "globalizada" e de busca pela "excelência e qualidade" e o ensinamento de Antoine de Saint-Exupéry que em sua Fabula  "O Pequeno Príncipe" ensina; "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."  E olha que Saint Exupery sequer era Vaisnava e agora pode ser usado para dar lições a ditas "Santidades".

XXI

.................

" Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.

......................

- Que quer dizer "cativar"?

......................

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

..............................................

- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. "

Muito de essencial se tem perdido em razão da falta de sensibilidade

 

Sakti de Srila Prabhupada

 

Enfim, o certo é que não era fácil aquela rotina, especialmente durante a estação de inverno. Mesmo assim, com tudo isso, as palavras de Srila Prabhupada ecoava nos corações de muitos. Nesse momento, período inicial da Iskcon,  sankirtana era feita pessoas a pessoa na rua (sankirtana de semáforo ou sinal  e de ônibus foi introduzindo posteriormente quando arrecadar era mais importante que distribuir livro).

Quando Mahavira e seus associados chegaram em São Paulo, vindo do Rio de Janeiro, com a Variante "cor de abóbora" do Cláudio, eles acabaram acampando nas obras dos prédios da USP. Chamando a atenção pelo seu trabalho missionário, com aquelas roupas açafroadas, com Sika (tufo de cabelo por onde o mestre resgata o discípulo) e Tilaka (marcas sagradas feitas com argila dos lugares sagrados para purificar os Chakras do corpo)  pode-se presumir que, além da Sakti de Srila Prabhupada que sem dúvida estava mais presente, teve ele facilidade de conseguir apóio e alugar uma casa.

É dito que para criar se precisa "rajas" ou estar movido pelo modo da paixão, assim como o Sr. Brahma, quando cria os universos, e "rajas" é o que não faltava, naquela época para Prabhu Mahavira.

 

Todavia a pregação, a divulgação da Consciência de Krsna em Sankirtana devia ser feita buscando um misto de "rajas" com "satva guna" porque não se pretendia simplesmente arrecadar doações, mas sim a divulgação de um ponto de vista alternativo, que adotava o vegetarianismo de alto nível e pratica do mais elevado sistema de Yoga, a Bhakti Yoga.

 

Assim, os devotos foram também propulsores do que mais tarde era amplamente defendido pelo MOVIMENTO ALTERNATIVO e, de fato, tinha muita gente interessada e até disposta a saber melhor do que se tratava.

Ao sermos contemplados nas roupas açafroadas as pessoas riam, os jovem viam como um grito de liberdade a todos os conceitos falidos da cultura judaico-cristã e como resultado, mesmo que precariamente, já no Templo da Rua Afrânio Peixoto foram muitos os que vieram.

Minha única lamentação é que, como sempre, apesar de acreditar ainda hoje que todos eram sinceros, existiam aqueles que passaram a cobrar disciplina e ordem de forma arrogante, naquele momento, percebi, que tinha realmente acabado a espontaneidade, ali tinha sido  instituído a obrigação que de forma meia imprópria se passou a denominar "sadhana bhakti" para cobrar resultados materiais. Bem vindo ao mundo material numa viagem  proporcionada pela Instituição e seus algozes.

 

 

O QUE DESEJAVA SRILA PRABHUPADA EM RELAÇÃO A SUA INSTITUIÇÃO

 

Porque os "líderes", aqui no Brasil, não respeitarão as Instruções do Acarya ?

Discriminação com os Latino Americanos ?

 

Quais as regras Estabelecidas por Srila Bhaktisidhanta Saraswati Thakur para sua Instituição (respeitada as regras "tempo", "local" e "circunstâncias" varias lições ainda são validas para os dias atuais).

1. It should be the duty of a sannyasi that they should never use shoes, rather they should go everywhere on foot.

é dever de um sannyase que ele nunca use sapatos e deve se locomover a pé.

2. They should never accept service from anyone. Neither should they never ask someone to massage their body or feet with oil.

Ele não deve nunca aceitar serviço de outros. Nem deve pedir a alguém para lhe massagear o corpo ou os pés com óleo.

3. Eating nice food and eating separately from other devotees is totally forbidden.

Comer suntuosamente e separado dos outros devotos e totalmente proibido

..........................................
A bramachari should not desire to become a sannyasi simply in order to have greater sense gratification. The desire to dominate is detrimental to devotional service. To consider a sense enjoyer to be a sannyasi, and wanting to become a sannyasi with that ideal should be totally rejected. When one begins to enjoy his senses and becomes deceptive, he cannot serve the Lord nor His devotees.

 

The ones who come to render devotional service are bramacharis, grhasthas, vanaprasthas and sannyasis. To the ones who do not render any devotional service, the math will not give them shelter, because they do not deserve it. One should never think: "I have rendered a lot of service to the math so I will use their car." This is the mentality of a materialist. One who is serving the math should do that without any expectation of return because everyone has come to serve the math. If anyone takes anything in return of his service to the math or serves himself, he will become a sense gratifier. When one is a guest, then he cannot demand, he should eat according to the wishes of the host. One who is busy seeking sense gratification should be asked to leave. Your ever well wisher,
Sri Siddhanta Saraswati
1. It should be the duty of a sannyasi that they should never use shoes, rather they should go everywhere on foot.

é dever de um sannyase  nunca usar sapatos e ainda assim deve se locomover a pé.

2. They should never accept service from anyone. Neither should they never ask someone to massage their body or feet with oil.

Ele não deve nunca aceitar serviço de outros. Nem deve pedir a alguém para lhe massagear o corpo ou os pés com óleo.

