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Guardiões da Devoção
1973
ESPONTANEIDADE
Timidamente se reuniam nos intervalos das aulas e, no fundo da sala eles cantavam o Maha Mantra Hare Krsna. Bernadete, Costa, Fernando, cujo apelido era Cabeça e mais alguns amigos estudantes da Ginásio Costa e Silva, um Escola Municipal que fica na Rua Assunção perto da Praia de Botafogo no Rio de Janeiro, tentavam seguir o exemplo de Prahlada Maharaja.
O Templo ficava em Santa Teresa, e lá todos os domingos tinha um festival, onde era livremente distribuída prasãda.
A maior parte dos devotos do Rio de Janeiro, moravam em Botafogo, Augusto, Romen, seu primo Carlos, Cabeça e Costa moravam nas imediações da Rua Voluntários da Pátria altura da Real Grandeza. No Humaitá moravam Lúcia (Ragha Bhumi) e sua irmã Bernadete (Bhuta Mata) e eu (Vyasa). Marcio (Maha Kala) morava em Laranjeiras, Pedro Paulo (Paravioma) morava na Urca.
Na época Augusto trabalhava na Feira Hippie, que funcionava todos os domingos na Praça General Osório em Ipanema, Romen era artesão também, mas adorava pegar onda.
Luiz e Erli moravam no templo e ajudavam a pagar o aluguel junto com outros artesões da Feira Hippie.
Sridhaswarupanada tinha iniciado o trabalho de divulgação da Consciência de Krsna no Rio de Janeiro, e, antes de voltar para o Hawai, deixou como coordenador do trabalho Bhakta Russel, um devoto do Hawai que sequer iniciado era, mas tinha uma vontade impar de levar a adiante aquela incumbência. Ele, o Russel, mantinha as atividades do templo vendendo livrinhos e essenciais Indianas.
Ele tinha providenciado uma impressão de um livreto com texto de Sridhaswarupananda chamado “Amostra da Verdade Absoluta”. Era um livrinho com capa azul com Krsna em cima da Serpente Kaliya, que trazia uma explicação bem básica do Vaisnavismo, sem se preocupar com o aspecto institucional.
Na época freqüentavam o templo vários devotos, dentre os quais me lembro do Dionísio, ator que naquele momento trabalhava na peça “Hair”, musical onde se Cantava o Maha Mantra, a Ana, que a maior parte do tempo se ocupava das atividades que mais tarde identificaríamos como pujari (sacerdote da adoração) Pedro Paulo (Paravyoma Prabhu), Jorge (Jagad Bharata Prabhu), Flávio (Virocana Prabhu), os devotos acima mencionados, entre tantos outros cujas faces me vêem a mente, e que nesse momento não me lembro os nomes, mas que certamente terão seus nomes sempre associados aos primórdios de um trabalho bonito, ingênuo, despretensioso, que visava simplesmente tornar concreto a profecia de Sri Caitanya Mahaprabhu que os Santos Nomes do Senhor seriam cantados em Sankirtana em todas as cidades e vilarejos do Planeta.
Quando me aproximei daquele pequeno grupinho no final da sala, eles tinham interrompido o suave cantar do Maha Mantra Hare Krsna e estavam decorando o mantra do Mestre Espiritual – Srila Prabhupada;
NAMO OM VISNU PADAYA
KRSNA PRESTAYA BHUTALE
SRIMAT BHAKTIVEDANTA SWAMI
ITI NAMINE
Depois daquele dia, minha vida tomaria outros rumos, não sendo por acaso que antes mesmo de aprender o Maha Matra Hare Krsna, aprendi o mantra de reverencias de Srila Prabhupada, a aquém aprendi a respeitar e a honrar cada dia do resto da minha vida.
Bernadete, coleginha da mesma sala escolar desde o primário, era a mais bem informada do Grupo porque freqüentava o templo com a sua irmã Lucia. Ela me convidou para ir a festa de domingo onde se cantava e dançava.
Assim foi que no Domingo, dia 29 de novembro de 1973, meu pai me levou ao Templo – Rua Álvaro Adorno. Chegando lá podia sentir logo na entrada aquele cheiro maravilhoso de jasmim de frondoso arbusto que tinha logo na entrada do templo.
Entrando pela casa, logo no átrio principal, além de uma escada que dava acesso ao segundo andar, ingressava-se numa segunda sala onde ficava o templo.