3. Eating nice food and eating separately from other devotees is totally forbidden.

Comer suntuosamente e separado dos outros devotos e totalmente proibido

.
..........................................
A bramachari should not desire to become a sannyasi simply in order to have greater sense gratification. The desire to dominate is detrimental to devotional service. To consider a sense enjoyer to be a sannyasi, and wanting to become a sannyasi with that ideal should be totally rejected. When one begins to enjoy his senses and becomes deceptive, he cannot serve the Lord nor His devotees.

 

The ones who come to render devotional service are bramacharis, grhasthas, vanaprasthas and sannyasis. To the ones who do not render any devotional service, the math will not give them shelter, because they do not deserve it. One should never think: "I have rendered a lot of service to the math so I will use their car." This is the mentality of a materialist. One who is serving the math should do that without any expectation of return because everyone has come to serve the math. If anyone takes anything in return of his service to the math or serves himself, he will become a sense gratifier. When one is a guest, then he cannot demand, he should eat according to the wishes of the host. One who is busy seeking sense gratification should be asked to leave. Your ever well wisher,
Sri Siddhanta Saraswati

 

 

Continuação: Chegada no Templo do Butantã

 Raga Bhumi: Rapidamente vestimos nossos saris e marcamos a  testa e outras partes do corpo com a tilaka,  pronunciando os diferentes nomes de Visnu para  proteção, com um prazer de vida nova começando.

Na sala do templo havia um altar com Panca Tattva no centro e abaixo as fotos dos acaryas na sucessão discipular, parampara. Seguíamos o padrão dado por Srila Prabhupada, não só em relação a adoração do Panca Tattva, como também, sadhanas e princípios regulativos. Os mangalas aratiks começavam com um kirtana alto na madrugada da noite, que mais tarde veio a criar um grande problema para nós: Nosso vizinho dos fundos era um advogado e irritado com o barulho começou a atirar na direção da sala do templo. Minha irmã teve que se esconder atrás do altar para não sofrer nenhum tipo de injúria. E, logo tivemos que nos mudar as pressas do Butantã para uma casa perto do Ibirapuera, onde o barulho dos aviões que passavam por acima do terraço do templo soava de forma ensurdecedora. E, mais tarde fomos para a Rua Bolívia numa casa bem maior, com espaço para todos.

No Ibirapuera a casa era de dois andares. No andar de cima havia dois quartos, praticamente colados um com o outro, que se transformaram em ashram de brahmacaris e brahmacarinis, respectivamente, e um banheiro para todos. No andar debaixo ficava a cozinha e muita vez tinha que pular por cima de devotos dormindo para chegar até ela e preparar a oferenda do mangala aratik.

No Templo do Butantã sob a guia deMahavira aprendi a cozinhar oferendas  que agradavam a Krishna, alimentos védicos à base de leite e outros, como havalah, chapatis, batata gauranga, rasagulla, dhal, arroz,etc...Também confeccionei belas cortinas para o templo e altar, e uma vyasasana para a foto de Srila Prabhupada que não tinha. Além dessas atividades cozinhava para os devotos do Templo, mantendo todos os pratos, copos e talheres bem higienizados. E mais tarde, passei a ajudar, também, na edição de livros (BBT), distribuição de livros e revistas.

No início não tínhamos laksmi para produzir os livros e ajudar nas despesas do templo. Por isso, todos as manhãs íamos coletar com uma latinha na Rua Augusta de sari e sandália havaiana. Era muito divertido e incansável porque sabíamos que era por uma causa justa e elevada. Mais tarde, passamos a coletar com incensos o que facilitou bastante. O incenso ainda não era muito conhecido no país. Era uma novidade que atraia a atenção de muitas pessoas. Hoje, tornou-se fonte de finanças para muitos devotos e viagens à Índia.

A figura dos devotos na rua começou, então, a atrair pessoas interessadas em conhecer o Templo. A sala ficava repleta de visitantes que escutavam com muito interesse as aulas do Gita dadas por diferentes devotos, incluindo o próprio Mahavira. Mahavira das era um líder muito entusiasta e conseguia com seu dinamismo e criatividade dar atenção a todos e inspirar os devotos a pregarem e participarem ativamente no Movimento missionário de Srila Prabhupada de forma muito sincera, pura e ingênua.

No início alguns devotos começaram a serem chamados por nomes espirituais por Mahavira com a finalidade de diminuir um pouco a identificação com o mundo kármico. Por ser a mais velha do grupo (23 anos) recebi o nome de Mãe Yasoda.

Naquela época, havia uma competição interessante para aqueles que distribuíssem mais livros. O vencedor teria direito a maha-prãsada. Nunca tive muita inclinação para competir com ninguém, mesmo no Movimento, humildemente falando. Meu pensamento sempre foi o seguinte: se realmente fazemos um serviço devocional para o mestre espiritual e Krishna com amor, devoção, desapego e determinação È claro que este serviço vai atrair o olhar deles para nós. Além de tudo, dependemos na misericórdia sem causa do guru e de Krishna para termos sucesso nos nossos empreendimentos, seja qual for. Krishna é a fonte de tudo, quem controla e dá inteligência para a realização de qualquer evento. Portanto, o resultado sempre dependerá de nossos esforços em realizar nosso serviço e da entrega como realizamos este serviço. Este é, então, o nosso maior prêmio.

E, assim, o Movimento prosseguiu até o momento em que recebemos a notícia que Srila Prabhupada viria ao Brasil. Todos saíram para coletar nas ruas de São Paulo e preparar o templo para sua chegada. Este dia foi inédito. Em cada esquina das ruas, utilizadas para fazer sankirtana, havia devotos e devotas em êxtase, uma felicidade incomum. Lembro-me da minha irmã, que estava de cama, saindo para coletar, conquistando o primeiro lugar. Tudo fluía de maneira mágica e os karmis cooperavam generosos e espontâneos com todos nós.

A partir daí começamos a preparar um quarto para Srila Prabhupada. Fui incumbida de organizar tudo para sua chegada: comprar lençóis, travesseiros, fronhas, toalhas, cortinas, pinturas das paredes na cor açafrão, pratos, panelas, etc... Uma senhora que sempre ajudava o Movimento cedeu alguns móveis para complementar o que fosse necessário. Todos estavam envolvidos e concentrados na limpeza e arrumação do Templo.

Srila Prabhupada iria de Miami para Caracas e de lá viria para o Brasil. Uma pessoa do Governo, no entanto, impediu que Srila Prabhupada viesse ao Brasil. E, por esta razão, Srila Prabhupada nunca veio. Mais detalhe sobre este assunto poderá ser visto com outros devotos da mesma época.

No lugar de Srila Prabhupada veio SS Hridayananda das Goswami que foi recebido calorosamente, com muita reverência e respeito por todos. Ele era muito simpático e falante. As aulas eram muitas vezes entrecortadas com filosofia e fatos engraçados. A partir daí ele passou a vir ao Brasil com mais freqüência juntamente com outros sanyasis.  Com a ajuda de Mahavira incrementou-se a pregação nas ruas, além de ser criado um departamento de tradução e publicações dos livros de Srila Prabhupada (BBT), aumentando, consideravelmente, a distribuição dessas literaturas nas ruas de São Paulo e mais tarde em todo o Brasil com o incentivo e potência do Presidente do Templo de São Paulo, na Rua Pandiá Calógeras, na Liberdade.

 

 

TEMPLO AEROPORTO

 

Vyasa Dasa: Após conseguir alguns meses mais tarde convencer meus pais que era mais feliz servindo Srila Prabhupada e que precisava estar com os devotos, e antes disso ser forçado a tentar continuar meus estudos no Colégio Padre Antonio Vieira, praticamente ao lado da casa dos meus pais, no Bairro de Botafogo no Rio de Janeiro (que supostamente seria um colégio mais brahmacari porque, na época, era exclusivo para homens - ledo engano) voltei para São Paulo.

 

Cheguei de manhã na Rodoviária da Luz, dessa vez viajei sozinho e fui direto para o Templo da Rua Afrânio Peixoto no Butantã. Para minha imensa surpresa, o templo estava vazio. Os devotos haviam se mudado para local ignorado e deles só restava a grande número de pares de sapatos abandonados na entrada dos fundos. A casa estava vazia e não podia acreditar. Sensação de abandono e frustração.

 

Posteriormente soube que os devotos tiveram que sair correndo a noite ante a violenta reclamação dos vizinhos que estava sendo obrigados a participar auditivamente do Mangala Arotik as 4:00 na manhã.

 

Sem dinheiro, por sorte tinha feito amizade com uma família que morava próximo ao Templo, de quem consegui emprestado o valor necessário a pagar minha passagem de volta para o Rio.

 

No Rio, alguns dias depois fui informado no novo endereço que estavam e voltei a viajar para São Paulo encontrando os devotos numa casa perto do aeroporto. 

 

A situação era que meio desesperadora, com a saída forçada do Templo da Rua Afrânio Peixoto, a casa perto do aeroporto era bastante inadequada. Sob o barulho dos constantes e vindas dos sobrevôos dos aviões,  enfrentávamos todo mal estar de fossas cheia, falta de água e tudo mais que se espera em razão da ocupação por parte de mais de trinta pessoas de um espaço construído para uma família de classe média de no máximo 6 pessoas.

 

Entretanto, os programas eram mantidos, nosso animo apesar de abatido era revigorado pela expectativa da programada e esperada mudança para uma casa maior. Já então as fileiras de Srila Prabhupada tinha sido engrossada por  vários novos devotos recém chegados e que tinham conhecido o templo no Butantã, entre eles lembro de Achala Prabhu, Kuladeva Prabhu, Bhakta Vamana ou Duradasa como foi iniciado,  entre muitos outros devotos e devotas, cujas faces me vem a mente, mais que fogem seus nomes.

 

Nesse tempo, a adoração do Panca Tatva ( faço aqui uma correção - Goura Nitai só foi instalado no templo da Rua Bolívia), que tinha sido iniciado no templo do Butantã, era rigorosamente mantida, assim como os diferentes arotikes e Guru Puja. Os padrões Isckon já estavam plenamente estabelecidos, e apesar do pouco espaço sabíamos que era uma situação temporária.

 

Certa vez, lembro bem, durante um Guru Puja, estava abanicando a foto de  Srila Prabhupada sentado na sua Vyasa Sana, quando de repente ao erguer meus olhos, percebi que um bhakta deixava escorrer uma lagrima. O Bhakta, freqüentador do templo, ainda de cabelos cumpridos, deixava claro sua emoção por Srila Prabhupada.

Nesse tempo, como já exaustivamente relatei, novos e rigorosos padrões tinham sido estabelecidos,  entretanto, ao ver a atitude do Bhakta não pensei duas vezes em oferecer o abanico para ele. Foi um ato espontâneo e natural, e o bhakta tendo aceitado o serviço que lhe foi oferecido não pode mais conter sua emoção, passando a visivelmente chorar, revelando sem medo seus sentimentos naturais por Srila Prabhupada.

 

Srila Prabhupada, como também já falei acima, ainda presente fisicamente no planeta, era energeticamente percebido pelos devotos, como se estivesse presente pessoalmente.

 

Após tal fato, fui severamente repreendido pelos senhores da verdade, que me perguntarão como eu tinha deixado um Karmi fazer tal serviço, próprio só de devotos.