No altar, feito de uma cristaleira ou armário de estilo antigo, sem as portas dianteiras, se via de um lado Foto de rosto de Srila Prabhupada sorrindo e caminhando entre as pessoas e de outro, uma foto do Panca Tattva, no meio um pôster grande de Radha e Krsna.
Num canto da Sala se via a inesquecível figura de Gopala, o vaqueirinho de Vrindavana, sendo os visitantes desde logo alertados do perigo de admira-lo, posto que uma vez cativado chamais seria capaz de esquece-lo.
Atrás do altar se via um grande pano de estilo indiano que dividia o espaço da sala do templo com uma varanda, onde se tinha uma bela vista que incluía ao longe o Relógio da Central do Brasil.
Ouvimos uma aula de Bhagavad Gita de Srila Prabhupada, onde um devoto traduzia o texto com os comentários de Srila Prabhupada e depois o comentário de Bhakta Russel.
Ao final da aula foi servida prasada ( e, me movimentando livremente pelo templo alcancei a varanda onde o Bhakta Pedro Paulo (Prabhu Paravyoma) se digladiava com um respeitável prato de prasada. Sua concentração era tal que desde logo afastou-me, inibindo meu intento de inquiri-lo sobre a Verdade Absoluta. Boas lembranças me trazem essa grande alma.
As aulas tinham diferentes escopos, mas normalmente eram voltadas para explicar a importância de seguir os quatro princípios, com ênfase para a não intoxicação ou uso de drogas, mas ficava claro e evidente desde logo que para ser devoto não havia concessões ou meio termo, sendo evidente respeitar os quatro princípios básicos.
1. - Não comer Carne, nem peixe, nem ovos
2.- Não se intoxicar
3. - Não praticar sexo ilícito (fora do casamento)
4. - Não praticar jogos de azar
Boa parte dos devotos antes de entrar no templo já eram vegetarianos, assim as aulas buscavam elucidar que muitos animais, tais como a vaca e os macacos também são Vegetarianos e que o princípio de não comer carne, nem peixes, nem ovos era simplesmente em razão de que Krsna não aceitava tais alimentos e que todos os alimentos deviam ser oferecidos antes de serem ingeridos.
Por isso, aprendíamos desde logo os mantras de oferecimentos, iniciando pelo mantra de Srila Prabhupada , depois Srila Bhaktisidhanta, Namo Maha Vandanaya, Namo Brahma devaya, o mantra do Panca Tattva e o Maha Mantra.
Tanto que no momento da reunião o sistema era por o alimento (normalmente frutas cortadas e leite) no altar e logo começava o coro de devotos cantando esses mantras.
A Ana, logo se postava em frente ao altar e na frente de todos, acendia um incenso, e começava a oferece-lo dando voltas em torno das fotos, enquanto dançava a seu modo, lá permanecendo até o final das orações. Depois cantava-se para Nrishingadeva.
Alguma ênfase também era dado para os princípios de não fazer sexo ilícito e se manter afastado dos jogos de azar, porque ambos tiravam a tranqüilidade necessária para pratica da vida espiritual.
Me falaram da importância de cantar os santos nomes na Japa e logo resolvi que queria ter a minha, enquanto isso era servida em pequenos pratos de papel e copos descartáveis a prasada, onde se encontrava mamão, doce de abóbora e cima dessas preparações, quase que boiando, uma generosa porção de pipoca acompanhado delicioso suco de frutas, onde se podia sentir o gosto de mamão e banana.
Mas tarde entendi o cardápio das festas de domingos. As frutas era resultado das doações feitas pelos feirantes da Cobal Humaitá, no bairro de Botafogo (justamente em frente de onde eu morava) aos domingos à tarde, com base no fato de que o mercado não funcionava as segundas feiras. A pipoca era a única preparação que se comprava.
Meu pai gostou do templo, mas jamais acreditaria que eu fosse levar tão a sério aquele movimento.
De minha parte, comprei as contas de madeira e fiz a minha primeira Japa cantando 16 vezes o Maha mantra em cada conta que fiava, a partir daí passei a cantar regularmente o Maha Mmantra nas contas da Japa.
Comecei a freqüentar o templo regularmente, com certa dificuldade em razão da minha pouca idade, na época tinha de quinze para dezesseis anos e ainda me lembro como se fosse hoje a bronca que recebi de um devoto por ter me sentado de costas para o altar. Lembro que fiquei chateado, até chocado, mas não deixei que tal fato me tira-se a concentração para entender a explicação que era dada.
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