 

Posteriormente este Bhakta se rendeu sendo iniciado com o nome de Isvara Dasa e mais tarde veio a prestar relevantes serviços a Iskcon, numa demonstração clara de que não se sabe quem está escondido por traz das circunstancias e que muitas vezes devemos deixar falar o coração não importando as regras e regulações. As vezes o coração sincero protege e dá oportunidade de se praticar vida espiritual desvinculado dos liames meramente materiais

Esse mesmo devoto, posteriormente conhecido como Isvara Maharaja, após muitos anos de serviços na BBT – Bhaktivedanta Book Trust  -  a Srila Prabhupada e seus sucessores, no final, se afastou da instituição sob circunstancias ainda não muito bem esclarecidas, mas que certamente encontram justificativa no seu coração sincero.

Esclareço que, após aquele ocorrido, que certamente ele não deve se lembrar, muitas foram as vezes que me confrontei com ele, nunca chegando a ser amigo dele, sendo inclusive oprimido pela sua aparente arrogância derivada de um assim dito "posto superior" que chegou a ocupar, mas deixo aqui meu testemunho de que trata-se de pessoa séria e merecedora de todo o meu respeito, não só por ter tido coragem de romper com a instituição, abandonando o desejo de falso prestigio, mas porque acima de tudo foi e continua sendo honesto com seus próprios sentimentos, sabendo que é melhor ser sincero e seguir o caminho da vida espiritual de forma simples de acordo com as oportunidades que se apresentam do que buscar a instituição como cabide de emprego, onde a melhor chance vem justamente das pessoas que se consegue enganar.

 

1975

 

TEMPLO RUA BOLIVIA

 

Raga Bhumi - Depois do Ibirapuera (templo perto do aeroporto) fomos para a Rua Bolívia no Bairro de Cidade Ademar. Assumi várias funções, como, por exemplo, encarregada das bhaktins e bhaktas, encarregada da cozinha e do templo, pujari, BBT, fazia a triagem de pessoas novas que queriam morar no templo, porém a mais importante era sankirtana, a distribuição dos livros de Srila Prabhupada. Todos os devotos da comunidade se empenharam de corpo e alma na distribuição das literaturas. Enquanto, a pregação nas ruas aumentava, paralelamente nas festas de domingo os devotos, também, se empenhavam seriamente em pregar para os visitantes. E muitos devotos valiosos na lilá de Srila Prabhupada se renderam ao Movimento.

As festas de domingo eram muito extáticas. Todos os devotos permaneciam no templo raspando suas cabeças, estudando, limpando o templo ou ocupando os visitantes em atividades devocionais. A prãsada era de primeira. Todo domingo tinha um grupo diferente que preparava a prãsadam para os festivais. Todas as preparações eram védicas, pois seguiam estritamente as receitas do livro de cozinha de Srila Prabhupada. De manhã adiantávamos o máximo as preparações frias e à noite as quentes Às vezes não tínhamos bhoga suficiente, mas pelo arranjo de Krishna algum visitante aparecia “do nada” trazendo leite em pó, batatas, etc... Para nós tudo era um “arranjo de Krishna”. Quando finalizávamos nossas tarefas, a cozinha era deixada impecavelmente limpa. Era uma regra adorável de se seguir.

As festas de domingo eram muito extáticas. Todos os devotos permaneciam no templo raspando suas cabeças, estudando, limpando o templo ou ocupando os visitantes em atividades devocionais. A prãsada era de primeira. Todo domingo tinha um grupo diferente que preparava a prãsadam para os festivais. Todas as preparações eram védicas, pois seguiam estritamente as receitas do livro de cozinha de Srila Prabhupada. De manhã adiantávamos o máximo as preparações frias e à noite as quentes Às vezes não tínhamos bhoga suficiente, mas algum visitante aparecia “do nada” trazendo leite em pó, batatas, etc... Para nós tudo era um “arranjo de Krishna”. Quando finalizávamos nossas tarefas, a cozinha era deixada impecavelmente limpa. Era uma regra adorável de se seguir. A maioria das pessoas que vinha ao Templo aos domingos era atraída pela limpeza ou pela prãsadam, especialmente as bolinhas doces. Quando terminávamos de preparar toda a prãsadam da festa, descíamos para o ashram e nos preparávamos para a etapa seguinte que era bhajan, aratik e pregar para os novos visitantes com o mesmo entusiasmo do dia.

Todos os finais de semana havia Hari Nama no centro da cidade. E todos os dias os devotos saíam para distribuir novos livros. Havia, inclusive, competição entre quem distribuía mais. E, desta forma muitos simpatizantes aderiram ao Movimento.

SS Hrdayananda veio inúmeras vezes ao Brasil acompanhado com diferentes sannyasis e normalmente se reunia com Mahavira no seu escritório para programarem as edições de novos livros. Um dia, ao voltar de sankirtana, fui chamada a sua presença e ele me perguntou se estava pronta para viajar para os EEUU, pois já havia outros departamentos do BBT traduzindo os livros de Srila Prabhupada na língua inglesa, espanhola e francesa. Além de tudo, possuíam computadores, o que aceleraria e facilitaria enormemente as publicações dos livros. Respondi que sim, que estava pronta para servir Srila Prabhupada em qualquer lugar do mundo.

Desta forma, cheia de esperança e expectativa me preparei para viajar. Certo dia, Mahavira me confidenciou a grande fortuna e misericórdia sem causa que teria em ir para os EEUU Srila Prabhupada costumava viajar ao redor do mundo e nos meados de julho, como sempre, ele passava por Los Angeles. Lembro-me de chamar a minha irmã para ir junto. Mas, ela não quis, infelizmente. E de acordo com seu próprio depoimento, ficaria para cuidar do altar, como pujari. Ela ainda era muito jovenzinha, mas já estava casada com o Maha Kala prabhu. Mais tarde, coletou para se juntar a nós, eu e Maha Kala nos EEUU, mas sua coleta de laksmi foi desviada para outros propósitos por um prabhu líder do templo. Hoje, este prabhu está acometido de uma doença muito grave. “Como diz a minha mãe: “Aqui se faz, aqui se paga”. Não estou mencionando isto com muito entusiasmo. Mas, esta atitude oportunista impediu minha irmã de se juntar a nós e ver Srila Prabhupada pessoalmente. Mas, como, também, é dito popularmente: “Deus escreve certo em linhas tortas”. Hoje, está bem com ajuda de Krishna e de Srila Prabhupada.

Prabhu Maha Kala, Radha Vinode prabhu e Goura Kisora já haviam ido para os EEU antes de mim. Mais tarde, Isvara prabhu também foi para lá e ficou durante algum tempo ajudando no BBT. Nessa época ele ainda era o Bhakta Enéas. Talvez, alguém possa enriquecer melhor este ponto da vida de Maharaja e sua atuação posterior no BBT.

 

Chegando em Dvaraka Mandir pude participar dos festivais mais importantes e opulentos celebrados na comunidade, especialmente aos domingos As belíssimas deidades, Sri Sri Rukmini Dvarakardisha eram adoradas com muita devoção pelos devotos locais. Lá Krisna é o rei, por isso esta opulência é justificável até hoje.

O templo era separado dos ashrams. Antes era uma igreja fechada que se transformou mais tarde num belo templo padrão para todos os outros templos em diferentes lugares do mundo. Srila Prabhupada queria que todo os devotos residissem naquele quarteirão. Depois, foram instalados diferentes departamentos, como BBT, departamento de artes, casas de grhastras, ashrams de brahmacaris e brahmacarinis.

 

Vyasa Dasa: Aqueles eram dias de muito sangue, suor e lágrimas para manter os padrões desejados e  gerar o desenvolvimento do Movimento. Os sankirtaneiros saiam diariamente para distribuir os livros de Srila Prabhupada na língua Portuguesa. Tínhamos o Sri Isopanisad, e começava a sair o primeiro Canto do Srimad Bhagavatam, um néctar.  Mãe Maha Yoguesvara, sempre muito doce, confeccionou bolsas enormes para caber pelo menos 30 (trinta) livros maiores. O Sankirtana era realizado pessoa a pessoa, meu local preferido era o Viaduto do Chá, naquele vai e vem frenético de pessoas ficávamos o dia todo. Algumas pessoas procuravam por incenso.

 

Alguns devotos se destacavam pela maior facilidade que tinham de arrecadar, pessoalmente tinha alguma dificuldade, mas tentava manter a regularidade em quantidade, talvez por isso nunca fui contemplado com Maha Prãsada que era reservado para os "administradores"  e melhores sankirtaneiros.

 

A Deidade de Goura Nitai foi instalada e houve uma grande festa. Nessa época também foi Oficializada a Iskcon que passou a ser uma pessoa jurídica e cuja Ata de Constituição e Estatutos Sociais seguem abaixo no link.

 

 

 

CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA CONSCIÊNCIA DE KRSNA DO BRASIL - ISKCON DO BRASIL

 

 

28 DE FEVEREIRO DE 1975 - CRIADA A SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA CONSCIÊNCIA DE KRSNA DO BRASIL - ISKCON DO BRASIL -  REGISTRADO EM 11 DE MARÇO DE 1975 DIANTE DO 1º OFICIO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS SOB O Nº 33723 DO LIVRO "A" Nº 24 DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

 

CÓPIA DOS ESTATUTOS SOCIAIS

 

RELAÇÃO DE MEMBROS FUNDADORES

 

 

    CARTEIRA DE MONGE OBJETIVANDO SANKIRTANA

 

 

     

            

Fora o dia que assinei como Membro Fundador, não me lembro de ter participado  de uma única Assembléia conforme era meu direito (pelo menos no papel). Lendo com atenção os Estatutos da Iskcon se pode chegar a conclusão que a mesma não foi feita para proteger os membros mais sim dar instrumentos para os "administradores" cobrarem comportamento dos  devotos e o que deveria ser um iniciativa espiritual tinha mais feições de colégio interno.

 

Acredito que, uma das razões que talvez possam explicar a forma adotada para  estrutura técnica jurídica   era o fato de que o Movimento para Consciência de Krsna, em virtude dos rígidos princípios comportamentais estabelecidos (não intoxicação etc) associados aos processos de Bhakti Yoga (aulas de Escrituras Védicas, Japa, Arotik entre outros)  era muito famoso por ajudar a recuperar jovens desajustados socialmente, fosse por problemas de drogas ou de falta de expectativa para a vida, muito comum principalmente naqueles momentos, sempre tinha um ou outro problema nesse sentido.

 

Lembro que o Movimento era uma boa a solução e muitas famílias ficavam agradecidas, vendo seus filhos adotando a espiritualidade como meta de vida.

 

Naquela época, poucas instituições aceitavam lidar com tais problemas, mas com certeza menos ainda tinha condições de trazer tantos benefícios como o Movimento Hare Krsna, que só passava do ponto de equilíbrio quando se tornava movido pelo fanatismo. Mas o certo é que quem tinha condições materiais mais favoráveis recebia tratamento diferenciado, o que gerava um sentimento de injustiça, já que a misericórdia alcançava só alguns.

 

Por outro lado, voltando aos Estatutos, o certo é o que estava no papel, pelo menos diretamente nunca interferiu na pratica na vida dos devotos.

 

Prãsada e Misericórdia sem Causa

 

 

 

O Templo da Rua Bolívia era meio afastado, tratando-se o local de um Bairro Chamado "Cidade Ademar" e a grande vantagem é que não tinha muitos vizinhos por perto e a desvantagem é que era longe de tudo.

 

Foi construído uma prasadródomo (local onde os devotos se reuniam para tomar prãsada) e outra caracteristica bem marcante dos Padrões Iskcon era PRÃSADA. O alimento era preparado dentro dos estritos princípios de limpeza brahminicos e depois eram oferecidos a Krsna.

Mãe Maha Yoguesvara

 

Memoráveis eram os subjis de berinjela com panir e arroz. Assim como as Samosas, os Puris, o Dhal, o Kitri e tantas outras preparações que simplesmente premiavam a todos os devotos. (veja centenas de receitas de prãsada nos guardiões - http://www.guardioes.com/propostaveg.htm).

 

O Alimento oferecido era um dos pilares da Bhakti Yoga. Sobre o tema recomendamos a leitura do texto "Vegetarianismo e Não Violência" de nossa autoria que busca esclarecer alguns aspectos importantes sobre o  tema e que consideramos essenciais para o entendimento do mesmo.

 

 

Naqueles dias, a Japa, os bhajans, as aulas, a prãsada e o trabalho de Sankirtana eram intercalados por constantes pequenos milagres porque além de estarmos vivendo cada dia com situações novas, sem qualquer certeza, onde por exemplo uma doença,  para aqueles que tinham condições, decretaria um retorno a casa paterna, como ocorreu comigo, quando peguei hepatite e não pude obviamente ser tratado,  no Templo e fui enviado a casas dos meus pais, para minha tortura, tanto que depois peguei uma gripe muito forte, episódio que já relatei acima e preferi ficar no templo sofrendo todas as conseqüências dessa minha escolha, a final aquela era a minha família espiritual.

 

Mas o fato é que não existia nenhuma estrutura. Os administradores, tão atentos a adoração da deidade sequer proviam uma água filtrada para os devotos, embora esses últimos e que, juntos, mantinham a continuidade de padrões de adoração das Deidades.

 

Lembro que, uma ocasião,  Mahavira, querendo entusiasmar os devotos para irem a Sankirtana fez que cada um deles mastigasse uma pimenta vermelha(do tipo dedo de moça) antes de sair.

 

Aos mesmo tempo que dependíamos exclusivamente da misericórdia de Srila Prabhupada, estávamos um pouco órfãos de estrutura, onde cada um só valia o que podia produzir e onde era esquecido que para obter o leite se precisa alimentar a Vaca. Tirar o leite do ubre (parte de trás da vaca) e esquecer a boca (parte da frente) é decretar a morte da mãe fornecedora de leite.

 

A nível de concretização de objetivos o templo ia muito bem, já tínhamos uma Kombi para pegar Bhoga nos centros de abastecimentos e algumas vezes levar os devotos a Sankirtana. Cada dia chegavam novos bhaktas, como Aradhya Prabhu, Jagad Vasi Prabhu, Gokulo Satva Dasa, o devoto que atualmente conhecemos com Maharaja Param Gati Dasa - que hoje já tem discípulos, o devoto que conhecemos com Adwaia Dasa, Paramahansa Das a quem tenho grande carinho, e assim como outros considero um amigo,  apesar de não vê-lo a muitos anos(porque sei que é uma pessoa sincera) , Visvasvandia Dasa Prabhu com quem mantive contacto e cuja última noticia que recebi é que estava em Manaus e muitos devotos e devotos cuja imagem vem a minha mente, mas não me lembro o nome, inclusive devotos argentinos, colombianos, peruanos, venezuelanos entre outros países latino Americano. Rasa Nanda Das Prabhu, ex Maharaja e seu irmão Candra Muka Das, atualmente Maharaja e ainda Maharaja Purustraya ( a quem conservo o devido respeito pela postura integra e madura - além do fato de já ter sido meu amigo pessoal e até sócio numa empresa) só vieram ao movimento por volta de 1976 no Templo da Estrada Velha da Tijuca, cuja abertura participamos também e será objeto de outro capitulo. (Se esqueci algum irmão peço desculpas e que seja misericordioso e entre em contato para me deixar corrigir a ofensa pela falta de lembrança).

 

Entre os devotos de outra nacionalidade me lembro de Prabhu Payonidhi, sempre muito humilde e bem humorado nos dava força e apoio no dia a dia de Sankirtana.
 

Muni Priya Prabhu, um devoto venezuelano muito querido, era o Comandante de Sankirtana e providenciava a manufatura de um pão para ser consumido no intervalo de sankirtana. O pão era tão nutritivo que ele chamava de "bloc", que também como era descrito devido ao quase irresistível sono advindo após o seu consumo. Vez por outra encontrava um devoto dormindo na praça.

 

O próprio Muni Priya retratava seu pão com o desenho de um devoto com olhos semicerrados e um monte de bolinhas acima da cabeça totalmente bloqueado pelo sono que a digestão do pão integral cheio de frutas secas causava - dai "bloc".

 

Guardo boas memórias daquela época. Os devotos começavam a viajar a outras cidades para fazer Sankirtana e com isso surgia nova oportunidades de divulgar o Movimento, ao mesmo tempo que se cumpria a profecia de Caitanya Mahaprabhu que os Santos Nomes seria Glorificados em cada vila e Cidade do Mundo.

 

Prabhu Durasada sempre muito extrovertido era fonte de grande satisfação pelo humor que vivia Sankirtana. Lembro que uma vez ele estava nas balças de Guarujá e uma senhora se aproximou dele é pediu que ele lê-se a mão dela em troca de uma doação em troca do livro.(os devotos sempre enganaram bem com quirologia). Duradasa Prabhu não se intimidou, pegou a sua mão esquerda, viu que a interpelante usava aliança e disse: A Senhora é casada e seu marido se veste de branco (os grihastras - homens casados - vestem branco). Espantada senhora  exclamou; Como você adivinhou que sou casada com um médico?

 

Foram muitas as situações de sankirtana que colecionávamos e depois eram objeto de piada, PEQUENOS MILAGRES, que preenchiam nosso ímpeto.

 

Falando em Milagres - As festas dos domingos eram lotadas de pessoas ávidas de saberem o que era Consciência de Krsna, e foi justamente nessa época que me lembro de ver ter realizado um milagre que me foi muito importante.

 

Nosso esforço de fazer serviço devocional era constante e tudo que fazíamos era baseada em fé - ou seja, acreditar nas palavras do Mestre Espiritual.

 

E foi justamente nessas festas de domingo que me lembro de ver a concretização pratica dos Sastras. As festas eram padrão iskcon e serviam para justamente revelar novos bhaktas. Os domingos, durante um período, era o único dia da semana que tínhamos de descanso (houve momentos que fazíamos sankirtana até domingos).

 

As Festas de Domingos eram, além de nosso dia de descanso, um dia que iríamos receber visitas convidadas durante a semana  em Sankirtana, e uma excelente oportunidade de  falar sobre a Consciência de Krsna para os Convidados que tínhamos empatia.

 

A prãsada era de fato um verdadeiro banquete, e enquanto se deliciavam com samosas, simplesmente maravilhosa e subji, cabia a cada um de nos, sankirtaneiros, receber seus convidados e falar sobre consciência de Krsna. Pessoalmente sempre tive restrições em convencer as pessoas de alguma coisa, mesmo que fosse o  melhor dos conselhos. Acreditava e ainda acredito que cada um tem o seu tempo e não adianta querer impor conceitos se a pessoa não estiver preparada.

 

Tenho que para a pessoa vir a ser bhakta dentro do templo é preciso que ser seu destino e religião não deve ser como uma opção, como um time de futebol, mas mesmo assim, naquela época me dispunha a receber e responder perguntas.

 

Nesse contexto tive oportunidade de realizar o Verso no Srimad Bhagavatam que diz; 

 

Chant 01

Chapter Two

 Divinity and Divine Service

 TEXT 7

 

vasudeve bhagavati

bhakti-yogah prayojitah

janayaty asu vairagyam

jnanam ca yad ahaitukam

 

 TRANSLATION

   By rendering devotional service unto the Personality of Godhead, Sri Krsna, one immediately acquires causeless knowledge and detachment from the world.

 Executar "Serviço Devocional" para a Suprema Personalidade de Deus a pessoa adquire de imediato conhecimento sem causa e desapego desse mundo

 Comecei a perceber que, embora não tivesse estudado determinado tema, eu inconscientemente tinha resposta para as perguntas que nem eu mesmo sabia conscientemente que tinha, realizando plenamente e de forma concreta que "por prestar serviço devocional a pessoa adquire conhecimento sem causa e desapego desse mundo".

Conhecimento sem causa, ou seja  aquele conhecimento que não teve fonte concreta prévia, conhecimento em que se tenha detido e analisado previamente de forma mental para poder depois expor.

Era como se tivesse uma vozinha me orientando o que responder e como responder dentro do contexto apropriado, e foi nesse momento que comecei a nutrir uma relação com "Caita Guru" (guru interno) que que sempre está presente no coração de todos (Bhagavad Gita 15-15 e 18-61), bastando ter algum cuidado e paciência (paz) para ouvi-lo e saber distingui-lo da mente.

A partir dessas percepções, sem pretensões, sentia que muitas realizações filosóficas vinham espontaneamente, especialmente durante as Japas.

Quando sentava e cantava com bastante concentração, tinha oportunidade de experimentar uma segurança enorme que me dava força e me esclarecia as duvidas pacificando a minha mente. Me lembro que quando surgia alguma dúvida filosófica e não obtinha dos devotos resposta satisfatória só tinha que esperar que logo clareava e minhas dúvidas eram dissipadas.

Faltava no Brasil a presença física do Mestre Espiritual e quando não encontrávamos a resposta nos livros nem nos devotos maiores. (Mahavira era um bom devoto e apesar de estar a frente tinha embasamento filosófico básico) - Mesmo quando posteriormente tive a oportunidade  de me associar diretamente com Hrdayananda Maharaja (irmão espiritual mais velho - cheguei a ser servo pessoal durante algum tempo) -  percebi que o mesmo não tinha muita paciência com nossas perguntas especialmente se pergunta não viesse acompanhada de pelo menos algum indicio da resposta desejada.

Lembramos aos eruditos e esclarecemos para os que não sabem, que a filosofia védica tem como uma das suas principais premissas que a mesma é "Acintya bedha abedha tatva" ou seja; "tudo é igual e diferente ao mesmo tempo", e esse conceito pode ser muito perigoso se não estivermos sob a guia de um Mestre Espiritual, porque através desse conceito, um demônio é um ser maligno pronto para fazer mal e ao mesmo tempo pode ser um devoto que está participando de um passatempo com Krsna.

Quantos e quantos "aspirantes a devotos" tentaram justificar e até manter seus anarthas (maus hábitos - pecados) com argumentos dúplices tomando como base o conceito acima descrito.

Aqui, mais uma vez, sinto vontade de me expressar aos que estiverem lendo este texto. A experiência que relatei acima, na verdade se tratou de uma passagem que relata  um fato pessoal, uma experiência que acredito ter vivenciado e sobre tudo  extremamente  íntima.

Certo também que o relato deve ser apreciado, não como um pretexto para mostrar algum tipo avanço espiritual, ou qualquer coisa do tipo, mas  como um reflexo direto do processo que passava naquele momento e que tenho absoluta certeza que é também experimentado por muitos outros devotos, mesmo porque sabemos, que o cantar da japa sincero e atento é natural que em algum momento gere no praticante um sentimento de profunda emoção, como uma catarse, que normalmente vem acompanhado de lágrimas e profundo respeito pelos nossos objetos de adoração (Mestre Espiritual, Vaisnavas, Radha, Krsna .....).

These three words, namely Hare, Krishna, and Rama, are the transcendental seeds of the maha-mantra. The chanting is a spiritual call for the Lord and His internal energy Hara to protect the conditioned soul. This chanting is exactly like the genuine cry of a child for its mother. Mother Hara helps the devotee achieve the grace of the Supreme Father, Hari or Krishna, and the Lord reveals Himself to the devotee who chants this mantra sincerely.

 

É a ação direta da potencia natural e intrínseca do Maha Mantra que surge independentemente do esforço do Bhakta. No Srimad Bhagavagam Canto 4, capitulo 13 verso 27,  Srila Prabhupada esclarece que mesmo que o Maha Mantra não seja cantado apropriadamente ainda assim o recitador sentira os efeitos - veja algumas cotações sobre potência independente do Maha Mantra.

Alguns Vaisnavas maiores dizem inclusive que o processo de Bhakti é o processo dos "chorões" (pessoas que estão sempre chorando), que somente chorando sinceramente se pode obter misericórdia sem causa, aquela que não pode ser adquirida como resultado de esforço pessoal ou austeridades e a única que é capaz de nos lançar no campo do serviço devocional puro ainda que por alguns breves e importantes segundos.

Todavia, por favor entendam, esses sintomas que me referi não chega nem perto de "bhava" ou êxtase, que é um degrau muito além do que talvez possamos alcançar nos próximos 40 anos ou mais de dedicação exclusiva, que, por si só,  é muito difícil, ou mesmo nessa vida.

Sob esse aspecto nem adianta querer inventar santidade, porque, nascidos no ocidente e frutos de famílias com hábitos como de comer carne e outros tão ruins quanto este e principalmente, dentro da Kali Yuga, (era das desavenças) qualquer demonstração de santidade, embora não possamos julgar, deve ser vista com reservas, especialmente prevenidos ante tantos enganadores que encontramos pelo caminho (pelos frutos conhecemos a árvore).

Não obstante também entendo  apropriado mencionar o advento de tais sintomas, nada mais que pequenos lances de espiritualidade, visando alertar aos postulantes de Bhakti, que, se ao longo do tempo de sua pratica,  não veio a experimentar tal sentimento pode ser um sinal de que pode ser que alguma coisa não esteja correta na prática (embora seja um processo individual e espontâneo).

 Ademais, sem ter aqui qualquer intenção de desestimular os candidatos a Bhakti, mesmo porque o Cantar do Maha Mantra é o único processo indicado, por Sri Caitanya Mahaprabhu, para essa era de Kali, no meu simplório ver (se é que pode interessar)  devemos cultivar honestamente humildade e respeito  por todos os Vaisnavas e praticar bhakti Yoga sempre, mesmo ante as adversidades derivadas do tempo, lugar e circunstâncias que se apresentam, e acreditem, com o passar dos anos, não são poucas.

Ademais, precisamos sempre lembrar, que apego ao resultado das nossas ações é contra indicado no Bhagavad Gita, portanto querer ser santo instantâneo ou por lado forçar que outros reconheçam santidade em devotos  que a menos de 30 anos, 40 anos atrás estavam comendo carne (mesmo que seja kacher) é uma ilusão.

O que se deve ter em mente também é que  existe um outro sentido em cultivar os hábitos Vaisnavas, que sem dúvida é o aperfeiçoamento sentido maior de todas as proposta de Ecologia, porque cuida de respeitar os seres vivos, dentro da sua diversidade de forma interna e externamente e que ao final traz direta conseqüências favorável ao meio ambiente.

Resumindo, o cultivo do Vaisnavismo é bom para esse mundo, respeitando-se o planeta que habitamos, por tornar um ser humano melhor, ensinando a  agir no modo da bondade adquirindo todas as qualidades Brahminicas descritas no Bhagavad Gita 18-42 (uma vez que o Vaisnavismo é uma Escola para Brahmanas) e ao mesmo tempo prepara o postulante para o outro mundo, em outro momento  por reconhecer que não é o corpo e quem sabe até levá-lo ao mundo espiritual, de volta ao Supremo.

 

INICIAÇÕES


As iniciações começaram a acontecer, os devotos começavam a ganhar nomes espirituais e faziam o voto de seguir os princípios exigidos para se qualificar como ser humano. Naquele primeiro momento - iniciação hari nama - o devoto aceitava o mestre espiritual. O presidente do templo mandava o nome do postulante para Srila Prabhupada e depois vinha a carta normalmente redigida pelo secretário de Srila Prabhupada por sua determinação, aceitando o compromisso e conferindo o nome.

 

Ainda hoje no Veda Base encontramos o registro de algumas cartas que vinham de Srila Prabhupada entre elas, a que trouxe os nome, que me foi dado por Srila Prabhupada (Carta), no  que pese a alteração que ocorreu depois via telefone.

 

 

 

  Relação dos Discípulos de Srila Prabhupada no Brasil

FONTE

 

 

Relação dos Discípulos de Prabhupada no Brasil

 

 

 

1976

 


[1] Empresa encarregada de publicações de livros

 

 

 

A Primeira Onda - Parte III (continuação......)

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